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SESSÃO N.° 9 DE 25 DE MAIO DE 1908 15

Depois de apanhados lavam-se muito bem lavadinhos (Risos), cozem-se em agua com bastante sal e oregos e obtem-se, como já disse, um petisco de primeira ordem.

Só pode amesquinhar os caracoe quem nunca os tenha comido.

Sr. Presidente: é facil amesquinhar os partidos, como o é amesquinhar qualquer cousa; porem é impossivel mostrar que os dois grandes partidos monarchicos não constituem duas grandes forças politicas que sustentam a instituições.

Nesses partidos, que não valem dois caracoes, estão os homens de mais valor do país, de mais força, de mais prestigio.

São apoiados pela grande força da nação.

A quem sabe mais do que eu, pergunto: como será possivel governar o país com estes individuos que não gostam de caracoes?

Como se poderá governar um pais sem o apoio de qualquer partido?

A Camara dos Senhores Deputados ainda seria possivel arranjá-la á sua feição, usando processos violentos, e que muitas vezes tem sido empregado, com uma lei bem preparada, e ainda assim duvido; mas esta dos Digno Pares? Reformavam-na? Modificavam-na?

Qual era o processo?

Só se a ideia fosse de se fazer logo ditadura para nos exterminar a todos. Do contrario não percebo como os individuos fora do partido se lembram governar sem o apoio de qualquer d'elles.

Duvido que o conseguissem.

É uma utopia semelhante aspiração. Mas se tal succedesse, para desgraça de todos nós, lembro os exemplos que já citei.

Nada ha de peor do que ferir quaesquer individuos ou quaesquer entidades, nos seus interesses, no seu orgulho e na sua dignidade. Ponderem bem os meus illustres collegas da sorte que nos espera se os individuos que não gostam de caracoes chegassem um dia a governar. A Camara dos Pares estava ameaçada de exterminio.

O Sr. Luciano Monteiro: - Isso seria acreditar que foram os caracoes que tiveram a culpa de todas as cousas.

O Orador: - Os caracoes defenderam lealmente e patrioticamente o seu Governo, com uma isenção, com um desinteresse digno de registo e como não ha memoria.

Só o bem do país nos impulsionou. Deram-lhe a mais efficaz cooperação.

O Sr. Luciano Monteiro: - Essa cooperação foi agradecida tão intensamente, tão intimamente, que numa cri se ministerial foram offerecidas quatro pastas aos caracoes progressistas, que as recusaram.

O Orador: - O partido progressista recusou os Ministros que lhe offereciam, como recusou os governadores civis, Pares do Reino, etc., quando se constituiu o Ministerio do Sr. João Franco.

Era mais elevado o seu intento.

O illustre chefe do partido progressista declarou que o partido não que na nem postas nem pastas; que contemplasse o Sr. João Franco os seu amigos e só lhe daria pessoas para desempenhar quaesquer cargos quando S. Exa. as não tivesse no seu partido.

Parece-me que não pode haver maior isenção, a que se não estava muito acostumado na politica portuguesa.

Eu estou habituado a responder V. Exa., Sr. Luciano Monteiro, com muita cortesia.

O partido progressista não é este caracol a que V. Exa. se refere. Sou amigo de V. Exa., não desejo quebrar as relações de amizade que nos ligam ha muitos annos e, se V. Exa. se melindra com as minhas palavras, não continuo.

O meu fim é relatar os factos como elles se passaram, sem acrimonia, seu azedume e para os quaes fui levado pelas observações de V. Exa.

O partido progressista, ou este caracol, desinteressadamente, logo no principio do Governo disse: "nem pastas, nem postas!" e cumpriu honradamente as suas declarações.

Nós estavamos alliados e não fundidos, e alliados continuariamos até o fim, se o Governo tivesse procedido como procedeu até a dissolução da Camara dos Senhores Deputados, sem causa ou motivo que justificasse tal medida e sem nada dizer ao seu alliado que tão nobremente o tinha auxiliado. Quando nos constou que o Sr. João Franco vinha pedir Ministros ao partido progressista eu disse logo que não lh'os deviam dar porque isso era transformar a alliança numa fusão.

É possivel que essa fusão se viesse a fazer mais tarde, mas nós entendemos que era cedo.

Uma noite disse eu, em casa do meu chefe, que não se podia nem devia fornecer Ministros porque estavamos alliados e não fundidos e parecia que nos pediam Ministros para nos absorverem, cousa que o partido progressista não queria.

O Sr. Luciano Monteiro: - Nunca se viu a parte menor absorver a maior.

O Orador: - Nós eramos em maior numero, é facto, mas V. Exas. estavam
em maior força porque estavam no Governo, tinham o poder na mão.

Pois então o Sr. João Franco dirige-se ao chefe do partido progressista e pede-lhe que lhe dê os Ministros que elle julgava necessitar - fulano para a pasta de tal, sicrano para a de tal e beltrano para outra - e nem ao menos deu ao chefe do meu partido a liberdade de os indicar?!...

Esses, ou nenhuns! Era uma imposição formal, categorica. S. Exa. queria já impor-se ao partido progressista, não lhe dando sequer a faculdade de escolher as pessoas que haviam de ser competentissimas para sobraçarem as pastas dos Ministros que saiam.

O Sr. Luciano Monteiro: - Isso ignorava eu.

O Orador: - Isto que digo é a mais absoluta verdade.

O Sr. João Franco esteve em casa do meu chefe em conferencia que durou mais de 5 horas, pedindo nessa occasião, para Ministros, os Srs. Antonio Cabral, Moreira Junior e Conde de Penha Garcia. As pastas eram respectivamente a da Justiça, Fazenda e Estrangeiros.

Dois dos solicitados, principalmente, oppuseram uma tenaz resistencia: o Sr. Antonio Cabral, porque o seu estado de saude lhe não permittia; o Sr. Moreira Junior, por outras circunstancias decerto muito attendiveis.

O Sr. Conde de Penha Garcia não sei que razões apresentou. E houve quem dissesse - mas, Sr. João Franco, dentro do partido progressista não havia mais gente para ser Ministro? "Havia, não duvido, mas eu só quero estes, ou nenhuns"! Era o autoritarismo levado ao extremo.

O Sr. João Arroyo: - Então o partido progressista não recusou a sua cooperação ao Governo regenerador liberal, o que não admittiu foi a indicação de nomes.

O Orador: - Exactamente. O partido progressista, estando alliado com o Governo do Sr. João Franco, não desejava quebrar essa alliança e desejava que esse Governo continuasse; entendia que, visto que elle dizia que não podia governar sem o auxilio do partido progressista, devia auxiliá-lo dentro dos limites possiveis, compativeis som a sua dignidade. Não queria recusar os meios ao Sr. João Franco de continuar a governar.

Mas mesmo por outra razão nós percebemos que nesta exigencia havia pressa de nos absorver. Nós não queriamos fusão. Havia de fazer-se, naturalmente, mais tarde essa fusão, com