O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

10 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

O Sr. Presidente: — Faltam apenas quinze minutos para se encerrar a sessão.

O Sr. João Arroyo: — Peço a V. Exa. se digne consultar a Camara sobre se permitte que eu responda ao Sr. Julio de Vilhena.

O Sr. Presidente: — Mas estão inscritos para antes de se encerrar a sessão, os Srs. Conde de Bertiandos e Baracho.

O Sr. Sebastião Baracho: — Eu cedo a palavra neste momento.

O Sr. Conde de Bertiandos: — Se é preciso cedo tambem a palavra.

O Sr. Presidente: — Dou a palavra ao Sr. Arroyo, mas aviso S. Exa. que ás cinco horas e um quarto tem de se encerrar a sessão.

O Sr. João Arroyo: — Agradeço a fineza que me dispensaram os dois Dignos Pares que se haviam inscrito para antes do encerramento dos nossos trabalhos.

O Digno Par. Sr. Julio de Vilhena, no pleno uso do seu direito, entendeu que devia reportar-se á minha modesta individualidade, mas fê-lo em termos que não dispensam algumas considerações do mesmo genero.

Sei que a minha palavra, inane e ôca, não tem o condão de attrahir o publico ás galerias da Camara.

Sou o primeiro a reconhecer a pouquidade dos meus recursos intellectuaes, e bem sei que devo ao partido regenerador alguns meios de vida com que vou arrastando a existencia.

A minha palavra, embora inane e ôca, foi no entanto inteiramente devotada á defesa de uma causa, e nesse empenho se manteve em luta ardente, nitidamente accentuada.

Porfiei, valente e denodadamente, em defesa do partido em que militei durante muitos annos.

Essa individualidade mesquinha, que deve ao partido regenerador a fineza
de o nomear administrador de uma companhia de caminhos de ferro, fez a campanha de 1887, de 1888 e de 1889, e nella se conservou com uma persistencia pouco vulgar.

Ainda por occasião da questão do convenio tive de vir á estacada, e bati-me por forma a, não me poderem ser attribuidos quaesquer desfallecimentos.

Pelo que toca ao Digno Par Sr. Julio de Vilhena, conheci-lhe a historia parlamentar, e recordo-me dos seus vinte annos de quasi silencio, do seu mutismo, da sua apathia quando se tratava de defender o partido regenerador, de defender esse companheiro, esse condiscipulo de todas as horas, de quem S. Exa. só se lembrou depois d'elle ter morrido, legando-lhe a successão.

Conheço tambem os seus trabalhoso as canseiras de S. Exa. contra a ditadura, e recordo-me bem d’aquella profecia de «um dia de gala nacional» para 2 de janeiro, dia que, na verdade, deixou bellas recordações ao país, recordações summamente alegres...

Conheço em summa a absoluta insufficiencia de S. Exa. para a suprema direcção de um partido politico, e acho natural que S. Exa. me venha atirar á face com os proventos que aufiro do producto do meu trabalho.

O Sr. Julio de Vilhena ha de permanecer durante vinte, trinta, quarenta annos, á frente do partido regenerador. Ha de encontrar um adversario que o não molestará, porque me respeito a mim proprio; mas a forma sem precedentes por que S. Exa. se me dirigiu hoje revela-me o motivo, a razão por que os regeneradores só se lembraram do seu nome: a falta de pessoa que na occasião melhormente correspondesse á urgencia do momento.

Quanto á minha modesta situação, é ella tal que a consciencia do Digno Par ha de segredar-lhe que nunca me elevei tanto como agora, falando assim.

(S. Exa. não reviu).

O Sr. Julio de Vilhena: — Não venho suscitar uma questão pessoal. Accusado pelo Digno Par, tive que defender-me, e assim procederei em qualquer conjuntura.

Fui talvez um pouco duro na maneira por que me dirigi ao Digno Par, mas S. Exa. deve convir em que tambem foi um tanto acre.

Tenho uma altissima admiração pelo talento do Digno Par, e bem desejaria que S. Exa. se prestasse a collaborar na obra que se impõe aos partidos politicos.

Pela minha parte hei de acceitar a luta quando S. Exa. m'a propuser, porque é esse o meu dever.

(S. Exa. não reviu).

O Sr. Presidente: — A ordem do dia para ámanhã 27 é a continuação da que vinha para hoje.

Está levantada a sessão.

Eram 5 horas e vinte minutos.

Dignos Pares presentes na sessão de 26 de maio de 1908

Exmos. Srs.: Antonio de Azevedo Castello Branco; Eduardo de Serpa Pimentel; Marqueses: de Avila e de Bolama, de Pombal, de Sousa Holstein; Condes: de Arnoso, de Bertiandos, do Bomfim, de Figueiró, de Mártens Ferrão, de Monsaraz, de Paraty; Moraes Carvalho, Antonio Candido, Eduardo Villaça, Teixeira de Sousa, Campos Henriques, Hintze Ribeiro, Palmeirim, Carlos Maria Eugenio de Almeida, Eduardo José Coelho, Fernando Larcher, Mattoso Santos, Veiga Beirão, Dias Costa, Ferreira do Amaral, Francisco José Machado, Francisco José de Medeiros, Ressano Garcia, Baptista de Andrade, Jacinto Candido, D. João de Alarcão, João Arroyo, Teixeira de Vasconcellos, Gusmão, José de Azevedo, Moraes Sarmento, José Lobo do Amaral, José de Alpoim, Julio de Vilhena, Luciano Monteiro, Poças Falcão, Bandeira Coelho, Affonso de Espregueira, Sebastião Dantas Baracho e Wenceslau de Lima.

O Redactor, JOÃO SARAIVA.