O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

206 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

convite, mostrou que não tinha desejo de ser ministro. Tinha-me esquecido de mencionar este facto entre as rasões da exoneração d'aquelle distincto cavalheiro e da sua conservação no governo geral da India.

(S. exa.- não reviu.)

O sr. José Luciano de Castro: - Pelas declarações do sr. presidente do conselho vemos que o sr. Vasco Guedes deixou de fazer parte do governo, não só para se attender as representações que vieram da India, como tambem por que o desejo de s. exa. era não ser ministro da guerra.

Esta explicação do sr. presidente do conselho auctorisa-me a dirigir-lhe uma pergunta, e é a seguinte.

O sr. Vasco Guedes foi nomeado ministro sem o terem consultado.

Eu não desejo, como já disse, suscitar um debate politico, mas desde que o sr. presidente do conselho, alem das rasões que primeiramente referiu, para a exoneração do sr. Vasco Guedes, acrescenta agora como mais uma rasão que o sr. Vasco Guedes mostrou desejos de não entrar no ministerio, pergunto se este cavalheiro foi nomeado ministro sem o terem previamente consultado?

Não quero n'este momento crear difficuldades ao governo, e provoco uma resposta para que ella fique archivada nos registos parlamentares.

(S. exa. não reviu.)

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Antonio de Serpa): - O digno par tem muito empenho em que a resposta á pergunta que me dirigiu fique archivada nos registos parlamentares, e eu vou immediatamente satisfazer o desejo de s. exa., dizendo que sr. Vasco Guedes foi nomeado ministro da guerra sem ser previamente consultado, o que aliás, não é caso novo. Eu proprio já fui nomeado ministro, sem se saber se eu accedia ou não a fazer parte do governo.

E creio ter satisfeito o desejo do digno par.

(S. exa. não reviu.)

O sr. Thomás Ribeiro: - Sr. presidente, não serei eu que perturbe a paz que reina na Santa Igreja, visto que estamos todos serenos e concordes.

A febre politica, por ora, está, se é que esta, na camara dos senhores deputados, e digo se é que está, porque raras vezes apparecem agora no meu paiz as febres politicas.

Nós encontrâmo-nos diante dos maiores attentados contra a constituição, contra a lei, contra tudo que constituia n, boa tradição do parlamento portuguez, e sanccionâmos tudo, talvez porque se comprehende que o que vier depois poderá ser muito peior do que aquillo que actualmente possuimos.

E este o conceito do paiz, é este o conceito d'esse infeliz, que julga ter aqui os seus procuradores, quando a final tem apenas os seus curadores.

O infeliz está interdicto, está sujeito a tutela, e nós somos os seus curadores.

Eu sou intimo amigo do sr. presidente do conselho.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Antonio Serpa): - Apoiado.

O Orador: -... e todas as vezes que posso declaro que sou amigo de s. exa., que sempre o fui...

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Antonio Serpa): - Apoiado.

O Orador:-... e que tenho pelo seu talento a maxima consideração, e por isto custa-me ver a sua cadeira, de ministro transformada em banco de réus.

S. exa. está ali entre os seus collegas para ser julgado, e muito peior estava hontem na camara dos senhores depufados.

Não assisti hontem á sessão da outra, casa do parlamento, mas consta-me que alguem disse ali que nós não podemos sequer absolver o governo, e é esta tambem a minha convicção profundissima.

A verdade, sr. presidente, é que se nós absolvemos o governo, ferimos gravemente a, lei fundamental do estado.

Eu já sei que a minha opinião não prevalece, sei que as maiorias é que governam, e qualquer que seja a justiça da nossa opinião, a verdade é que estamos sujeitos ao vereditum dos mais fortes, que são como os taes sarracenos que vieram e moeram a pau os christãos, porque eram mais.

Eu não desejo por forma alguma molestar os meus colegas, nem o governo do meu paiz. O que tem de ser ha de ser.

Actualmente tenho apenas uma aspiração, que me parece ser a unica que póde ser conveniente ao governo do meu paiz; e de resto, não rejo que possamos navegar em boas aguas e chegar a bom porto, pela maneira porque vamos correndo.

Se me perguntarem se amanhã se póde refundir ou reformar a maneira de governar, não sei dizel-o.

Desde o momento em que desprezamos a lei fundamental, o alicerce da nossa sociedade, o melhor era arranjar outro edificio, construil-o sobre outras bases. Mas estarmos assim, sem saber-mos o que será amanhã; desde que não temos garantias, e estamos só á vontade de quem governa, não é realmente para estarmos muito socegados senão pela consciencia que ternos de que o sr. presidente do conselho e os seus collegas são homens de bem.

A não ser isto, não ha garantia nenhuma para nós, nem para os que estamos aqui a discretear, nem paro os que estão lá fora a ser ludibriados.

Ha muito que entre nós se póde observar a successiva depressão politica e que- de anno para anno vamos descendo constantemente.

Cada dia, cada sessão que vem nós vamos mudando, cedendo, transigindo e perdendo sempre.

Não direi como academia, como jogo°, florestaes, porque esses sim, cada dia apparecem mais florentes, não faltam brilhantes talentos, cada dia apparecem mais, e mais distinctos discutidores; e realmente sob este ponto de vista nós não temos rasão de queixa; mas quanto ao que é pratico e util, cada dia estamos perdendo terreno, e não sei onde chegaremos.

Eu vejo n'este documento que aqui foi apresentado pelo governo, ou por outra que foi lido perante os corpos legislativos por Sua Magestade El-Rei, o que basta para eu ter por elle todas as considerações possiveis; vejo n'elle que, uma de duas: ou o governo não quiz ter consideração pelos corpos legislativos, dizendo-lhes alguma cousa de util e bom, ou teve receio de o dizer, porque o que aqui está é perfeitamente nada.

O que aqui está é uma revista, à vol d'oisean_, que nos não indica sequer um ponto preciso e determinado.

Sr. presidente, eu desejo votar tambem sem discussão, pedindo apenas para apresentar um pequeno aditamento ao discurso da coroa; não pretendo discutir, nem vejo muito o que.

O que eu aqui vejo são lamentações, ou por outra uma amostra de lamentações.

A promessa de que se ha de occorrer ao levantamento de impostos e ao aperfeiçoamento de fontes de receita nem uma palavra!

N'este tristissimo estado em que nos achamos, nem uma só e insignificante economia!

Ora, se com effeito o governo progressista commetteu tantos erros de administração, se elevou tanto a despeza que se fazia nas secretarias, reformando empregados, nomeando empregados, nomeando addidos e supplentes, e se o actual governo, que não duvidou lançar em rosto, nos seus. documentos officiaes, ao partido partido progressista, que eu não venho defender, que tem aqui excellentes advogados, esses erros porque não vem muito simplesmente dizer ao paiz:

Eu vou emendar o que se fez, tirando do orçamento as despezas que se fizeram a mais?!

Pois não era este o dever do governo?