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116 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

O sanatorio da forca militar será o quartel estabelecido na villa da Trindade, no morro comprado pelo governo. Para o civil é necessario estabelecer outro quanto antes, mesmo para alliviar os proprietarios das roças altas, do incommodo e despeza que constantemente lhes dão os habitantes da cidade, que para as suas roças vão convalescer, ás vezes com toda a familia. O governo não teria encargo, antes auferiria lucros do seu estabelecimento e exploração.

Com respeito ao pharol, diz s. exa. que não sabe ainda o que houve. Em duas palavras eu conto a v. exa. o que se passou.

Quando eu fui nomeado governador da ilha de S. Thomé e Principe, tinha sido encommendado um pharol, que não appareceu. Estava á espera d'elle. Um dia recebi ordem do sr. Ferreira de Almeida para pôr de parte 5 contos de réis para a sua acquisição. Resolvi perguntar á casa constructora a rasão por que não tinha apparecido o pharol, sabendo então que o tinham vendido, por ninguem mais ter fallado em tal! N'estas condições, tomei a resolução de compar um outro, que encommendei logo, pois que a ilha do Principe, pela sua importancia progressiva, não podia já deixar de possuir esse melhoramento, attendendo a que ha de vir a ter uma importancia talvez superior a S. Thomé, na proporção do seu territorio.

A ilha do Principe rende hoje 18 a 20 contos de réis, só de direitos de importação. Esta importancia chega perfeitamente para pagar a todos os funccionarios, e mais despezas da ilha, e é minha opinião que já não tem motivo o governo para a considerar porto livre.

Mas este assumpto virá depois.

Hoje limito-me a agradecer ao ministro a resposta e explicações que me deu, e espero que, com os seus bons desejos e visto as provas que já tem dado na gerencia da pasta da marinha, continuará a prover ás necessidades d'aquella colonia, realisando praticamente as palavras que a camara acaba de ouvir de s. exa.

O sr. Bispo Conde de Coimbra: - Sr. presidente, tinha pedido a palavra para quando estivesse presente o sr. presidente do conselho, mas como s. exa. não está, nem sei se virá á camara, peço ao sr. ministro da marinha o favor de informar s. exa. do que vou dizer.

Sr. presidente, quando numa das ultimas sessões desta camara eu tive a honra de fazer algumas considerações sobre a necessidade de se tirarem as eleições das igrejas, o sr. ministro do reino não estava presente, mas quando chegou e foi informado do que eu tinha dito, dignou-se de dizer-me que ia providenciar na proxima lei eleitoral para que as eleições se não fizessem, nos templos, e auctorisou-me para assim o declarar.

Não me enganei, sr. presidente, quando disse aqui que a gloria de ouvir e attender tantas vozes e tantas consciencias, que pediam que não se profanasse a casa do Senhor com eleições, estava reservada para o sr. José Luciano de Castro, meu antigo amigo, e tão amigo, que só por este motivo e sem merecimentos meus, se dignou de apresentar-me bispo numa diocese das mais consideradas do paiz e das mais difficeis; facto este que declaro aqui para testemunhar aqui tambem todo o meu respeito e gratidão para com s. exa. testemunho que me é tanto mais grato quanto é dado a um cavalheiro distinctissimo, que a minha diocese e o seu pastor se ufanam de contar no numero dos seus diocesanos.

Em meu nome, pois, em nome dos meus collegas, em nome de todo o clero portuguez, em nome de todos os que respeitam as cousas santas, agradeço a s. exa. o bom serviço que vae prestar á igreja e ao estado. E digo propositadamente tambem ao estado, porque nunca o estado precisou tanto de elementos de ordem, de respeito, de auctoridade e de obediencia ás leis, como nos tempos que vão correndo; e nenhuma instituição lh'os póde dar mais proficuos e valiosos do que a religião que professâmos e que é a religião do mesmo estado.

Mas, sr. presidente, para que a religião possa amplamente beneficiar o estado e o paiz é necessario que o imperante civil e os poderes publicos a respeitem nos seus dogmas, nas suas doutrinas, nos seus direitos, nos seus ministros e nos seus templos, não os profanando com a pratica n'elles de actos mais que profanos, senão até muitas vezes criminosos.

Sr. presidente convencidos e cheios de orgulho pelos progressos das sciencias, pelas descobertas modernas, e pelos esplendores da civilisação que nos fascinam e deslumbram, entenderam muitos politicos e muitos sabios que já não precisavam da religião para cousa nenhuma e que podiam governar os povos sem Deus, sem fé, sem templos e sem altar; erro gravissimo que estamos pagando muito caro, e cujo pagamento não sabemos onde chegará, porque, tendo sido tão larga a sementeira que se tem feito de indifferença religiosa e de incredulidade, não se póde avaliar até onde chegarão os fructos, que estamos colhendo, de insubordinação, de anarchia, e de revolta contra o poder de Deus e o poder dos homens, contra a familia, contra a sociedade, e contra as doutrinas, emfim, em que se baseia a ordem publica e o governo das nações.

A falta de disciplina e obediencia nos espiritos, nas vontades, nas consciencias e nos corações é cada vez maior; os laços sociaes e os vinculos de familia vão- se quebrando de dia para dia; a auctoridade publica e o governo do paiz está sendo cada vez mais difficil; e os crimes succedem-se uns aos outros com extraordinaria frequencia. E todavia não são os crimes que mais nos assustam, porque sempre houve e ha de haver crimes, mais ou menos, emquanto houver homens; o que assusta e deve principalmente preoccupar a todos, é o cinismo revoltante, e o requinte de ferocidade com que elles são praticados, e que denotam o grande desenfreamento das paixões, da ausencia do temor de Deus e de tudo o que é moral, consciencia remorso e sentimentos de humanidade.

Sr. presidente, não sou nem quero ser pessimista, e muito menos desejo carregar aqui de negras côres o nosso estado social; comtudo não posso deixar de dizer, muitos homens pensadores e sensatos confessam e reconhecem que elle é muito difficil, e que essas difficuldades provêem em grande parte, da falta de crenças religiosas e moraes do povo portuguez.

É necessario pois, sr. presidente, que nós todos que amâmos o nosso paiz e que nos prezâmos de ser filhos do nosso querido Portugal, trabalhemos incessantemente para lhe restituir as suas crenças que foram o instrumento da sua grandeza no passado e que espero em Deus hão de ser ainda o instrumento da sua salvação no futuro; procuremos levantar n'elle o espirito religioso e christão, com uma acção e propaganda religiosa sem exageros, mas perseverante, prudente, esclarecida e discreta, e na qual se de as mãos, o amor da religião e o amor da patria, a pratica das virtudes christãs e a pratica das virtudes ci-vicas, porque é este o meio mais efficaz para obstarmos a tantos crimes, e para esconjurarmos a anarchia, e a dissolução social que parece ameaçar-nos.

Mas, sr. presidente, é grande o desanimo que se apodera de mim n'este ponto, e não posso deixar de o confessar.

A imprensa lança todos os dias para a circulação publica immensas publicações -jornaes, folhetos e livros - em que se pregam e defendem as doutrinas mais dissolventes e anti-religiosas.

Nas cadeiras de instrucção primaria muitos professores ensinam a doutrina christã aos meninos, e no exame de admissão aos lyceus não se faz pergunta nenhuma sobre este ponto, como de antes se fazia, e como os bispos têem pedido sempre aos srs. ministros do reino no fim das suas conferencias.