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110 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

em que tio subitamente lhe chegou a noticia da sua morte, acabava de receber uma carta sua, tão cheia de palavras generosas e ao mesmo tempo de conceitos politicos, e tão ditada pelo seu espirito elevado, que ainda mais lhe tornaram dolorosa a noticia da sua morte.

Foram companheiros em Coimbra e amigos, e de lá vieram para o terreno parlamentar, em campos absolutamente oppostos. Foi um intransigente; e talvez ninguem tão vivamente houvesse sido atacado na vida politica como o orador o foi por Emygdio Navarro; mas, tambem, com quanta nobreza de animo, com quanta franqueza affectiva elle o abraçou depois!

Tinha qualidades e defeitos, é certo; tinha luz e sombras: claros e escuros, mas muitos claros. Tinha qualidades tão vivas, que brilhavam tanto, que bem se sobrepunham aos defeitos passageiros. A luz que irradiava d'aquelle cerebro potente dissipava as sombras que lhe imputavam; colorido tão intenso, que brotava tão expressivo, tão sincero do seu coração generoso e aberto, que obscurecia os seus senões.- Era um grande espirito e um grande coração.

Acima de tudo tinha uma generosidade de sentir, uma espontaneidade de affecto que tudo subjugava. Era um homem de bem.

Como Ministro teve uma iniciativa efficaz e potente. Quantos melhoramentos, quantos serviços publicos elle determinou e abriu! Como parlamentar uma palavra sempre animada e quente, por vezes inspirada pela paixão, mas sempre luminosa. Como jornalista, assignalou com o fulgor da sua penna as mais brilhantes paginas de litteratura periodica. Era quem verdadeiramente e mais fundo sulcava o terreno de qualquer debate pendente, de forma a actuar no espirito publico de maneira unica.

Depois de Sampaio e Teixeira de Vasconcellos, quatro grandes jornalistas tem o orador conhecido, sem offensa de ninguem: Pinheiro Chagas, Antonio Ennes, Emygdio Navarro e Marianno de Carvalho.

Tres levou-os a morte.

Foi Marianno de Carvalho que ficou, que ainda hoje resta d'essa pleiade brilhante.

Entende de seu dever deixar assim, bem patente, a sua homenagem a esse notabilissimo espirito, porque a ninguem fica mal, em qualquer situação da sua vida, qualquer que seja o seu modo de pensar, esse proceder, quando inspirado pelos impulsos da consciencia; a ninguem fica mal um preito de justiça áquelle que engrandeceu e nobilitou o seu paiz.

Ahi fica pois o seu preito singelo, mas sincero.

(3. Exa. não reviu}.

O Sr. Veiga Beirão: - Em nome do partido progressista, associa-se aos sentimentos de condolencias que o Sr. Presidente tão eloquentemente expendera a proposito dos Dignos Pares fallecidos durante o intervallo parlamentar, e de um illustre publicista, que não fazia parte d'esta Camara.

Lembra ao Sr. Presidente, como é de uso nesta Camara, que em signal de sentimento, muito especialmente pela morte do Vice-Presidente, a Camara encerre por hoje os seus trabalhos.

(S. Exa. não reviu).

O Sr. Costa Lobo: - Associa-se aos sentimentos de dor tão eloquentemente manifestados pelo Sr. Presidente, e pelos oradores que o precederam, sobre a perda dos nossos collegas fallecidos durante o recesso parlamentar. Não pode deixar passar esta occasião sem consagrar uma saudosa homenagem á memoria de um d'elles, ao qual o ligavam estreitos laços de amizade. O Visconde de Chancelleiros representava uma familia nobre pelo sangue, e distincta pelos seus meritos e serviços nos annaes da vida nacional. Seu pae, o Barão de Chancelleiros, e seu tio, Sebastião José de Carvalho, são nomes imperecivelmente ligados á historia da implantação entre nós do regimen liberal. O Visconde de Chancelleiros manteve dignamente as tradições da sua familia. Escusa de recordar á Camara a elevação dos seus intuitos patrioticos, o brilho da eloquencia com que os propugnava, a sua dedicação pelo bem do paiz, o qual serviu sempre com zelo, sinceridade e abnegação. O echo da sua imaginosa palavra repassada de fervor, expressão de um judicioso e remontado pensar resôa ainda nos nossos ouvidos. N'elle a causa publica perdeu um prestimoso campeão, a sociedade um exemplar de homem de bem, o Parlamento uma das suas glorias, e os seus familiares um conforto nas horas do desalento ou da amargura. Para elle, orador, pessoalmente foi uma inconsolavel desgraça. A morte vae estendendo em volta da velhice uma solidão, cada dia mais rareada. Nunca este sentimento o feriu com tão pungente tristeza como n'este doloroso transe. O unico lenitivo para a angustia dos que como elle, orador, pranteiam o passamento d'este benemerito cidadão é o reflectir em que a sua memoria será sempre abençoada por quantos prezam a superioridade do engenho e a hombridade do caracter, alliadas a uma brandura de sentimentos, inspiradora de universal sympathia. Limita aqui a sua commemoração, porque receia não se poder dominar sufficientemente que não irrompa em manifestações de dôr que se não compadecem com a publicidade.

O Sr. Sebastião Baracho: - O discurso d'este Digno Par vae publicado na integra, no final d'esta sessão, em appendice.

O Sr. João Arroyo: - Pediu a palavra para se associar ao voto de sentimento proposto pelo Sr. Presidente á Camara, em palavras tão bellamente ditas, como profundamente pensadas, voto de sentimento a que se associaram alguns dos seus collegas d'esta casa do Parlamento.

Ao Visconde de Chancelleiros destina, como não pode deixar de destinar, o preito da sua sincera admiração, pelo aspecto verdadeiramente interessante, pelo fulgor realmente raro, pelo caracter assignaladamente expressivo e pittoresco da sua palavra, sempre patriotica e sempre viva.

A Polycarpo Anjos consagra, como não pode deixar de consagrar, a expressão da mais extremada consideração, porque o Digno Par era na realidade uma das mais distinctas, das mais bellas figuras do alto commercio da capital.

A Miguel Dantas dirige a sua saudação enternecida e affectuosa, porque não se pode esquecer de que elle foi um dos seus camaradas nas grandes luctas parlamentares que começaram em 1886, durante as quaes elle deu mais que assignalada demonstração do que representava para elle o credo do seu partido, vendo em todos os seus companheiros de lucta verdadeiros irmãos de armas, vendo no seu chefe áquelle que devia representar sempre o symbolo da justiça, lealdade e gratidão.

Grande lição era Miguel Dantas nos tempos e nos successos que se vão desenrolando!

Não pode deixar de dedicar ainda algumas palavras a Emygdio Navarro, porque o seu fallecimento foi para a opinião publica um facto digno de commentario particular.

É o facto de serem devolvidos 16 annos sobre a saida de Emygdio Navarro dos Conselhos da Coroa, que elle tanto illustrou com esforço da sua grande intelligencia e o nome de Emygdio Navarro entrar dentro d'esta sala, para uma commemoração trazida pela voz de quem representa o sentir de toda a Camara, isto é, pelo seu Presidente. As suas palavras se associaram em pleno accordo de opinião os representantes dos partidos.

Casualidade estranha essa!

Porque Emygdio Navarro, fallecido ainda n'um periodo não extremamente avançado em idade, morreu sem ter realizado o grande ideal da sua vida, que era ser nosso collega dentro d'esta

Entre os seus camaradas foi um ta-