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132 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Assaltam-o duvidas ponderosas, dominam-o receios muito graves de que porventura e apesar de tudo, (veja a Camara que modestia a do Sr. Ministro da Fazenda) a obra de S. Exa. não fosse nem tão completa nem tão perfeita como devia ser, para corresponder aos lidimos interesses do paiz. S. Exa. é assaltado por esse receio, e elle, que é um homem de sã consciencia, descrê da situação e quasi vae até o ponto de desejar o naufragio do Governo, a fim de que o contrato não vingue.

Aos que mais de perto estão, communica este desabafo que é a expressão da sua alma porque é a verdade, e, depois de o annunciar, fica n'esta situação temerosa em que o Ministro que fez um contrato o apresenta, o approva, e depois hesita, retira-o, não sabe em que sentido melhor pode servir o seu paiz se é saindo, se é ficando, e, assaltado d'estas duvidas, acolhe-se ao seio generoso e benemerito do Sr. Presidente do Conselho, pede-lhe palavras de incitamento e exemplos de vida para continuar a sua obra, com aquelle desprendimento e aquella inteireza que todos conhecem, e, n'essa altura, a palavra balsamica do chefe do Governo vem adoçar a sua dor, vem tirar o seu receio e, na commissão de fazenda, declara que está ao lado do Sr. Presidente do Conselho. Simplesmente de uma cousa se esqueceu, e foi o não communicar aquelle, a quem devia, o seu desabafo. E assim ficou o Sr. Espregueira, o homem que, em relação ao contrato mais importante do nosso paiz, não sabia se o devia manter ou se o devia abandonar.

Sae o Sr. Alpoim e fica o Sr. Eduardo Coelho, aquelle que na propria Camara investe contra a Coroa, contra a Casa de Bragança e contra o Conselho de Estado! E depois de tudo isto e da triste e desgraçada sessão d'aquelle mesmo dia, ainda ha quem fique: é o Sr. Presidente do Conselho.

Ficará: mas se S. Exa. pensar e se se lembrar durante a noite - e a noite traz bom conselho - do que deve á dignidade do poder e á acção e vitalidade do seu partido, e sobretudo se se lembrar de que, na posição em que está, uma cousa existe sobre todas - o interesse do paiz - faz-lhe elle, orador, n'esse caso, a justiça de que alguma resolução tomará ainda que revele ter comprehendido a sua situação.

Dito isto, pede ao Sr. Presidente que lhe consinta ficar com a palavra reservada para a sessão seguinte.

(S. Exa. não reviu).

O Sr. Presidente: - O Sr. Presidente do Conselho acabava de pedir a palavra. Vae consultar a Camara.

Vozes: - Não pode ser! Não pode ser!

(Sussurro).

(O Sr. Presidente agita a campainha).

O Sr. Presidente: - O Sr. Presidente do Conselho não pode usar da palavra depois da hora regimental, mas a Camara é soberana; pode conceder-lh'a.

O Sr. Ernesto Hintze Ribeiro: - Não consente que os seus direitos sejam menoscabados! Não consente que, no seu discurso, se intercalle outro, visto ficar com a palavra reservada. Se o Sr. José Luciano quer falar para responder a elle, orador, declara que tal não consente.

O Sr. Presidente: - O Sr. Presidente do Conselho pediu a palavra para antes de se encerrar a sessão.

Vae consultar a Camara.

Vozes: - Fale, fale.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Presidente do Conselho.

O Sr. Presidente do Conselho de Ministros (José Luciano de Castro): - Não se propõe responder agora ao Sr. Hintze Ribeiro. Na sessão seguinte o fará.

Pedindo n'este momento a palavra, tem unicamente por fim dizer a S. Exa. que pode estar tranquillo acêrca da attitude d'elle, orador.

O Sr. Ernesto Hintze Ribeiro: Pede a palavra.

0 Sr. Presidente: - Observa ao Sr. Presidente do Conselho que S. Exa. não pode responder ao discurso do Sr. Hintze Ribeiro, porque não foi para esse fim que pediu a palavra.

O Sr. Presidente do Conselho: - Acata a observação do Sr. Presidente, e apenas dirá que todas as informações que Chegaram ao conhecimento do Sr. Hintze Ribeiro são inexactas.

O Sr. Ernesto Hintze Ribeiro: - Mas S. Exa. está respondendo ao seu discurso.

O Orador: - Referia-se apenas ao que se passou na commissão de fazenda da Camara dos Senhores Deputados.

O Sr. Hintze Ribeiro: - O Sr. Presidente do Conselho pode depois, quando lhe responder, fazer todas as perguntas que entender; tem largussimos tempo para isso.

O Orador:- Quanto ás outras considerações feitas pelo Sr. Hintze Ribeiro, responderá ámanhã quando usar da palavra.

(S. Exa. não reviu).

O Sr. Presidente: - A primeira sessão será ámanhã, e a ordem do dia a continuação da discussão da crise ministerial e a resposta ao Discurso da Coroa.

Está levantada a sessão.

Dignos Pares presentes na sessão de 25 de agosto de 1905

Exmos. Srs.: Antonio Candido Ribeiro da Costa; Marquezes: de Alvito, de Ávila e de Bolama, de Fontes Pereira de Mello, do Lavradio, de Penafiel, da Praia e de Monforte (Duarte); Condes: de Castello de Paiva, de Figueiró, de Lagoaça, de Monsaraz, de Paraty, da Ribeira Grande, de Tarouca, de Villa Real; Visconde de Monte São; Moraes Carvalho, Alexandre Cabral, Pereira de Miranda, Antonio de Azevedo, Eduardo Villaca, D. Antonio de Lencastre, Costa e Silva, Santos Viegas, Costa Lobo, Teixeira de Sousa, Augusto José da Cunha, Palmeirim, Carlos Maria Eugênio de Almeida, Eduardo José Coelho, Ernesto Hintze Ribeiro, Fernando Larcher, Mattozo Santos, Veiga Beirão, Dias Costa, Ferreira do Amaral, Francisco Machado, Francisco de Medeiros, Francisco Maria da Cunha, Tavares Proença, Ressano Garcia, Almeida Garrett, Baptista de Andrade, Jacinto Candido, D. João de Alarcão, Mendonça Côrtez, João Arroyo, Gusmão, Jorge de Mello, Avellar Machado, Correia de Barros, José de Azevedo, Dias Ferreira, Frederico Laranjo, José Luciano de Castro, José de Alpoim, Rodrigues de Carvalho, Silveira Vianna, José Vaz de Lacerda, Julio de Vilhena, Pimentel Pinto, Poças Falcão, Bandeira Coelho, Macario de Castro, Affonso de Espregueira, Pereira Dias, Raphael Gorjão, Pedro de Araujo, Pedro Victor, Sebastião Telles, Sebastião Dantas Baracho, Ornellas Bruges, Wenceslau de Lima.

Os Redactores,

FELIX ALVES PEREIRA
(De pag. 121, a pag. 125, col. 3.ª)

ALBERTO BRAMÃO
(De pag. 125, col. 3.a, a pag. 132, col. 3.ª)