O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

APPENDICE Á SESSÃO DE 28 DE MAIO DE 1890 226-A

O sr. Barros Gomes: - Eu não queria pela minha parte deixar de me associar com o meu voto expresso ás propostas dos srs. Camara Leme e Costa Lobo.

Com respeito a Silva Porto, foram já ha pouco exaltadas como o deviam ser as suas grandes qualidades e serviços. Silva Porto era um nome conhecido não só em Portugal, como na Europa inteira; e se entre nós são naturalmente mais apreciados os seus serviços em favor das expedições portuguezas, das quaes muitas das mais notaveis deveram o exito aos seus esforços, (Apoiados.) não é menor a gratidão que lhe devem muitos, e dos mais illustres expedicionarios estrangeiros.

Uma das expedições mais recentes, a que ficou ligado o nome de Silva Porto foi a do dr. Arnot que, sendo eu ministro, especialmente recommendei ás auctoridades da Africa occidental, póde ser levada a cabo pelo seu auxilio.

Os serviços que lhe prestou Silva Porto, e que me foram agradecidos pelo ministerio inglez, ficarão felizmente consignados em todas as publicações e publicas conferencias d'aquelle viajante.

O dr. Arnot realisou a sua viagem em sentido inverso á do nosso illustre compatriota Serpa Pinto; pois partiu do Natal e veiu encontrar Silva Porto em Lialui, no Barotse.

Quando aqui chegou encontrava-se doente e abatido, e foi, graças á experiencia do tracto indigena, ao auxilio de Silva Porto e á sua longa pratica no sertão, que póde seguir com a sua expedição; não admira, por isso, que, sempre que teve occasião de fallar d'essa expedição, o dr. Arnot se refira a Silva Porto, e tenha repetido o seu nome perante todas as sociedades scientificas, e em todas as assembléas reunidas em Inglaterra para tomar conhecimento dos resultados da sua recente e brilhante travessia africana.

Por minha parte tambem, e ainda ha pouco, quando se tratou de demonstrar perante a Europa os nossos direitos, tive occasião de fallar em Silva Porto, como um dos elementos mais prestimosos da nossa influencia no sertão africano.

Tenho hoje ouvido, no decurso d'esta conversação parlamentar, fazer uma certa ordem de reflexões, a que não posso deixar de me associar; assim, por exemplo, o digno par o sr. Costa Lobo deseja e pede que haja prudencia na organisação das expedições, que os esforços que tentarmos para o que representa a affirmação pratica do direito á herança dos nossos maiores, sejam dirigidos com a maior prudencia e organisadas com segurança e reflexão. Mas se acceito por minha parte, e me conformo com este conselho prudente, associo-me igualmente ao que ha pouco disse o digno par o sr. conselheiro Lencastre, affirmando que não devemos tirar destes passageiros revezes, relativamente pequenos, motivo para esmorecer nem desanimar, e folguei muito do ver que neste accordo estava tambem o sr. ministro da marinha.

Bem pelo contrario, o que devemos é empenhar-nos em continuar com ardor as nossas expedições. (Apoiados,)

Se consultarmos a historia da nossa grandeza maritima e colonial, encontrámos a miudo revezes terriveis, a começar, por exemplo, na propria vida do iniciador illustre desse movimento, do nosso infante D. Henrique; que grandes contratempos e infortunios, que momentos tão amargos não experimentou esse homem, que era destinado a representar na historia do mundo esse papel tão assignalado!

Quem não recordará com magna essa infeliz expedição de Tanger, que veiu terminar com a morte de um principe querido, de seu irmão Fernando, e que foi um lance tão fatal para as armas portuguezas! (Apoiados.) Tolheu porventura esse desastre, a realisação final e brilhantissima dos designios do infante?

Devemos tambem notar, para reanimar a proseguirmos hoje na senda encetada, que ao lado dos desastres encontramos expedições brilhantes, assignalando-se com resultados que offerecem confronto com os que mais engrandecem estranhos expedicionarios; eu não conheço, por exemplo, como expedição politica, nada mais notavel, efficaz e fertil, do que foi a expedição de Antonio Maria Cardoso! (Apoiados.)

Não se póde começar roais abandonado e falho de elementos e de recursos, para chegar por fira a levantar mais alto o nome portuguez, e a congraçar mais sympathias era torno do seu nome.

No mesmo sentido a expedição de Paiva de Andrada e Victor Cordon, é tambem um facto que se póde tomar para modelo de outras expedições, tendo sido, como foi, coroada do mais completo exito, e testemunhado de modo triumphante o valor politico e a importancia do nome portuguez nas regiões que atravessaram.

E se estas e outras expedições que dirigimos para outras regiões não tiveram o exito final que legitimamente lhes cabe, não deixam de ser um documento e um testemunho do que ainda póde, do que ainda vale e do que ainda sabe realisar em valor, audacia e nobreza esta nossa raça portugueza, tão generosa, e que tamanho papel soube desempenhar na historia.

Ainda ha pouco tempo tambem na região de Angola, e n'este ponto eu appello para o testemunho do sr. ministro da marinha, nós tivemos um resultado feliz obtido por uma expedição commandada por Arthur de Paiva, esse brioso e bravo official que tantos serviços tem prestado á nação; refiro me á expedição dos Ambuellas, a qual foi a duzentas ou mais leguas da costa, erguer de novo a bandeira portugueza junto ao Cubango.

Era uma expedição que tinha pequenos recursos, mas pelo esforço do seu commandante conseguiu o mais que se podia conseguir, desfraldando a bandeira nacional e reerguendo o forte Maria Amélia, destruido mezes antes pela revolta dos indigenas.

Aqui temos, pois, era tempos recentes, uma serie de exitos brilhantes para nos consolarem de um ou outro ligeiro revez, que se-nos póde fazer reflectir, e nos obriga a lamentar as victimas d'elle, não nos deve fazer desanimar no caminho encetado, que se harmonisa com o nosso passado, e representa para Portugal o seu unico futuro.

Vozes: - Muito bem.

O sr. Barros Gomes: - Como se acha presente o sr. ministro da marinha desejava chamar a attenção de s. exa. para dois factos que dizem respeito á administração do ultramar.

Póde ser que s. exa. não esteja neste momento nas condições de poder esclarecer a camara de um modo preciso, e ainda que o podesse fazer, com relação pelo menos a uma das perguntas que tenciono dirigir ao nobre ministro, seria necessario um debate mais amplo, que não é agora o momento de encetar, nem o regimento da camara o permittiria; no emtanto ou resumirei o mais possivel o que tenho a dizer.

Sr. presidente, todos conhecem o contrato celebrado pelo governo transacto com a mala real portugueza, contrato que nos garantia a regularidade das communicações sob a bandeira portugueza para os portos da Africa oriental.

Segundo a voz publica a empreza não póde manter-se. Não sei se o sr. ministro já deu algumas explicações a este respeito na outra camara.

O que é certo, e que a empreza lucta com difficuldades provenientes principalmente dos termos e clausulas do primitivo contrato. Eu apenas me limitarei, por emquanto, a dizer ao nobre ministro que s. exa. deve encarar o problema da ligação da metropole com as colonias da Africa o mais de alto que seja possivel, e livrar-se de todas as preoccupações ácerca da critica, que as paixões partidarias suscitam contra os actos ministeriaes. Procure s. exa. com a energia, boa vontade e experiencia que tem, estudar a

19 *