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222 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

associar á proposta do sr. Costa Lobo, e agora pergunto a v. exa. se depois d'ella votada póde dar-me outra vez a palavra para continuar a fallar sobre a occupação do Bibe.

O sr. Presidente: - Nós estamos discutindo uma proposta do sr. Costa Lobo, na qual s. exa. propõe um voto do sentimento pelos desastres acontecidos. Se v. exa. quer fallar sobre essa proposta, e depois, sobre outro assumpto, eu reservo-lhe a palavra.

O Orador: - Como acho unanimidade n'essa proposta, eu não venho discutil-a, mas o que desejava era que votando-se primeiramente a proposta, me fosse depois concedida a palavra.

No emtanto, como na camara Já se tem fallado sobre o assumpto que vou tratar, fallarei tambem.

O sr. Presidente: - Peço perdão a v. exa., mas temos de restringir a discussão ao objecto da proposta. Se v. exa. quer, eu submetto agora a proposta á votação e reservo lhe para depois d'ella a palavra.

O sr. Conde da Arriaga: - Pois restringir-me-hei á proposta.

Consolou-me a declaração do sr. ministro da marinha de que vae occupar o Bihé, porque a falta d'essa occupação é que nos trouxe agora as dificuldades que a camara conhece.

O principio da occupação era para os romanos o direito do primi capientis.

Ora, por não effectuarmos a occupação, é que já se suscitou o questão da posse de Bolama e a do nosso direito á parte sul da bahia de Lourenço Marques, contestado pela Inglaterra.

Quando o capitão Owen em 1825 foi sondar o canal de, Moçambique, por causa dos successivos naufragios de barcos inglezes, entrou em Lourenço Marques, e, encontrando a mais bella bahia do mundo fez tratados com os chefes indigenas de Tembe (Catembe) e com os de Maputo, a cujo paiz pertenciam os pretos que ainda ha pouco estiveram em Lisboa, convenções que serviram de pretexto á Inglaterra para a questão que sobre a posse d'esses territorios e das ilhas de Imyacki, (Unhaca) e dos Elephantes se levantou, e que foi decidida por arbitragem da França.

Tambem sobre a bahia de Tungue houve contestações, provenientes de não se ter ratificado o tratado entre o governador geral de Moçambique e o sultão de Zanzibibar.

Este dizia que tinha direito á posse da bahia, contra o que nós allegavamos, porque ficava para o interior de umas ilhas que eram nossas.

E então só consentia que chegassemos até ao meio da bahia.

Fui por essa occasião a Zanzibar.

Depois foi o sr. João Tavares d'Almeida e já concediam menos.

E quando o sr. Francisco Maria da Cunha se dirigiu ao mesmo paiz, já não nos concediam cousa alguma.

Portugal então empregou a força, e hoje a bahia é nossa.

A ratificação d'este tratado era o meio de evitar os males que se deram; mas não havia instrucções para isso.

Ali está o illustre ministro da marinha que nos póde contar quaes foram as diligencias empregadas com o fim de tornar effectiva a nossa occupação.

É preciso, sr. presidente, que nos convençamos de que não devemos adiar as occupações dos territorios que estão sujeitos ao nosso dominio, porque a verdade é que a preterição d'esse acto acarreta-nos desgostos, que nós depois lastimamos vivamente.

É necessario tornar effectiva a nossa occupação, mandando colonos para as possessões ultramarinas.

Eu devo declarar á camara que espero com viva anciedade a discussão das propostas de fazenda e, quando essa discussão vier, mostrarei á camara a grande differença que existe entro os tempos de hoje e os de outr'ora.

O sr. conde do Bomfim, ministro da marinha era 1840, declarava no seu relatorio que as nossas importações e exportações no anno de 1S38 sommavam a importancia de 42:000$000 róis, o note-se que o movimento commercial operava-se pela influencia da corrente da escravatura.

Pois hoje a somma d'esse movimento commercial é de (6.000:000$000 a 7.000:000$000 reis!

Fico espantado!

E que significa isto, sr. presidente?

Significa que devemos olhar com toda a seriedade e com toda a circumspecção para as questões coloniaes.

A questão colonial impõe-se a todos os governos; é das colonias que depende o nosso futuro.

Já um distincto parlamentar francez disse que no seculo xx a Africa ha de ser para a Europa o que para ella está saneio a America no seculo actual.

Tratemos, pois, da occupação effectiva dos nossos dominios, e tratemos de colonisar.

Nós que mandâmos todos os annos 10:000 a 15:000 portuguezes para o Brazil, melhor fariamos se conseguissemos mandar ao menos a decima parte d'esse numero para a nossa Africa.

Veja-se como tem prosperado a republica do Transvaal e outros estados africanos de recente data, por terem sido largamente colonisados.

Por conseguinte eu louvo o sr. ministro da marinha por querer occupar o Bihé, e por mandar colonos operarios para Lourenço Marques; assim como o louvo por ter commissionado o sr. Marianno de Carvalho para estudar a melhor organisação economica das nossas possessões de Africa.

Tenho a certeza de que ao sr. Marianno de Carvalho, depois de sair daqui, ha de causar-lhe nojo a politica, e não mais se lembrará senão da familia e da patria, como já me succedeu a mira, e como succede a todos que vão prestar serviços no ultramar.

Quando se trata d'estes assumptos não me lembro de partidos.

O sr. Marianno de Carvalho vae d'aqui a Marselha, atravessa o Mediterraneo, passa em Port-Said e depois dirige-se a Zanzibar e a Tungue; nas montanhas que dominam as bahias de Pembe e Fernão Valloso ha de encontrar ricos depositos de carvão de pedra.

Ora o porto do mundo onde mais carvão de pedra se consome é o porto de Aden; por consequencia, se nós, na costa entre Tungue e Moçambique, descobrirmos e explorarmos minas d'esse combustivel, temos dado um grande passo para o engrandecimento e riqueza da provincia.

Livingstone tambem mandou de lá amostras de carvão de pedra de Tete, que existem e podem ver-se em Londres.

A colonisação de Inhambane e de Lourenço Marques, a abertura de vias de communicação pelos territorios d'esses districtos, o descobrimento de novos jazigos mineraes, ligações faceis para os estados do Transvaal e de Orange, tudo isto póde trazer grandes resultados para o futuro de Portugal e das buas possessões.

Entendo que devo louvar o sr. ministro da marinha por todos os trabalhos feitos com este intuito.

Poderia dizer mais alguma cousa, mas não quero abusar da paciencia da camara.

Concluindo voto a proposta para que se lance na acta um voto de sentimento pela perda d'esses illustres exploradores que tantos serviços fizeram á mãe patria e que nós não podemos nem devemos esquecer.

(O digno par não reviu o seu discurso.)

O sr. Pereira Dias: - Como v. exa. sabe, costumo faltar pausada e demoradamente. Este meu costume não me permitte, por conseguinte, seguir o meu digno collega sr. conde da Arriaga nas suas apreciações sobre assumptos colonizes, apreciações que, pelos conhecimentos espe-