O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

167

CORTES»

CAMARA DOS DIBXOS PARES.

EXTRACTO DA SESSÃO de 5 de FEVEREIRO.

Presidencia do Em.mo Sr. Cardeal Patriarcha. Secretarios — Os Srs. Visconde de Benagazil Margiochi.

(Assistiram todos os Sr.s Ministros.)

Pelas duas horas da tarde, tendo-se verificado a presença de 32 dignos Pares, declarou o Em.mo Sr. Presidente aberta a sessão. Leu-se a acta da sessão antecedente, contra a qual não houve reclamação. Não houve correspondencia.

ORDEM DO DIA.

Continua a discussão do projecto de resposta

ao discurso do Throno. O Sr. Ferrão — Sr. Presidente, não vou apresentar á Camara um discurso bem elaborado e estudado, não tenho o talento que é proprio para isso, não sei mesmo, e nunca soube, estudar e elaborar os discursos para os recitar no Parlamento, aonde todavia mais de uma vez tenho tomado a palavra em questões diversas e gravissimas: tendo formado a minha convicção sobre um objecto qualquer, apresento-a com as palavras que me occorrem, e da maneira que me é possivel: não posso, Sr. Presidente, não está na minha mão, nem no meu temperamento, o votar silencioso, todas' as vezes que intendo que as minhas idéas podem ser de alguma utilidade, e procurando explicar, e apresentar com singeleza a verdade, não posso, nem jamais pude resistir ao desejo de assim o fazer, mesmo quando ministerial; e ministerial hei-de eu ser muitas vezes, creiam ou não creiam os Srs. Ministros. Sr. Presidente, eu hei-de ser ministerial, e hei-de ser opposição, segundo as circumstancias, e as hypotheses que se apresentarem, e quando for ministerial hei-de tomar o judicioso conselho que hoje mesmo li n'uma folha que se publica nesta capital, que (alludindo ás palavras proferidas por um digno Par, que eu sinto não esteja presente) stygmatisou o ministerialismo silencioso, o quietismo parlamentar. Eu tomo este conselho, se bem que não precisava delle, porque tem sido sempre essa a minha conducta, e ha-de continuar a sê-lo. Agora faço a V. Em.ª uma supplica, e é: que não consinta por modo algum que eu me desvie das conveniencias, e da dignidade que devo guardar a respeito de todos aquelles pontos de que vou occupar-me; seja V. Em.ª inexoravel para comigo; V. Em.ª cumpre dignamente o seu logar, e então está claro que não carece de ser excitado para que satisfaça os deveres que lhe cumpre o regimento, mas se por ventura V. Ex.ª quizer usar para comigo de alguma indulgencia, peço-lhe desde já que não use della, até porque assim tambem evitará que alguem, que não pertence a esta Camara, possa arrogar-se o direito de taxar as minhas palavras de improperios, ou como antiparlamentares; pois eu intendo que os membros desta Camara são inviolaveis pelas suas expressões, idéas e palavras aqui proferidas (apoiados). V. Em.ª é portanto o primeiro juiz da conveniencia a semelhante respeito, depois a Camara, e a Camara sobre tudo, porque nem os proprios Ministros que pertencem a esta casa, quando se sentam nos bancos do Ministerio lhes é proprio assumir o caracter de censores (apoiados).

Sr. Presidente, é muito difficil a minha posição tendo que fallar depois de distinctos oradores, aos quaes eu não posso de modo algum comparar-me, nem em talentos intellectuaes, nem em dons oratorios, e menos ainda para dar ao meu discurso um certo ar de amenidade que disponha os ouvintes a meu respeito; pois que, pelo contrario, as minhas palavras serão melancólicas e de tal modo pesadas, que farão um contraste bem sensivel com as impressões que produziram esses discursos a que alludo.

Sr. Presidente, eu sahi hontem desta casa debaixo das mais dolorosas impressões, e quiz tranquillisar o meu espirito buscando distracção n'um theatro, aonde estive por algum tempo, até que me recolhi, mas perdi o somno; de manhã mal pude organisar as minhas notas, e sinto-me doente, porque tambem esta noite me aconteceu aquillo mesmo que um digno Par, que se senta deste lado, já disse que lhe tinha succedido na outra noite; mas eu fui mais infeliz, porque não era só um phantasma que andava em torno do meu leito, tirando-me o somno, eram dois phantasmas: imaginei que o erro e o amor proprio agrilhoando os Srs. Ministros, os perdia, perdendo-nos tambem! Oxalá que não passe de visão!..

Escusado me parece que seria declarar eu que entro na discussão da resposta ao discurso da Corôa, sem odio, nem rancor; pois intendo que é sempre muito máo modo de responder a qualquer digno Par que toma a palavra, o entrar nas suas intenções (apoiados), o suppôr que são levados por máos motivos, ou de paixão, ou de odio, ou de despeito. Ou os argumentos que os dignos Pares apresentam peccam na fórma, ou na materia; ou são falsos os principios, ou o são as consequencias, ou as hypotheses, ou os factos em que se firmam são verdadeiros, ou não. Eis-aqui ao que eu intendo que se deveria reduzir a refutação dos seus argumentos, e dos seus raciocinios.

Sr. Presidente, sendo eu estranho completamente á antiga maioria desta casa, não tendo tomado parte nas suas votações, não tenho a allegar em meu favor senão os precedentes da minha vida publica, da minha vida politica. Fui deputado quatro annos, perto de cinco, e deputado como se costuma dizer ministerial; tinha um logar de commissão junto do Governo, parte, em certo modo, desse Governo porque era Conselheiro da Corôa; mas, apesar disso, em questões uteis e importantissimas emittia sempre o meu parecer com independencia, com o zêlo necessario que me inspira a convicção da justiça ou injustiça com que se apresentam. V. Em.ª foi testimunha do meu afinco, porque o acompanhei no zêlo, e. patriotismo, com que tres dias consecutivos discutimos neste mesmo local a lei dos foraes, quando já o edificio politico se achava, para assim dizer, desmantelado, e nós neste destroço geral trabalhando para dar essa lei ao paiz! Era muitas