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SESSÃO DE 28 DE MAIO DE 1890 221

Fontes Pereira de Mello, ou o sr. duque de Loulé, ou o sr. duque d'Avila, a minha palavra e serviços estariam sempre ao lado d'esses homens quando se tratasse de fomentar a prosperidade das nossas possessões.

Sr. presidente, parece-me que chegou a occasião da camara dos dignos pares, da camara dos senhores deputados, do governo e do paiz, olharem seriamente para o ultramar.

Ao meu illustre amigo, o sr. Costa Lobo, parece-lhe que a desgraça paira sobre este paiz e sobre todos nós; é verdade, mas é preciso que a camara dos pares diga tambem ao paiz e ao governo que é indispensavel ter coragem para obstar a desgraças futuras.

Os desastres não são de hoje, vem de longe; para os remediar gastam-se centenas de contos, e sacrificam-se muitas vidas.

Nada d'isso fica perdido havendo uma organisação regular na administração colonial.

E necessario que o paiz conheça bem as circumstancias era que se encontram as nossas provincias do ultramar, e sobretudo que os estrangeiros vejam que Portugal sabe administrar e que tem feito alguma cousa.

Sr. presidente, eu vejo diante de mim o sr. ministro da marinha e sei as amarguras que ha n'aquella cadeira.

Um cavalheiro que muito respeito pelas suas virtudes e pelo seu talento, o sr. Barros Gomes, póde dizer as amarguras que teve quando foi ministro da marinha. Que o diga tambem o sr. Julio de Vilhena.

Mas, sr. presidente, nós ainda temos dominios importantes, mas as circumstancias d'essas provincias silo diversas entre si, e é urgente que tratemos de estudar por uma vez o assumpto e que tambem tratemos de lhe dar remedio.

Não é nivelando todas as provincias que se póde fazer alguma cousa proveitosa.

Eu sei que todos os governos, não só este que eu apoio, mas todos os outros, têem cumprido sempre o seu dever com dedicação, com sacrificio da sua vida e da sua saude.

Disse um amigo meu, que respeito, e que é um amigo particular, mas do qual sou divergente em politica, o sr. Thomás Ribeiro, que não conhece desgraça maior do que ser ministro em Portugal.

E é verdade; é difficil governar um paiz pequeno, que não tem canhões nem força.

Sr. presidente, estou fatiando na camara dos dignos pares, mas fallo para o paiz, e digo-lhe que empregue todos os meios para sair da situação; que a encare por uma vez, e não tenha receio de uma cousa que para ahi chamam sindicatos e companhias.

Em 1853, um cavalheiro respeitavel e com capitães dirigira-se ao governo pedindo-lhe a organisação de uma companhia importante em Moçambique; isto antes de lá estar essa companhia que nos colloca em tantas difficuldades.

Pois esse requerimento foi ao conselho ultramarino e lá foi rejeitado com o fundamento de que era um ataque á carta constitucional!

Um poeta distincto, um dos primeiros litteratos d'este paiz e um homem de estudo, o visconde de Almeida Garrett, deu o seu voto em separado, e declarou que pelos meios ordinarios Moçambique difficilmente seria administrado, e difficilmente podia progredir.

Isto foi ha trinta annos, e as palavras do visconde de Almeida Garrett eram verdadeiras, porque a administração de Moçambique tem feito perder aquella provincia, o que não succederia se se tivesse organisado a companhia.

Eu, sr. presidente, tambem sou contra os sindicatos quando esses syndicatos se desmandam.

Não digo mais nada ácerca de sindicatos.

Sabem o que esta companhia se propunha? Era nada menos do que isto:

1.° Abolir o trafico dos escravos;

2.° Civilisar os cafres;

3.° Expulsar os régulos que têem invadido os territorios de Manica, Zumbo e Quiteve;

4.° Reivindicar os prazos usurpados da corôa;

6.° Abrir estradas;

6.° Desobstruir os rios;

7.° Fundar nucleos de população;

8.° Cortar florestas;

9.° Seccar pantanos;

10.° Cultivar o solo;

11.° Promover a colonisação europêa e indigena;

12. Estabelecer colonias agricolas, mineralógicas e industriaes em Moçambique;

13.° Construir e reedificar templos;

14.° Estabelecer escolas;

15.° Ter embarcações guarda-costas, de cabotagem e para commerciar com a metropole;

l6.° Sustentar tropas necessarias para a defeza dos territorios da corôa de Portugal.

Se essa companhia fosse por diante, o que seria hoje a provincia de Moçambique?

O visconde de Almeida Garrett dizia bem e os outros é que diziam mal.

(O orador não reviu.)

O sr. Barros Gomes: - Declarou que com a melhor vontade se associava ao voto de sentimento proposto pela morte de Silva Porto.

Muitas das expedições mais notaveis devera-lhe o seu exito, e os seus importantes serviços eram confessados por todos os exploradores portuguezes e estrangeiros.

De alguns revezes que acontecem n'estas expedições não devemos tirar o receio ou desanimo. Desastre tem-os havido sempre; o que succedeu no tempo do infante D. Henrique e que acabou pela morte de um principe, não foi menor do que a que agora nos afflige. E ao lado d'estas desgraças, temos expedições brilhantes e fecundas era resultados. S. exa. referiu-se á de Antonio Maria Cardoso, que disse ser de certo a mais notavel como expedição politica.

Paiva e Cordon são dois modelos para todos os exploradores da Europa.

S. exa. terminou o seu discurso, referindo-se a um facto importante que se deu na região de Ambuella. Acaba de ser erguida a bandeira portuguesa n'um furte d'aquelle paiz. Este acontecimento é um dos que nos vem consolar de alguns desastres.

(O discurso do digno par será publicado na integra quando s. exa. entregar as notas respectivas.)

O sr. D. Luiz da Camara Leme: - Eu pedi a palavra unicamente para retirar a minha proposta. Se ella não abrange a proposta do digno par sr. Costa Lobo, é porque eu ignorava mais esse triste acontecimento. Eis a rasão por que eu não podia de modo nenhum comprehender n'ella o bravo tenente Valladim. Vejo tambem que a minha proposta causou uns certos reparos do digno par sr. Cypriano Jardim, quanto á sua redacção.)

Eu não tinha pretensão alguma á redacção; o meu fira, unicamente era que a camara dos pares manifestasse o seu sentimento por aquelle triste acontecimento; e creio que, associando-se á camara dos deputados, não se rebaixa de modo nenhum; e pelo contrario, eleva-se, quando o sentimento é nobre.

Em todo o caso, a este respeito não digo mais nada.

Parece-me muito bem a proposta do digno par sr. Costa Lobo, que abrange tudo, e por isso peço a v. exa., sr. presidente, que consulte a camara, sobre se consente na retirada da minha proposta, e que seja immediatamente votada a proposta do sr. Costa Lobo, porque creio que esta questão está liquidada.

(O orador não reviu.)

Consultada a camara sobre a retirada da proposta do sr. Camara Leme, resolveu affirmativamente.

O sr. Conde da Arriaga: - Pedi a palavra para me