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N.º 8 SESSÃO DE 26 DE JANEIRO DE 1877

Presidencia do exmo. sr. Marquez d'Avila e de Bolama

Secretarios - os dignos pares Visconde de Soares Franco Jayme Larcher

Pelas duas horas da tarde, tendo-se verificado a presença de 23 dignos pares, declarou o exmo. sr. presidente aberta a sessão.

Leu-se a acta da antecedente, que se considerou approvada.

Não houve correspondencia.

O sr. Presidente: - Peço ao digno par o sr. Larcher tenha a bondade de vir tomar o logar de segundo secrerio.

O sr. Miguel Osorio: - Eu desejava fazer algumas observações quando estiver presente algum dos srs. ministros.

O sr. Presidente: - Será satisfeito o digno par. Logo que estiver presente o governo, entraremos na ordem do dia, e é ao digno par que pertence a palavra.

O sr. Miguel Osorio: - Mas, antes da ordem do dia, queria eu, achando-se na camara algum dos srs. ministros, chamar a attenção de s. exa. para um assumpto que considero digno de importancia.

O sr. Presidente: - Darei a palavra ao digno par, logo que entre algum dos srs. ministros.

O sr. Larcher: - Participo a v. exa. e á camara, que não tenho podido comparecer nas sessões precedentes por incommodo de saude.

O sr. Barros e Sá: - Eu desejava requerer que v. exa. propozesse á camara se permittia que, antes de se entrar na ordem do dia que está designada, passássemos á discussão do parecer n.° 193, que já foi impresso e distribuido aos dignos pares. É urgente a materia a que elle se refere e parece-me que não terá impugnação.

Como tambem é preciso que esteja presente o governo para este parecer se discutir, peço a v. exa. queira submetter o meu requerimento á votação, logo que chegue algum dos srs. ministro.

O sr. Presidente: - Eu não tenho duvida em consultar a camara sobre o requerimento do sr. Barros e Sá; mas o que me parece mais regular é dar a palavra ao sr. Miguel Osorio, logo que esteja presente o governo, visto que s. exa. tem de continuar hoje o discurso que interrompeu hontem. Portanto, se a camara não faz observação em contrario, depois de se votar a resposta ao discurso da coroa, submetterei á discussão o parecer n.° 193.

Não sei se o digno par fica satisfeito com esta minha indicação?

O sr. Barros e Sá:- Sim, senhor.

O sr. Miguel Osorio: - É possivel que na outra casa do parlamento esteja algum dos srs. ministros.

O sr. Presidente:- Já mandei saber se estava lá algum dos srs. Ministros...

(Entrou na sala o sr. ministro da fazenda.)
O sr. Presidente: - Acha-se representado o governo.
Vamos entrar na

ORDEM no DIA

Continuação da discussão do projecto de resposta ao discurso da corôa

O sr. Presidente: - Tem a palavra o sr. Miguel Osorio para continuar o seu discurso, ou para se dirigir previamente aos srs. ministros, como ha pouco indicou.

O sr. Carlos Bento: - Peço a palavra para explicações, depois de votado o projecto.

O sr. Miguel Osorio: - Sr. presidente, eu tinha pedido a v. exa. a palavra antes da ordem do dia, estando presente algum dos membros do governo; mas como se entra agora na ordem do dia, e vou usar da palavra, por isso que me ficou reservada da sessão antecedente, rogo a v. exa. e á camara permitiam que eu trate agora primeiramente do assumpto que desejava tratar antes da ordem do dia.

Houve neste paiz um homem notabilissimo a todos os respeitos, que merecerá ás gerações vindouras a veneração que mereceu ás contemporaneas; que marcou pelas suas leis na historia liberal o ponto mais importante da nossa vida politica; homem a quem se devem as reformas mais uteis que se fizeram, as que, por assim dizer, radiaram o systema representativo em Portugal. A taes meritos reunia a mais insigne modéstia, como seria propria dos antigos gregos ou dos romanos nos seus periodos aureos. Já a camara vê, sr. presidente, que me refiro a Mousinho da Silveira. Sabe v. exa. que este homem morreu pobre e comprometteu o seu escasso patrimonio em serviço da patria; tão pobre era que nem póde completar a educação de seu filho.

Não quero trazer á memoria que este deixou de corresponder aos desejos de seu pae. Jaz morto. A terra lhe seja leve. Expiou algumas graves faltas que commetteu. Terminou seus dias na miseria e completamente cego.

Quando ha dois mezes estive em Paris, soube que elle estava cego, acompanhando sua mãe entrevada e em extremo definhada no leito da dor, e que se achavam ás sopas de um honrado portuguez. Tristissima situação! Não esmolavam, porque um soldado de leva, que tinha servido o sr. D. Miguel, e que com o trabalho, com o esforço da sua grande vontade e immensa probidade estabeleceu em Paris um hotel, que é conhecido de todos os portuguezes pela bizarria do seu proprietario em receber os necessitados e prestar-lhes auxilio, repartindo e compartilhando alguma fortuna, que adquiriu, com os pobres. Este honrado homem, modesto em tudo, é tambem modesto no nome, chama-se apenas José Domingues. Vive ainda, conheci-o em Paris, e honro-me de lhe estender a mão.

Eis, sr. presidente, a situação politica e romantica em que se acha aquella triste viuva. A mulher de um dos mais distinctos liberaes d'este paiz, a viuva de um dos caracteres mais honestos, que marcam um periodo verdadeiramente notavel na historia das nossas instituições, tem sido mantida por um honrado soldado de leva, sustentada por caridade por um honrado adversario politico. A viuva do notavel estadista, vivendo da caridade!

Não sei, sr. presidente, se ha uma lei especial que regule as pensões, ignoro mesmo se esta viuva recebe algum soccorro, o que posso affiançar é que ella e seu filho, que acaba de fallecer, viviam em Paris nas condições indicadas.

É dever nosso saber a origem desta miseria, e não deixar que a viuva de um tão notavel estadista, respeitado por todos, esteja lutando com a miseria ao canto de um hotel, mantida pela caridade!

Ha em Paris um cavalheiro, que nos representa, que
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