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72 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

porque foi essa partido, embora pequeno, que conquistou o poder para o partido progressista, que, teria talvez morrido, se não fôra o nosso leal e desinteressado esforço.

Valia mais que, quando o partido progressista, nas horas da amargura e da desgraça, prestos a dissolver-se e já nas vascas da morte, lançava olhos piedosos para nós, e dos pedia amparo e conforto, valia mais, sr. presidente, que nós, constituintes, membros de una partido aliás tão pequeno, em vez de nos sacrificarmos por elle com toda a abnegação, o deixassemos morrer envolto nos artigo da sus imprensa, que investia contra a constituição e injuriava a pessoa do Rei.

Na hora de amargura, esse partido desanimado, sem alento, dirigindo-se então aos constituintes, não havia proposta que não lhe fizesse, sem excluir a direcção, o commando partido. E nós, com o maior desinteresse, com a maior abnegação, recusámos tudo, porque não tinhamos outro empenho nem outra aspiração que não fosse servir lealmente o paiz.

Infelizmente o paiz não lucrou com a substituição, antes perdeu. Os gastos excessivos continuara, pedindo-se novos e mais onerosos sacrificios ao contribuinte, sem se lhe dar uma esperança de allivio futuro. A questão de fazenda continua na mesma ou mais aggravada ainda porque se têem já esgotado abundantes fontes de receita, N'esta prespectiva não valia a pena substituir por aquelle o ministerio presidido pelo sr. Fontes. Não valia, a pelo sr. presidente, substituir o ministerio presidido pelo sr. Fontes, por essa ominosa administração que ahi está illudindo as esperanças do para e enganando a corôa.

Não valia a pena substituir o ministerio do sr. Fontes, por uma administração, que com enormes defeitos e erros sucessivos tem esfarrapado a gloriosa bandeira do partido progressista. Ao menos o sr. Fontes, a par dos seus defeito; (e quem ha que os não tenha?) tem eminentes qualidades. Ao menos o sr. Fontes, se foi prodigo na administração da fazenda publica, se se não prendeu com as economias, deixou um rasto luminoso na sua passagem pelo poder, vinculando o seu nome aos melhoramentos publicos á viação accelerada.

Todos os caminhos de ferro d'este paiz, excepto o de Torres, são da sua iniciativa. Eu que combati a sua administração com energia, com violencia até, folgo de lhe fazer justiça, repetindo aqui perante o parlamento palavras que já tive ensejo de pronunciar n'outra sessão.

É necessario fazer justiça a todos! Não me cega a paixão partidaria. Reconheci grandes faltas, grandes erros no ministerio regenerador, combati-o como pude; mas ao mesmo tempo não posso deixar de dizer que da sua estada no poder resultaram obras publicas das mais importantes e differentes caminhos de ferro, com que o paiz sempre lucra.

Este ministerio, porém, o que fez, o que nos lega? O negocio de Torres Vidras e um emprestimo monstruoso, com commissões, fabulosas.

Quando um partido affirma no poder idéas contrarias ás que sustentou na opposição; quando um governo defende doutrinas e principios que sempre condemnou, como contrarias ao seu credo politico; esse governo esquece os seus compromissos de honra, falta á sua palavra, renega a historia gloriosa, do seu partido, despreza as suas tradições nobres e o seu illustre passado, illudo as esperanças no paiz e engana completamente a corôa.

Sr. presidente, nutri a doce illusão, quando o actual ministerio subiu ao poder, de que elle realisaria parte das aspirações do paiz; mas desenganos sobre desenganos succederam a essa illusão!

Nem uma aspiração só foi realisada, nem uma unica promessa foi cumprida.

Sr. presidente, um governo assim é como os flageilos que Deus manda a um paiz quando o quer castigar.

Composto de homens embora apreciaveis na vida particular, mas detestaveis como ministros, eu considero-os como o instrumento que Deus escolheu para castigar esta infeliz nação.

A hora final, que está prestes a soar, ha de ver como cáe um governo, arrastando o partido nos farrapos do seu programma.

O sr. Presidente: - Vae ler-se um officio que veiu do ministerio dos negocios estrangeiros.

Leu-se na mesa, é do teor seguinte:

Um officio do ministerio dos negocios estrangeiros, remettendo 100 exemplares de um volume do Livro branco, contendo documentos relativos á negociação de algumas modificações nas disposições do tratado de 30 de maio de i879 entre Portugal e a Gran-Bretanha, que se acha submettido á approvação das côrtes.

Mandaram-se distribuir.

O sr. Pires de Lima: - Usou da palavra sobre a ordem.

(O discurso do digno par será publicada quando s. exa. o devolver.)

O sr. Visconde de Chancelleiros: - Sr. presidente, peço a palavra para uma explicação, visto tratar-se de uma questão pessoal.

O sr. Presidente: - Está inscripto para uma explicação, no fim da sessão, o sr. visconde de Chancelleiros, que pediu tambem a palavra sobre a ordem. Como não se póde pedir a palavra sobre a ordem sem se apresentar uma moção, peço ao digno par que comece o seu discurso mandando para a mesa a mesma moção.

O sr. Visconde de Chancelleiros: - Mandou para a mesa a sua moção.

(O discurso do digno par será publicado quando s. exa. o devolver.}

Leu-se na mesa a moção de ordem apresentada pelo sr. visconde de Chancelleiros, que. é do teor seguinte:

Para que ao paragrapho da resposta que começa "A camara dos pares collaborando com o governo de Vossa Magestade, etc." se juntem as palavras: "sem distincção de partido."

Foi admittida á discussão.

O sr. Presidente: - Esta moção, que é effecttvamente um additamento, fica em discussão com a materia principal, e será submettida á votação depois de votado o projecto de resposta ao discurso da corôa.

O sr. Serpa Pimentel: - Pedi a palavra, sr. presidente, na occasião em que o sr. ministro do reino, que sinto não ver presente, invocando o interesse publico, pediu a benevolencia da camara, para que deixasse o governo, n'esta occasião difficil em que nos encontramos, tratar de resolver a questão financeira.

Pois a questão financeira cão está já resolvida?

Pois nós temos ainda uma questão financeira?

Pois este governo, que está ha vinte mezes no poder, que trazia um programma para resolver todas as difficuldades financeiras, que viu approvadas pelo parlamento todas as suas medidas salvadoras, e que apresentou já o orçamento para o terceiro anno da sua gerencia, tem ainda que resolver a questão de fazenda?

Esta, sr. presidente, não é de certo a occasião mais propria para discutir a questão financeira, mas permitta-se-me que eu estranhe a reflexão do sr. ministro, que não está presente, pois a questão financeira é exactamente uma d'aquellas que mais contribuem para o descontentamento publico, e para que os srs. ministros não possam infelizmente continuar por muito tempo a sentar-se n'aquellas cadeiras.

Como muito bem disse o sr. visconde de Chancelleiros, esse governo entrou para a gerencia dos negocios publicos nas circumstancias as mais favoraveis para poder resolver a questão de fazenda.

É verdade que o governo actual encontrou no deficit e uma divida fluctuante; mas qual é o governo n'este paiz