118 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES NO REINO
custo que são dadas sem que haja lei que as justifique ou determine.
Requeiro igualmente que, pelo ministerio das obras publicas, se declare nessa nota se as gratificações e ajudas de custo, supprimidas pelo ministerio transacto, foram de novo restabelecidas. = Vaz Preto.
O sr. Presidente: - Os dignos pares que approvam que se expeça ao governo este requerimento, tenham a bondade de levantar-se.
Foi approvado.
O sr. Conde do Casal Ribeiro: - Peço licença para depositar directamente nas honradas mãos de v. exa., sr. presidente, as notas do discurso que ha poucos dias tive a honra de proferir n'esta casa.
Não é isto um acto de ostentação, porque sei que não mereço por esse discurso o elogio que a demasiada benevolencia do sr. marquez de Sabugosa me dirigiu; sei apenas que cumpri um dever penosissimo, que me doe ainda, mas que, emfim, está cumprido.
Mando, pois, a v. exa. as notas do meu discurso. Tive muito trabalho em o refazer, porque não pude emendar as notas que me foram enviadas da repartição competente, e que o acompanham agora, para que v. exa., se o julgar conveniente, em qualquer momento de descanso dos numerosos trabalhos que pesam sobre a sua responsabilidade, as examine e possa comparar com as que vão aqui escriptas para serem publicadas.
Eu, todos nós entregamos á decisão de v. exa., que é sempre conforme com os principios da rectidão, (Apoiados.) o tomar qualquer providencia a este respeito.
Creio que é urgente melhorar um serviço que não está perfeito (Apoiados.), do qual muitos dos meus collegas se têem queixado, e que não póde continuar no estado em que se acha (Apoiados.) Não quero fazer censura a ninguem no que digo, mesmo porque essa censura poderia abranger aquelles que não a merecem. Das notas que tenho presentes e de outras que me têem sido enviadas noutras occasiões, se vê que ha n'esta casa tachygraphos bons, e outros menos correctos, os quaes poderão vir a aperfeiçoar-se, e ser attendidos conforme o seu merito nas promoções que hajam de fazer-se, quando v. exa. julgue opportuno; mas que por emquanto não desempenham o serviço tão bem como outros. A verdade é que ha quartos em que quasi não é preciso tocar; mas ha outros com os quaes não succede o mesmo, como se reconhece em vista do estado em que estas notas se acham. Encontram-se aqui cousas que eu não disse; estão riscadas palavras que proferi; emfim v. exa. examinará estes factos e procederá como for de justiça, conforme costuma.
Sr. presidente, não dou importancia tal aos extractos dos meus discursos estampados no Diario das côrtes que vá logo examinal-os assim que recebo o mesmo Diario, por isso foi só agora que vi o extracto que publicaram de alguma cousa dita por mim n'uma das passadas sessões d'esta camara. Protesto contra esse extracto, no qual se lê o seguinte:
"... O conde do Casal Ribeiro... concluiu pedindo ao sr. marquez de Sabugosa serenidade.""
Isto não é exacto, ninguem me poderia ouvir dizer similhante cousa. Não fiz advertencia alguma ao sr. marquez de Sabugosa. Seria menos conveniente, seria até falta de educação dirigir-me aos meus collegas para os advertir. Só a v. exa. compete chamar á ordem qualquer membro d'esta camara quando porventura ha rasão para o fazer. Eu apenas fiz um pedido a um e a outro lado da camara, pedi a todos calmaria: foi um pedido, não uma advertencia; por consequencia protesto contra o que me é attribuido n'este extracto.
Mais adiante no extracto do discurso do sr. marquez de Sabugosa, na sessão de 10, noto ainda o seguinte:
Quando s. exa. se referiu a uma expressão por mim soltada n'esta camara, dizendo que a concessão ao sr. Paiva
de Andrada me fizera má expressão, disse eu alto e claro, como estou fallando agora:
"Apoiado".
"E exacto".
Pois aqui pozeram: "Áparte do sr. Casal Ribeiro que não se percebeu".
Póde ser que se não percebesse. Não digo mais nada. Peço a v. exa. que tome estes factos em consideração, e declaro, certo que n'este sentimento me acompanham todos os meus collegas, que estamos promptos a dar a v. exa. um voto de confiança absoluto, (Apoiados) para v. exa. proceder como entender, em ordem a melhorar o serviço tachygraphico, e o dos extractos, que não póde continuar no estado em que está.
O assumpto está perfeitamente entregue nas mãos de v. exa., e nada me resta a acrescentar sobre elle.
Agora que se vae tratar da eleição de commissões, e visto ter eu sido eleito para uma que tem caracter politico - a que ha de redigir o projecto de resposta ao discurso da corôa, seja-me permittido submetter á camara um pedido, e vem a ser, me queira exonerar d'esse encargo, que aliás acceitaria, se a camara porventura entendesse que a resposta ao discurso da corôa era pura e simplesmente um cumprimento e uma homenagem prestada ao chefe do estado, e não a apreciação dos actos do governo. Se o projecto de resposta tem de ser mais do que isto, não poderei tomar parte n'esse trabalho.
Já declarei que na politica externa estou de completo accordo com o procedimento do governo, mas que na politica interna ha pontos em que não posso concordar com o gabinete.
Sinto tambem ainda não poder acompanhar o governo em outros pontos, sobre tudo n'aquelles que dizem respeito á administração da fazenda publica, que me parece devia merecer toda a attenção e cuidados, sendo o primeiro sem duvida a maior sobriedade nas despezas publicas.
Parece-me que a solução economica que se procurou contra a exportação do oiro, foi pouco opportuna e menos conducente ao fim que se tinha em vista, e que em vez de melhorar peiorou as condições do mercado dos capitães e do trabalho nacional.
N'estes e noutros pontos discordo do systema politico do governo e dos seus actos de administração, e sou por isso opposição.
Opposição individual, opposição isolada; mas emfim, opposição, porque são mais os pontos em que discordo, do que aquelles em que concordo com a politica actual.
E digo isto porque não gosto de posições equivocas, nem desejo que ninguem mas attribua, e muito menos os meus collegas.
Insisto portanto no meu pedido, de ser exonerado de membro da commissão de resposta ao discurso da corôa. Em todo o caso submetter-me-hei á decisão da camara.
O sr. Martens Ferrão: - Peço a palavra, sr. presidente, sobre este objecto.
(Entra o sr. ministro da fazenda.)
O sr. Presidente: - Eu já vou dar a palavra a v. exa.
Primeiramente, porém, não posso deixar de proferir algumas palavras em resposta ao primeiro assumpto a que se referiu o digno par o sr. conde do Casal Ribeiro.
Eu tenho a dizer a s. exa. que hei de fazer quanto estiver ao meu alcance, para que os seus desejos e os de todos nós sejam satisfeitos; isto é, para que o serviço tachygraphico se faça o melhor possivel.
Segundo o que me parece, o digno par deseja que o discurso que mandou para a mesa seja transcripto no Diario das sessões, em logar do que consta das notas tachygraphicas, que lhe foram mandadas, e que s. exa. achou muito inexactas. Vou já fazer expedir as necessarias ordens n'este sentido.
O sr. Conde do Casal Ribeiro: - Eu requeiro a v. exa. que assim se faça, porque se no discurso que mac-