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SESSÃO DE 10 DE 18 DE AGOSTO DE 1905 109

varro. Quarenta annos teve um como convivio intellectual e pessoal, na carreira da magistratura, na vida parlamentar, nas duas casas do Parlamento que o constituem; e sempre amigo e mestre, não podia esquecer, neste momento doloroso, o que tanto lhe deve, na carreira da magistratura, na vida intima, e na carreira politica.

Aqui lhe presta, especial e pessoalmente, a mais rendida homenagem de gratidão. Mattoso Côrte Real foi honra e lustre da magistratura. Todos o reconheceram na vida, todos o proclamam agora.

Por isso, depois de ter cumprido o dever officioso de em nome do Governo se associar á homenagem prestada a todos os Dignos Pares extinctos durante o interregno parlamentar, quiz tambem prestar a sua homenagem pessoal á memoria d'aquelle seu illustre amigo a quem, como disse, deve muitas provas de benevolencia, amizade e gratidão.

De Emygdio Navarro dirá ainda que as contingencias da vida politica fizeram que o orador e elle andassem por vezes mais ou menos afastados; todavia o seu affecto por elle nunca se extinguiu e a sua admiração nunca esmoreceu. Quando teve a desventura partidaria de lhe succeder, ha cerca de 15 annos, no Ministerio das Obras Publicas, declarou á Camara que não tinha programma, apenas affirmou que se julgaria feliz se pudesse rastejar a obra, que durou e perdurou, d'aquelle illustre homem publico, d'aquelle alto espirito.

Triste coincidencia para o orador, o perder dois amigos: um que ha 40 annos o aconselhava nos primeiros passos da vida publica e outro que ha igual tempo iniciava a sua vida academica.

Se alguma coisa ha que possa servir de allivio á sua magua, que é sincera, é que elle, orador, não tem de recorrer a euphemismos, nem tem de rebuscar phrases, mais ou menos ambiguas, para demonstrar a constancia das suas relações com esses dois extinctos, no largo periodo de 40 annos.

A elles o ligou sempre o mais acrisolado affecto, e, se pranteia a sua morte, e especializa as razões particulares que deve á sua memoria, por igual lamenta o fallecimento de todos os outros illustres extinctos.

O Sr. Ernesto Hintze Ribeiro: - Pela sua parte, e por parte dos seus amigos politicos d'esta casa do Parlamento acompanha, muito sinceramente, a commemoração sentida que o Sr. Presidente acaba de fazer de antigos companheiros nossos n'esta Camara.

S. Exa. referiu-se á perda, para esta Camara, do seu vice-Presidente, o Sr. Conselheiro Francisco Mattoso da Silva Côrte Real.

Por todos os motivos se associa a essa commemoração.

Embora militassem em campos oppostos, sempre, nos debates politicos em que entrou, o Sr. Mattoso Côrte Real foi cortez e affavel no seu trato e nas discussões, e nem uma palavra lhe ouviu jamais que pudesse offender ou sequer melindrar as susceptibilidades de nenhum dos seus collegas.

Lhano no seu trato, sempre delicado; e na magistratura, onde ascendeu ao seu ultimo posto, como no Parlamento, deixou de si uma impressão que a todos nós é licito registar com magua e saudade.

Ha laços que se não desprendem, ao os laços intimos da familia.

Não vê presente o Sr. Presidente do Conselho, e bem natural é que S. Exa. aqui não esteja; mas a S. Exa. expressa o seu profundo sentimento pela morte de seu irmão.

Tambem o Sr. Presidente enalteceu, m palavras das quaes S. Exa. tem o segredo e o prestigio, a perda dolorosa de um collega nosso, o Sr. Visconde de Chancelleiros, um dos mais antigos membros d'esta casa do Parlamento, que n'ella tinha assento ha quarenta e tantos annos, parlamentar por direito proprio e pelas suas qualidades de orador e de polemista.

O orador lembra-se com que desvanecimento o Visconde de Chancelleiros citava a miude, nos debates em que entrava, e nas apreciações que fazia, a memoria de seu pae, o Barão de Chancelleiros, um dos vultos da historia das nossas luctas civis, muitas vezes eleito Deputado, e umas poucas de vezes nomeado Ministro.

O primeiro orçamento regularmente organizado da epoca constitucional tem a firmal-o o nome do Barão de Chancelleiros.

Nunca o esqueceu o seu filho predilecto, e sempre se orgulhou da sua tradição, que era honrar, como honrou, a tribuna portuguesa.

Alevantado na forma, vehemente por vezes na dicção, mas sempre correcto, attencioso e deferente

Original, absolutamente, na sua maneira parlamentar, com nenhum outro se confundia.

Era tão sua, tão caracteristica e peculiar a sua feição politica, que elle avultava entre todos nós, como sendo um symbolo especial d'esta casa do Parlamento, onde, aliás, tantos talentos ha, e tantos caracteres se teem assignalado.

O Visconde de Chancelleiros em absolutamente inconfundivel, inimitavel, nos debates parlamentares.

Tinha uma eloquencia sua, um calor, um enthusiasmo, uma apreciação, uma fina critica, uma orientação tão diversa da vulgar, que faziam d'elle uma das figuras mais proeminentes da politica portuguesa.

A par d'isto, nobre e fidalgo na sua maneira de tratar, pundonoroso em todos os actos da sua vida publica, ao mesmo tempo que possuido de um entusiasmo especial, de uma devoção articular pela questão economica, elle foi, talvez em muito, uma victima da sua propria iniciativa, no seu grande desejo de alevantar a agricultura portuguesa.

Não foi só o Visconde de Chancelleiros que nos faltou no intervallo paramentar; dois amigos o orador perde-a; dois grandes e dedicados amigos! Miguel Dantas, um amigo leal e seguro, que sempre na sua vida politica e salientou pela sua dedicação até ao sacrificio, devotado até á paixão, contanto até á intransigencia.

Um acto do seu partido era forçosamente bom; uma resolução do seu chefe era incontestavelmente a melhor.

Que grande força para as collectividades politicas possuirem caracteres com esta firmeza e confiança! Grande
exemplo e lição nos dias que vão decorrendo!

Polycarpo Anjos foi sempre o prototypo da lealdade e da honradez.

Muito intelligente, vendo as questões e as coisas sempre pelo prisma da verdade, sempre correctamente, praticamente, util e productivamente para o seu paiz, foi um trabalhador incansavel, ao mesmo tempo que um amigo lealissimo.

O seu conselho era de uma sinceridade tão limpida, que na sua palavra podiam acreditar todos, amigos e inimigos. Tão cheio de verdade, de acção e de justiça era o seu espirito e o seu animo.

O intervallo parlamentar deixou falhas nas nossas hostes, perdas nas nossas tribunas do Parlamento, absolutamente irreparaveis.

É por isso que, através dos embates da vida publica e dos prelios eminentes das nossas discussões parlamentares, podemos hoje accentuar a justa commemoração do nosso sentimento e do nosso pesar por essas perdas.

Mas o Sr. Presidente, alem d'estes que eram nossos collegas e amigos na Camara dos Pares, enaltecera ainda, em palavras que bem marcam e ficam, a morte de um grande luctador, de um grande espirito.

Refere-se a Emygdio Navarro. Dorida magua o orador sentiu com a noticia inesperada do seu fallecimento. Ao ausentar-se para o estrangeiro, quiz abraçal-o pela ultima vez: tinha como que o presentimento de que não mais o veria, presentimento que, infelizmente, se realizou; e no proprio dia