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44 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

(Entrou o sr. presidente do conselho de ministros e ministro da guerra.)

O sr. Presidente: - Não ha negocio algum sobre a mesa e portanto, se conviesse á camara, eu proporia que se suspendesse a sessão por meia hora até dar tempo ao sr. ministro de receber o aviso (apoiados).

(Pausa.)

O sr. Presidente: - Convem a camara em que se suspenda a sessão por meia hora até chegar o sr. ministro, cuja presença parece ser indispensavel no estado em que se acha a questão?

Resolveu-se affirmativamente.

Suspendeu-se a sessão.

Eram duas horas e meia.

(Entrou o sr. ministro da marinha, eram duas horas e cincoenta e tres minutos da tarde.)

O sr. Presidente: - Continua a sessão que tinha sido interrompida por não se achar presente o sr. ministro da marinha. Agora que s. exa. chegou tem a palavra o sr. Casal Ribeiro.

O sr. Casal Ribeiro: - Depois de ter agradecido á camara a condescendencia que tivera com a situação em que se achava depois do discurso do sr. ministro da marinha, suspendendo a sessão até s. exa. chegar, disse que ouvira com veneração as advertencias do sr. presidente com as quaes esperava conformar-se, e entrou no debate.

O orador expoz os motivos de alcance politico para Portugal que levaram a fazer a sua interpellação, que mais veiu demonstrar a sessão do parlamento hespanbol no dia 20 em que ali se votou a fórma monarchica; e por esta occasião expoz quaes eram as rasões da politica por elle seguida no seu ministerio, a conservação da independencia de Portugal. Defendeu-se das injustas accusações que se lhe fizeram, e sentindo que pela voz do sr. ministro da marinha se lhe tivesse feito uma provocação, estabeleceu o parallelo entre o escripto de s. exa. no prologo da Iberia, obra de politica e de propaganda, e um escripto seu feito expressamente para combater essa propaganda; concluiu declarando que não podia assentar-se ao lado do sr. ministro no banco dos réus, para onde o chamára, nem queria sentar-se com elle no carro do triumpho.

O sr. Presidente: - Segundo o regimento, devo dar a palavra ao sr. ministro da marinha, não obstante te-la pedido primeiro o sr. marquez de Vallada.

Tem a palavra o sr. ministro.

O sr. Ministro da Marinha (Latino Coelho): - Respondendo ao digno par, disse que não tinha sido sua intenção provocar a s. exa., e que se invocou o seu nome foi, não para senta-lo no banco dos réus, mas para mostrar na sua pessoa um exemplo das injustiças de que elle mesmo, sr. ministro, estava, sendo victima.

O orador acrescentou que, quando combatera a politica de s. exa. na sua alliança intima com a Hespanha, tinha sido movido pelo pensamento de que ella se ensaiava na propria occasião em que ali se estava seguindo uma politica nefasta, que foi a que deu causa á revolução de setembro, que fez descer do solio a dynastia que ali se sentava, e a obrigou a sair do reino; e estava na convicção de que procedendo assim procedia bem, pois que a opinião publica o apoiava: e deu explicações sobre os varios pontos do discurso do digno par que o tinha precedido no use da palavra.

O sr. Casal Ribeiro: - Não abusarei da paciencia da camara, e desde já agradeço a sua benevolencia. Eu não tenho nada a redarguir ao sr. ministro, quanto á parte politica do seu discurso, tenho comtudo a insistir num ponto, sobre o qual desejo que s. exa. me dê uma explicação immediata. Quando eu disse que era defeso entrar em factos da vida particular, não o disse sem intenção: referia-me a um escriptor que em 1867 fez a descripção de certas salas não ricas mas modestas, e nas quaes porventura o dito escriptor poderia ter entrado, e de certas festas que de certo não eram pagas pelos cofres publicos, insinuando que se passavam ali actos indecorosos para o dono da casa, uma especie de orgias da regencia, e onde se fazia distribuição de graças e empregos.

Quando portanto eu disse que se não devia entrar na vida privada referia-me aos escriptores que se ingeriam em factos da vida privada, e cujos artigos aqui tenho.

(O sr. ministro da marinha fez uma interrupção que não póde perceber-se.)

(Susurro e agitação na sala.)

O sr. Presidente: - Eu peço ordem, peço prudencia ao digno par e ao sr. ministro. E observarei que não sei se será conveniente, para a dignidade d'esta camara e para o paiz, que progrida esta discussão (apoiados).

Perdeu-se de vista a questão politica, e entrou-se no campo das recriminações, do que eu talvez deva ser censurado por não ter desde o principio obstado a que se chegasse a este ponto.

O sr. Casal Ribeiro: - Agora peço apenas a v. exa. que me deixe concluir. O que eu desejava era que o sr. ministro declarasse se, quando entrou no elogio da sua vida domestica, e expoz uma certa theoria sobre a moralidade particular, queria fazer alguma allusão a quem tinha acabado de fallar.

O sr. Presidente: - Vou dar a palavra ao sr. ministro da marinha, porém, antes de lha dar, cumpre-me recommendar a s. exa. que use da prudencia e moderação proprias d'esta casa.

O sr. Ministro da Marinha: - Não duvidava responder logo que o digno par lhe mostrasse as calumnias do artigo de que se queixa, e lhe provasse que tinham sido escriptas por elle.

(Cresce a agitação e o susurro.)

O sr. Casal Ribeiro: - Se a camara mo consente, mando para a mesa o jornal em que vem o artigo.

O sr. Ministro da Marinha: - Perguntou em que jornal se lia, e qual era a data do mesmo.

O sr. Casal Ribeiro: - Está no Jornal do commercio de janeiro de 1867; mas não me lembra a data.

Tenho aqui o jornal, posso manda-lo para a mesa.

O sr. Visconde de Chancelleiros: - Eu tinha pedido a palavra para um requerimento, a fim de que v. exa. me declarasse qual era a ordem do dia de hoje, pois não pude comprehender, dos dois discursos que ouvi, qual ella era; mas depois, na explicação do sr. Casal Ribeiro, pedi tambem a palavra para requerer a v. exa. que mantivesse a dignidade d'esta casa (apoiados), e não consentisse nunca que qualquer discussão se convertesse em duello de doestos, como acabâmos de ouvir.

Não qualificarei a sessão de hoje, e pedirei ainda a v. exa. no exercicio do meu direito, que não consinta qualquer explicação sobre este assumpto (apoiados), porque mesmo com isso não perde nada a honra de cada um dos contendores. Ha desaggravos, aliás justos, que se não podem tirar aqui.

É este o meu requerimento: que v. exa. de por findo este incidente, e me declare qual é o objecto da discussão. Eu tenho a palavra; ámanhã desejo usar d'ella, se, continuar a discussão, e por isso preciso d'esta declaração.

O sr. Presidente: - A camara acaba de ouvir o requerimento do digno par, que me parece muito sensato. Se a camara quer continuar com esta discussão, dá-la-hei para ordem do dia de amanhã. Mas agora devo dizer que é de todo o interesse da camara e do paiz, e é mesmo da dignidade do governo, que cesse esta discussão.

Está fechada a sessão.

Eram cinco horas e meia da tarde.

Relação dos dignos pares que estiveram presentes na sessão de 24 de maio de 1869

Os exmos. srs.: Condes de Lavradio, de Castro; Cardeal patriarcha; Marquezes, de Ficalho, de Sabugosa, de Valla-