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SESSÃO N.° 11 DE 27 DE MAIO DE 1908 5

O Sr. Conde de Bertiandos: — Não foi para me referir ao ponto versado pelo Digno Par Sr. D. João de Alarcão que eu pedi a palavra; mas não posso deixar de dizer alguma cousa sobre o assunto, e de protestar vehementemente contra o que se passou hoje com os estudantes de Coimbra.

Disse o Sr. D. João de Alarcão que não estava sereno, porque tinha sido victima d'esses acontecimentos um sobrinho de S. Exa.

Essa pessoa é tambem da minha familia e, por consequencia, tambem eu me não encontro com o animo tranquillo.

O certo é que muitos estudantes de Coimbra chegaram a Lisboa convencidos, na sua boa fé, de que se encaminhavam para uma cidade civilizada, mas aguardava-os aqui uma multidão de garotos que os apedreja, que pretende, ao que parece, tirar-lhes a vida, pois, diz-se, chegou a haver facadas. Não sei se isto é verdade.

Mas quem são esses homens que andam por ahi á solta, a insultar toda a gente?

Será a mesma canalha que nos dias posteriores ás eleições andou por ahi a fazer disturbios, chegando a assaltar os carros da viação electrica para aggravarem senhoras?

Infelizmente ainda se ignora de onde procedia essa horda de barbaros.

Sr. Presidente: neste momento esqueço-me da idade que tenho: parece que ainda estou nos meus 20 annos, que me encontro em Coimbra, onde passei o melhor tempo da minha vida, e que o insulto é feito a mim, a todos quantos se honram de possuir um titulo universitario.

Não acredito que fossem estudantes os autores do desacato. Não pode ser.

Sr. Presidente: não se trata apenas de punir criminosos. Trata-se de salvaguardar a vida e a liberdade d'esses moços, que estão em Lisboa durante o dia de hoje, porque ouço dizer que a perseguição continua.

Sr. Presidente: é necessario que esses homens não tornem a ser atacados, e que a cidade se levante, se houver alguem que de novo ouse aggredi-los.

Eu não sou de Lisboa. Nasci no Porto e d'isso me honro, mas residindo habitualmente na capital, protesto contra taes selvajarias. Não sei em nome de quê se praticam estes disturbios.

Ouço dizer que é em nome da liberdade.

Então, uma liberdade d'este jaez tem de ser recolhida a um manicomio para receber o devido curativo.

Liberdade, ou o que quer que é que assim se denomina, quando attinge un tal estado de loucura, precisa de um collete de forças.

Sr. Presidente: tratando agora do assunto para que hontem tinha pedido a palavra, dirijo-me ao Sr. Ministro das Obras Publicas para lhe dizer que recebi ha dias um telegramma de alguns cavalheiros do Douro, pedindo-me que inste com o Governo no sentido de se attenuar a crise vinicola. Recebi este telegramma numa occasião bem triste para mim: no momento em que tinha de partir para a provincia, onde fallecera uma irmã minha.

É esta a razão por que só hoje dou conta á Camara do conteudo d'este telegramma.

O Sr. Conselheiro Teixeira de Sousa já falou a este respeito, e eu estou de acordo com o que S. Exa. disse.

Reuno os meus votos aos d'aquelle Digno Par, para que o Governo olhe com olhos de justiça e de misericordia para aquella região.

Ao mesmo tempo o Governo tem necessidade de se occupar da crise vinicola de todo o país. Ella vae-se aggravando todos os dias mais e mais, e, quanto mais tempo demorar a solução d’este problema, mais insoluvel elle se poderá apresentar.

Eu tinha tambem pensado em dizer algumas palavras a respeito do mau estado das estradas.

Ha uma que eu conheço e onde estive ha pouco tempo - a que vae de Ponte do Lima a Braga — que está intransitavel para carruagens, e perigosa para gente a pé, em razão de ter muitas covas e algumas bem fundas.

Dizem-me que muitas outras estão neste mesmo estado.

Peço ao Sr. Ministro das Obras Publicas que se interesse pela viação publica e que trate quanto possivel de evitar desgraças, porque só com risco de vida se pode transitar de carruagem na estrada que vae de Ponte do Lima a Braga.

(S. Exa. não reviu).

O Sr. Ministro das Obras Publicas (Calvet de Magalhães): — Peço a palavra.

O Sr. Presidente: — Não posso dar a palavra a S. Exa., porque já chegou a hora de se passar á ordem do dia. Só concedo a palavra aos que a pediram por parte de commissões.

O Sr. Rebello da Silva: — Declaro a V. Exa. e á Camara que está constituida a commissão de agricultura tendo sido eleito para presidente o Digno Par Sr. Villaça e para relator o Digno Par Sr. Mattozo Santos.

O Sr. Mattozo Santos: — Pedia pá lavra por parte da commissão de agricultura, para mandar para a mesa um parecer sobre um projecto, vindo da outra casa do Parlamento, e relativo á importação de centeio destinado a subsistencia publica.

O Sr. Presidente: — O parecer enviado para a mesa pelo Digno Par Sr. Mattozo Santos vae a imprimir para ser distribuido pelos Dignos Pares.

O Sr. José de Azevedo Castello Branvo: — Sr. Presidente: eu posso ter a esperança de, nesta sessão legislativa, usar da palavra sobre assunto que desejava tratar?

O Sr. Presidente: — A palavra concede-se pela ordem por que é pedida.

Quando os Dignos Pares não podem alar numa sessão, reserva-se-lhes a palavra para a seguinte. Na seguinte sessão, se os Dignos Pares inscritos não estiverem presentes, ou não puderem usar da palavra, essa inscrição caduca, e S. Exas. teem de se inscrever novamente.

O Sr. José de Azevedo Castello Branco: — Attenta a explicação de V. Exa., Peço a fineza de me inscrever para falar quando puder ser.

ORDEM DO DIA

Continuação da discussão do projecto de resposta ao Discurso da Coroa

O Sr. Jacinto Candido: — Sr. Presidente: antes de entrar na ordem de considerações que vou ter a honra de submetter á apreciação da Camara sobre o projecto em discussão, permitta-me V. Exa. que eu me associe indignadamente, bem do fundo da minha alma, ás palavras de justiça com que os Srs. D. João de Alarcão e Conde de Bertiandos verberaram o procedimento d'aquelles discolos que insultaram e enxovalharam a briosa mocidade de Coimbra.

Ao mesmo tempo, Sr. Presidente, eu declaro a V. Exa. e á Camara que, a continuar este estado de sobreexcitação do espirito publico, Deus me livre de que, de longe ou de leve, qualquer acto affecte pessoa que me seja querida, porque eu hei de tomar estrictas contas, e exigir severas responsabilidades, não só ao Governo, mas tambem — não a essa canalha que tripudia nas das de Lisboa — aos mandantes e dirigentes d'ella. (Apoiados).

Em que epoca, em que país estamos nós vivendo, quando é preciso que cada qual traga no bolso o revólver que ha de ser a garantia da propria vida?

Isto, Sr. Presidente, é o resultado logico, a consequencia inevitavel dos desvarios, das fraquezas, das covardias de quem tinha o dever imperioso de
manter integro, intemerato, o principio