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98 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES NO REINO

proprio irmão politico, o sr. Fuschini, a quem s. exa. declarou estimar como se fosse seu irmão!

Corno se explica isto?

A primeira recomposição teve logar com a saida do sr. Aro uca.

Porque saiu s. exa.?

Foi por não estar de accordo com os seus collegas?

Não, porque se assim fosse, não iria o governo escolher agora s. exa. para representar em Londres o nosso paiz, logar de confiança, e para o qual o não iria nomear se n'elle não tivesse confiança.

Saiu depois o sr. Fuschini, e ainda estamos por saber porque s. exa. deixou de fazer parte do governo. Pela questão politica não me parece, porque s. exa. subscreveu a reforma da policia e a dissolução da camara.

Digam-nos, pois, porque se fizeram as modificações ministeriaes.

Isto pelo que toca ao ministerio da fazenda.

Vamos ao da marinha.

Isso então ainda foi caso peior.

O sr. Neves Ferreira, uma bella manhã, desappareceu do governo e foi substituido pelo sr. Ferreira de Almeida, que foi no governo um verdadeiro luctador.

E possivel que tenha praticado actos que não agradassem; mas durante a sua estada no ministerio praticou outros, pelos quaes eu seria o primeiro a felicital-o se s. exa. ainda se sentasse n'aqnellas cadeiras.

O sr. Ferreira de Almeida foi o principal organisador das forcas do ultramar e da expedição, e quando se fazia opposição no gabinete a que o couraçado Vasco da Gama fosse á India por não ser um navio proprio para navegar n'aquelles mares, o sr. Ferreira de Almeida entendeu que podia ir e foi, prestando relevantissimos serviços.

Depois disse-se que saira por causa da acquisição de um navio que elle julgava poder, n'aquella occasião, obter em boas condições para o thesouro, a que os seus collegas se oppozeram, não sei porque, preferindo o concurso.

Não creio que s. exa. saisse dos conselhos da corôa simplesmente por esse facto; deveriam ser, por certo, outros os motivos, e mais importantes, de que o governo deve dar conta á camara e ao paiz.

Depois veiu o sr. Jacinto Candido, o actual ministro da marinha.

No ministerio dos estrangeiros succedeu, como já disse. o mesmo, saindo o titular d'aquella pasta o sr. Arouca, tambem sem ninguem saber porque foi substituido pelo sr. Hintze Ribeiro; depois o sr. presidente do conselho larga a pasta dos estrangeiros e vem o sr. Carlos Lobo d'Avila, depois aquelle talentoso joven ministro desapparece levado pela morte, e é substituido pelo sr. Hinfcze, depois o sr. Hintze torna a largar a pasta e é chamado o sr. Luiz do Soveral. Ninguem tem qualidades mais sympathicas do que s. exa.; mas pergunto eu quaes foram as indicações politicas que o levaram a ser chamado aos conselhos da corôa?

O sr. Luiz do Soveral é um diplomata distinctissimo, foi nomeado nosso ministro em. Londres para nos salvar d'aquella grande carrapata, permitta-se-me a expressão, do tratado com a Inglaterra, e n'este ponto eu não posso ser taxado de suspeito, pois n'essa occasião a unica voz que aqui se levantou para defender o tratado do sr. presidente do conselho foi a minha humilde voz, e fil-o, porque estava convencido, aparte a questão de redacção que serviu de pretexto para levantar as arruaças nas das de Lisboa; que esse tratado era muito mais vantajoso do que aquelle que foi feito depois. (Apoiados.)

Eu pergunto, quem foi o negociador nomeado para corrigir os pretendidos erros do sr. Hintze Ribeiro? Foi ò sr. Soveral.

Como se explica, pois, a presença de s. exa. ao lado do sr. Hintze Ribeiro?

Eu não comprehendo como é que se foi buscar aquelle cavalheiro que, como já disse, é um diplomata distinctissimo, mas que foi quem deu o golpe de graça, como se costuma dizer, no tratado do sr. Hintze.

O tratado feito pelo sr. Bocage e pelo sr. Luiz do Soveral foi recebido de braços abertos; a experiencia, porem, tem demonstrado que as difficuldades das delimitações em Africa, não acabaram e são de tal importancia que o governo entendeu que devia nomear um commissario regio, para o que escolheu o sr. conselheiro Antonio Ennes, e estas delimitações ainda não estão feitas.

Disse então, que dificilmente se fariam as delimitações, porque a questão era de limites e o tratado era de limites.

O tratado do sr. Hintze tinha a vantagem de acabar com esta questão.

Porque se fez o outro? Porque se approvou?

O sr. Hintze Ribeiro, que é quem indica ao chefe do estado os collegas que mais convem no ministerio, porque indicou o sr. Soveral? S. exa., repito, não era conhecido do paiz como homem parlamentar, era apenas um diplomata. Aqui está a anarchia no governo.

Nas obras publicas não me recorda agora quem foi o primeiro ministro que acompanhou o sr. Hintze Ribeiro. Sei que entrou depois o sr. Carlos Lobo d'Avila, que foi substituido pelo actual sr. ministro das obras publicas, a quem nós não temos senão a felicitar, pois que, cavalheiro distincto e zeloso, tem mostrado a maior boa vontade em desempenhar tão elevado cargo.

Ora, sr. presidente, eu pergunto onde está a anarchia? Está no governo, pois os seus membros nunca se entenderam entre si.

Como disse o sr. conde de Bertiandos, a anarchia está no proprio governo, porque foi no governo que se deram circumstancias graves, tão graves que as recomposições succediam-se de uma maneira vertiginosa, tão graves que o publico era surprehendido quasi todos os dias por novas recomposições.

E vem-se dizer que, para justificar as medidas de dictadura, circumstancias graves levaram o governo a promulgar aquelles decretos! Não se comprehende!

Sr. presidente, estou um pouco fatigado e não estou mesmo bem de saude; não desejo, pois, alargar as minhas considerações por mais tempo, mas simplesmente pedir ao governo ou ao sr. relator da commissão que de algumas explicaçães a este respeito.

O assumpto a que eu tive a honra de me referir parece que não é tão insignificante que não mereça, da parte de s. exas. algumas explicações.

Sr. presidente, declaro a v. exa. e á camara que o meu voto é contrario ao projecto que se discute.

O sr. Antonio de Serpa (relator): - Como relator do projecto que está em discussão, entendo do meu dever pedir a palavra. Não o tenho feito ha mais tempo por isso que os srs. ministros se têem apressado a usar d'ella para responder a algumas arguições que lhe têem sido dirigidas. Vou, pois, dizer alguma cousa e sobretudo referir-me ás moções que foram mandadas para a mesa.

A primeira foi apresentada pelo sr. arcebispo-bispo do Algarve, a quem a, camara ouviu não só com toda a attenção, mas, posso dizel-o principalmente pela parte que me diz respeito, com todo o agrado e deleite; o seu discurso excellente na fórma, foi alem d'isso sympathico na idéa. (Apoiados.)

Qual foi a moção que apresentou o digno par? Uma moção que não contraria de modo nenhum o projecto que está em discussão, e que está perfeitamente de accordo com o parecer de que eu sou relator.

Qual é a idéa da moção do digno par? É que a camara, relevando o governo da responsabilidade em que incorreu pelos actos dictatoriaes que praticou, não quer dizer que esteja perfeitamente de accordo com todos elles, em todas as suas disposições, e reserva-se o direito de os alterar ou emendar.