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SESSÃO DE 30 DE MAIO DE 1890 231

inspirado o meu procedimento até hoje, e nas que s. exa. accentua constantemente, tanto n'esta como na outra casa do parlamento.

Não quero suscitar uma discussão que s. exa. julga intempestiva, nem quero com os meus reparos aggravar questões que eu reputo do mais alto interesse publico, mas a natureza das perguntas dirigidas ao governo pelo meu digno collega o sr. Costa Lobo obrigam me a fazer uma declaração categorica e terminante.

Áparte, pois, d'essas perguntas que directamente se referem á gerencia da pasta que eu tive u honra de sobraçar, perguntas que se basearam na conjectura que s. exa. formulou ao compulsar o Livro azul onde estão compilados os documentos que foram apresentados ao parlamento inglez, eu devo declarar, do modo mais terminante, para que essa minha declaração fique consignada para todos os effeitos e uma vez por todas na acta d'esta sessão e nos registos da camara, que o governo portuguez, em todos os actos que praticou, teve unica e exclusivamente em mira a defeza dos direitos de Portugal naquellas regiões africanas, e procedeu tão sómente sob a sua unica inspiração, sem accordo previo ou ligação com qualquer outro governo.

Eu desejava que isto ficasse claramente accentuado. Devo acrescentar que os negocios africanos de Portugal, pela sua extraordinaria importancia, fizeram, como nau podiam deixar de fazer, o assumpto de repetidas communicações verbaes e mesmo escriptas por parte de muitos dos nossos representantes no estrangeiro com os respectivos governos, ou por minha parte com os representantes d'esses governos em Lisboa.

Nem era de crer que uma questão que interessa áquelles governos, porque são muitos os que têem possessões em Africa, deixasse de por elles ser observada com interesse; e o governo portuguez tinha tambem toda a conveniencia em ter esses governos sempre ao facto não só do que ia Decorrendo, mas ainda e especialmente da sua maneira de apreciar a questão e de ver esses assumptos da politica africana. Porém, d'ahi a um accordo previo ou combinação com qualquer governo isoladamente vae uma distancia muito grande. Por isso eu desejo consignar aqui do modo mais accentuado, que o governo procedeu unica e exclusivamente sob a sua inspiração, e de accordo com o que entendia ser a melhor maneira de defender os interesses portuguezes n'aquellas regiões, mas sem prévio accordo nem por inspiração de um determinado governo estrangeiro.

O ar. ministro da negocios estrangeiros já explicou á camara de um modo clarissimo, e eu folguei com as palavras de s. exa., qual era para nós a importancia do tratado com a Allemanha. Aquelle tratado garantia-nos as fronteiras norte de Moçambique até ao Nyassa, e as do sul de Angola ata ao Zambeze. Deu-nos ainda por parte de uma grande potencia, que tem já hoje largos interesses em Africa, o mesmo reconhecimento que o sr. Barbosa du Bocage já tinha procurado obter da Franca, que tambem está nas mesmas condições, isto é, o reconhecimento de que nenhuma daquellas duas nações tentaria contrariar a nossa expansão nas regiões que separam Angola de Moçambique.

Dos perigos apontados pelo digno par e meu amigo o sr. Costa Lobo estamos, pois, livres. Garante-o de modo formal esse convénio, que eu tive a honra de assignar, que tão combatido foi, para que hoje vejo felizmente que todos appellam, e cujo absoluto respeito nos é garantido pela lealdade da grande potencia que o firma a par de nós, e ácerca de cuja boa fé no cumprimento pleno das obrigações tomadas para comnosco, ninguem póde sequer levantar a menor duvida ou suspeita.

O sr. Camara Leme: - Sr. presidente, eu tinha na outra sessão pedido a palavra com relação a este assumpto, dos nossos negocios de Africa; mas esperei, para ir de accordo com o desejo do meu amigo, o sr. Vaz Preto, que aqui podesse vir o sr. presidente do conselho. S. exa. porém, não póde comparecer; mas o sr. ministro dos negocios estrangeiros teve a amabilidade de se promptificar a por elle responder-nos.

Ora, não insisto pela presença do sr presidente do conselho; até direi que estimo que s. exa. não esteja presente, não porque nas reflexões que vou fazer tenha intenção de molestar a s. exa., meu antigo amigo, a quem eu reconheço os mais altos dotes de coração. Não quero dizer que s. exa. não tenha, como todos têem, defeitos; mas o defeito que lhe eu noto é um defeito politico, que por entro lado, faz honra ao seu caracter: é o defeito que tambem tinha uma notabilidade e uma gloria do nosso paiz, o duque de Saldanha, a quem eu consagrava a maior veneração: o de ser minto condescendente. Politicamente, esta qualidade é um defeito. Todavia, se bem ausente, eu não vejo ali senão o sr. presidente do conselho. Sei que não agrado a s. exa., nem a nenhum lado da camara, mas fico bem com a minha consciencia agradando ao paiz, que não póde ver com olhos complacentes tão deploraveis contradições que ferem o bom senso e altos principios de moralidade politica. Sei que as verdades amargam, mas eu não vim aqui para lisonjear ninguem e para sanccionar com o meu silencio factos condemnaveis. Isto digo eu de passagem, e vou entrar na questão.

Sr. presidente, eu costumo ler os jornaes estrangeiros, principalmente quando elles se referem a assumptos que nos interessam, como são agora as questões de Africa.

Ora, ha um jornal que se publica em Bruxellas, muito bem informado sempre na politica dos gabinetes européus; é a Independencia belga. Este jornal disse ha dias que ha tempo uma companhia ou companhias inglezas tinham solicitado do governo portuguez a concessão de dois ou tres caminhos de ferro na nossa Africa oriental, que construiriam som exigir subvenção alguma e só com a cessão de 3:000 hectares de terreno era toda a extensão da linha.

Já vê v. exa. que este pedido é de summa importancia e para elle deve convergir toda a attenção do governo portuguez.

Com isto coincidiu uma noticia que surprehendeu toda a gente. Dizia se ha perto de um mez que um alto personagem politico d'este paiz ia ser encarregado de uma missão importante, missão na costa oriental do Africa.

V. exa. e a camara adivinham que o alto personagem, a quem se referiam, era o sr. Marianno de Carvalho. Devo declarar que sou tambem um dos admiradores do grando talento de s. exa., que nunca dirigi insinuação nenhuma ao seu caracter, e que tenho divergido constantemente ou não tenho sympathisado com a sua politica.

O sr. Marianno de Carvalho é, sobretudo, um grande talento analytico.

N'este momento tenho pena de que não esteja presente o sr. presidente do conselho, porque s. exa., que é um mathematico distincto, de certo comprehenderia a torça, da minha argumentação.

O sr. Marianno de Carvalho, dizia eu, é um grande talenta analytico; com elle tem prestado importantes serviços; e, se não, veja v. exa. o que aconteceu com o caminho de ferro do norte, onde o illustre ex ministro apresentou um relatorio que póde ser considerado como modelo; veja-se ainda como esse talento se revelou na companhia do gaz e na régie.

Eu lembro-me de quando estudei mathematica aprender o que eram a differenciação e a integração. Ora, o sr. Marianno de Carvalho não é, na parte synthetica, tão feliz como na analyse ou, para melhor dizer, o sr. Marianno é infeliz na parte synthetica.

Em harmonia com estas cousas, ainda eu hontem li um artigo n'um jornal muito serio, que se publica n'esta capital, fallando dos cerebros dissolventes, onde se diz:

"Os homens mais celebres na historia da humanidade, ou que mais se têem distinguido, ou a favor ou contra