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SESSÃO N.° 4 DE 20 DE OUTUBRO DE 1894 45

revela, da parte do governo muita incúria, negligencia indesculpável, desmazelo e imprevidência sem limites.

E as faltas e aos erros d'este governo que Lourenço Marques se encontra na triste e desgraçada situação que os jornaes estrangeiros descrevem e que todos nós já conhecemos. (Apoiados.)

O sr. Hintze Ribeiro sabe perfeitamente a historia de Lourenço Marques, não ignora a importância e valor d aquella nossa colonia, nem o quanto ella é cobiçada pelas nações estrangeiras. S ex. a de lembrar-se ainda dos esforços da Inglaterra para a obter, e como o presidente da Republica Franceza decidiu o pleito a nosso favor. S. ex. não deve ignorar tambem, que apesar d’aquella sentença a Inglaterra ainda continua com as suas pretensões dispondo as cousas para n'um futuro mais ou menos remotos realisar os seus sonhos dourados. Alem d’isso ha a questão do caminho de ferro que está pendente da sentença do tribunal arbitral, questão que nos últimos seis mezes se tem agravado sem o governo se ter preparado para o seu desenlace. Tudo isto, para um governo que tomasse a serio os interesses de Portugal seria incentivo bastante para o aguiIhoar a tomar providencias idóneas a fim de conjurar a tempestade que está imminente. Salta aos olhos de toda a gente que era indispensável e de alta conveniência ter em Lourenço Marques sempre uma guarnição importante c imponente que podesse defender a cidade de qualquer assalto imprevisto e impor respeito aos cafres.

Custa a acreditar que da parte do governo houvesse tanto desmazelo e tão grande imprevidência. É por este desmazelo e imprevidência, que Lourenço Marques está n uma situação angustiosa e verdadeiramente critica. Se formos a acreditar as noticias publicadas nos jornaes estrangeiros, vemos que aquella cidade está ameaçada de ser tomada pelos cafres.

Não creio que assim aconteça, nem sequer me passa pela imaginação similhante hypothèse, porque nas veias dos briosos cidadãos que defendem Lourenço Marques corre ainda o sangue portuguez, e porisso continuarão com galhardia a manter as tradições gloriosas dos nossos avós. Tanto elles como a expedição que partiu (e espero em Deus que chegará muito a tempo), farão tremular n’aquellas paragens inhospitas a bandeira das quinas sempre altiva e gloriosa,, e manterão o brio e a dignidade de Portugal.

Estou bem certo de que a expedição que ha pouco partiu ha de praticar prodígios de valor, se entrar em combate. Em todo o caso afigura-se-me de péssimo effeito este systema de mandar reforços por doses homœpathicas. E sacrificar homens inutilmente e perder sommas avultadas. Ha economias que são desperdícios.,No caso sujeito e necêssario uma expedição a valer, uma expedição que atinja o fim, custe o que custar. Despezas feitas acertadamente dão resultado, as feitas ás cegas só dão perda.

Louvo, e muito, a partida da expedição, mas é necêssario que seja seguida já de outra que a complete, e creio bem, repito, que os nossos soldados hão de manter intacta a dignidade e o prestigio do nome portuguez.

Sr. presidente, esta questão, não é uma questão politica, e uma questão nacional, é de todos nós. O dever, pois, do governo é acercar-se da representação nacional e juntamente com ella escolher os meios que se julguem mais conducentes ao fim que se têem em vista, salvar as colónias, firmar o nosso direito e dominio, e manter a honra e dignidade de Portugal.

È necesario que o governo esteja preparado, e se o não está que se prepare quanto antes para combater os manejos dos especuladores e dos que intrigam para levar a desordem e a sublevação aos povos que reconheciam a nossa soberania e que têem sido fieis e submissos até agora.

Lourenço Marques carece de forças e de forças importantes. Embora seja grande o sacrifício é necêssario fazel-o, e ter ali uma guarnição respeitável, não só para a Inglaterra reconhecer que a nossa occupação é séria e effectiva, mas para o gentio nos temer e respeitar.

Sr. presidente, se as colonias se não podem sustentar, vendam-nas. Vale mais isso do que estarmos a ser todos os dias espoliados, aviltados e roubados sem termos 0 mais minimo lucro nem vantagem.

Grande parte do nosso território em Africa tem-nos sido roubado, e se assim continuar cm breve ficaremos despojados de tudo que tanto sangue portuguez custou.

Em vista das considerações que acabo de fazer, peço ao sr. presidente conselho que diga clara, precisa, e francamente ao paiz e ao parlamento qual é actualmente a verdadeira situação de Lourenço Marques.

É preciso por todos os meios, e embora á custa de grandes sacrifícios, que se mantenha e sustente o prestigio e o bom nome de Portugal n’aquellas paragens longínquas, que tão grandes provações nos custaram.

Acuda o governo, se ainda é tempo, com providencias acertadas aos resultados funestos da sua imprevidência e desmazelo.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Hintze Ribeiro): — O sr. ministro da marinha não póde hoje comparecer, mas como já disse, virá em uma das próximas sessões para responder aos dignos pares que têem mostrado desejos de lhe dirigir perguntas, e então o digno par, que me precedeu, poderá obter esclarecimentos completos com respeito aos factos succedidos na provincia de S. Thomé.

O digno par, todavia, referiu-se ainda á questão de Lourenço Marques, e eu, desde o primeiro dia em que n’esta camara se fallou a tal respeito, tenho sido absoluta e escrupulosamento exacto nas minhas declarações.

Então eu disse á camara com inteira verdade o que havia a respeito de Lourenço Marques, e, com a mesma verdade, posso agora affirmar ao digno par que até hontem, 19, a situação era precisamente a mesma.

O telegramma de hontem recebido pelo governo diz o seguinte:

«Tudo na mesma; soldados, funccionarios, voluntários, todos os dias têem sido e continuarão empregados; defendemos todo contorno cidade cerca tres mil metros e ainda segunda defeza praça principal. Tem-se lançado mão todos recursos.»

Esta é a situação da cidade.

Até agora não houve ataque directo á cidade. Houve uma tentativa de ataque a uma fabrica nas proximidades de Lourenço Marques, mas o governo tem envidado todos os esforços, tem concentrado todos os meios de acção para fortificar a cidade e repellir quaesquer ataques.

Creia o digno par que, como já disse á camara, se alguma noticia grave demonstrar ao governo que, alem da expedição que partiu, são necessários outros reforços, o governo está-se preparando para essa eventualidade.

Póde o digno par ter a certeza de que o governo não demora esta questão um unico dia, uma hora mesmo, nem um minuto sequer.

O governo n’este assumpto viu com grande satisfação a unanimidade de voto na camara, para que se assegurasse o dominio de Portugal n’aquellas paragens. Eu tenho a certeza que essa unanimidade existe e existirá, porque a verdade é que atravessamos uma conjunctura em que é necêssario congregar todos os esforços para que o districto de Lourenço Marques saia da difficil situação em que se encontra.

Posso tambem asseverar ao digno par que se alguma cousa houver que altere o presente estado de cousas, com a mesma franqueza e com a mesma verdade o virei dizer á camara, não só por ser esse o meu dever, mas tambem para allivio das minhas responsabilidades.

(S. ex.a não reviu)

O sr. Vaz Preto: — Acabo de ouvir as explicações do sr. presidente do conselho, mas, o que para mim é ponto