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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 29

immediatamente ao nosso ministro em Hespanha um telegramma no sentido que me mandava. Ora, se é certo que o ministro dos negocios estrangeiros não é ministro da augusta personagem de que se trata, tambem é certo que o actual ministro dos negocios estrangeiros tem por essa augusta personagem, de quem teve a honra de ser ministro, toda a deferencia que é possivel ter; e então elle quiz tomar sobre si a responsabilidade pessoal de transmittir aquelle telegrama tal qual como lhe foi mandado. E tanto foi esta uma resolução pessoal que a camara tem uma prova disso na declaração que faz aqui o meu collega, o sr. conde de Samodães, quando respondendo ao digno par disse, que não sabia nada d'este negocio, porque não fôra tratado em conselho de ministros. O facto de o ministro dos negocios estrangeiros ter tomado sobre si toda a responsabilidade d'esta remessa, póde ou não merecer censura, o que não disputo.

Em Madrid foi o telegramma considerado como offensivo para a Hespanha por duas entidades politicas, uma d'estas era o partido republicano, que aproveitou a occasião para defender as suas doutrinas, depreciando o systema monarchico, e tambem a augusta personagem que julgava que a maioria queria para rei de Hespanha; e a outra era uma parte da maioria que ficou descontente, porque a declaração d'El-Rei destruia a baseado seu projecto.

Logo que isto se soube aqui, dirigi para Madrid outro telegramma, dizendo que era completamente erronea aquella apreciação, e até absurda, porque não se podia suppor que a alta personagem de que se tratava, tão notavel pela sua cortezia, pelo seu juizo e pela sua experiencia, podesse jamais pensar em transmittir uma resposta offensiva para quem se propunha dar-lhe uma demonstração da maior deferencia, pedindo-lhe que aceitasse a candidatura ao throno de uma das nações mais illustres do mundo.

Entretanto, em Madrid havia acontecido que um dos membros do poder executivo, quando o nosso ministro lhe fez verbalmente a communicação do telegramma, pediu que esta se reduzisse a escripta, e o ministro portuguez assim o fez, o que eu approvei; a esta communicação seguiu-se uma nota em resposta do ministro destado, e logo a replica do ministro de Portugal.

Foi por este tempo que Sua Magesiade dirigiu uma carta ao sr. conde d'Álte, na qual se referia ao telegramma e á muita consideração que tinha pela nação hespanhola.

Eu tenho uma copia d'essa carta, mas não pedi a Sua Magestade para á apresentar. Direi, porém, que a communicação ao governo de Hespanha do conteudo d'esta carta, e por elle exposto ao congresso constituinte, poz um termo satisfactorio a uma questão levantada pela erronea apreciação do telegramma.

O governo hespanhol ficou plenamente satisfeito com as explicações dadas, e mandou ao sr. Mazo, que então era seu ministro em Lisboa, que communicasse que o seu governo estava convencido das boas intenções do governo portuguez, e procuraria igualmente corresponder-lhe sempre com a mesma cordialidade.

O que deixo dito parece-me sufficiente para explicar o que se passou, e creio que satisfará ao digno par; entretanto, se s. exa. não se contentar, e quizer mais explicações, poderei ainda acrescentar alguma cousa; mas, por considerações obvias, parecia-me melhor não entrar em maiores desenvolvimentos, que talvez podessem suscitar novas susceptibilidades, quando isto é um negocio findo e uma questão acabada satisfactoriamente para ambas as partes (apoiados).

O sr. Casal Ribeiro: - Fazendo justiça á generosidade do illustre general que acabava de fallar, querendo tomar para si à responsabilidade do acto, desviando-a dos seus collegas, disse que para assegurar a independencia do paiz não bastava só o armamento nacional; mister era tambem a organisação das finanças e da administração. Discursou largamente sobre este ponto e a candidatura de El-Rei o Senhor D. Fernando, idéa que ainda vigora e continuará a vigorar, desenvolvendo o intuito d'ella. Apreciando a deliberação d'este augusto principe, deliberação leal e honrosa, entende que o governo deve ter, com relação a negocio tão importante para o paiz, mais acção attenta e preexistente, mas sem rudeza na fórma, mantendo as mais cordiaes relações com o paiz vizinho, devendo pôr-se o nosso governo na altura da sua missão, não se contentando com faceis popularidades; pois do contrario está preparando o seu epitaphio nas ruinas de uma nação que merece melhor sorte.

O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros: - Não me proponho fazer observação alguma sobre o que o digno par acaba de expor no seu eloquente discurso. Levanto-me unicamente para confirmar o que disse ha pouco; e é que o governo portuguez não tomou parte alguma na questão das chamadas candidaturas, tendo-se desde o principio abstido completamente de qualquer ingerencia directa ou indirecta, publica ou secreta, nas cousas de Hespanha. Emquanto á communicação feita em telegramma disse, e repito, que o governo não tem nada com isso; e que o marquez de Sá é que quiz tomar a responsabilidade d'esse facto exclusivamente sobre si. E acrescentarei que em circumstancias identicas eu repetiria e faria a mesma cousa.

Agora, emquanto ás considerações que fez o digno par, direi que com algumas das suas proposições não só esta camara, mas todos os portuguezes, estão certamente de accordo; ácerca porem de outras tenho, uma opinião diversa da do digno par. E como, infelizmente, sou membro do governo, quando houver occasião em que careça de tomar uma resolução, hei de proceder da maneira que julgar mais conveniente.

O sr. Presidente: - Já deu a hora, e portanto não se póde continuar a sessão sem uma votação da camara.

O sr. Marquez de Vallada: - Visto já ter dado a hora, pedia a v. exa. que d'esse sessão para depois de ámanhã, em consequencia do sr. ministro dos negocios estrangeiros não poder vir aqui ámanhã, por ser dia de despacho (apoiados).

O sr. Presidente: - Terá logar, a primeira sessão na proxima sexta feira, sendo a ordem do dia a continuação da de hoje.

Está levantada a sessão.

Eram cinco horas da tarde.

Relação dos dignos pares que estiveram presentes na sessão de 19 de maio de 1869

Os exmos. srs.: Condes, de Lavradio, de Castro; Duque de Palmella; Marquezes, de Fronteira, de Ficalho, de Niza, de Sá da Bandeira, de Vallada; Condes, das Alcáçovas, dAvila, da Azinhaga, de Cabral, de Fonte Nova, de Fornos, de Sobral, de Thomar; Viscondes, de Algés, de Condeixa, de Fonte Arcada, de Seabra, de Soares Franco, da Vargem da Ordem, de Villa Maior; Barões, de S. Pedro, de Villa Nova de Foscôa; D. Antonio José de Mello, Costa Lobo, Rebello de Carvalho, Barreiros, Pereira de Magalhães, Silva Ferrão, Margiochi, Larcher, Braamcamp, Pinto Bastos, Reis e Vasconcellos, Lourenço da Luz, Baldy, Casal Ribeiro, Rebello da Silva, Fernandes Thomás, Ferrer.

1:806 - IMPRESSA NACIONAL - 1869