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134 ANNAES DA CAMAEA DOS DIGNOS PAEES DO KEINO

pre, mantendo porem a convicção das suas opiniões, tendo o desassombro de as expor, não occulta perante o Parlamento o que faz, o que pensa e o que diz.

Concordou no adiamento das Côrtes, nas melhores intenções, cuidando que o Sr. Presidente do Conselho aproveitaria o interregno parlamentar, orientando-se n'um espirito de conciliação. Enganara-se. Erro menos desculpavel? Talvez.

Mas foi ainda um acto de um homem publico com as responsabilidades do Governo de hontem, e na comprehensão do que são as responsabilidades dos outros.

O Sr. Presidente do Conselho, - e não tem que se referir ao Conselho de Estado, e somente ás declarações dos factos - pediu o adiamento das Côrtes para acalmação das paixões politicas, e, suppondo - ingenuidades talvez - que S. Exa. teria, como chefe de partido ha vinte annos, a força, a auctoridade, o prestigio, a prudencia, a moderação, a generosa acção do seu conselho indispensavel para o interesse da causa publica, julgou que isso era um bem e na sua consciencia não podia recusar ao Governo a comprehensão de um esforço legitimo, proveitoso a bem do proprio paiz.

Pensava que o Sr. Presidente do Conselho aproveitaria o interregno parlamentar para reunir e acercar de si os seus amigos politicos divergentes, para aplacar as difficuldades suscitadas, procurando removel-as para com interesse, com o esquecimento de quaesquer aggravos, com a isenção de culpas, emfim com a reflexão, prudencia e moderação que se impõem a quem tem tão alta responsabilidade de cargo.

Julgara que S. Exa. aproveitasse o intervallo parlamentar para compor, harmonizar, para juntar todos os elementos valiosos do seu partido, e preparando uma acção governativa, cumprindo assim o seu dever como homem de Estado, presidente de um Governo e chefe de um partido.

Enganara-se.

A culpa, com a mesma isenção, com a mesma verdade, com a mesma sinceridade com quê fala á Camara, a culpa é principalmente do Sr. Presidente do Conselho. Sente dizel-o; estimava bem affirmar o contrario, mas, no seu criterio, na sua convicção, S. Exa. não comprehendeu qual era o alcance das suas responsabilidades, nem qual era a natureza dos seus deveres politicos. Longe de compor, de apaziguar, irritou; e n'isto lançou a provocação.

Tinha durante o intervallo parlamentar um largo espaço de tempo. Era aproveital-o, e mostrar que acima das paixões se impõe o dever que tem todo o verdadeiro homem de Estado. De duas, uma: ou o Sr. Presidente do Conselho tinha a comprehensão nitida de que descendo a tão fundo, cavava abrupta e irreductivelmente; e então o seu dever não era pedir o adiamento das Côrtes, mas sim outro, juntando dentro do seu partido os seus amigos, pondo em pratica os meios de recurso que a um chefe de partido nunca devem faltar, e caminhar depois, mas caminhar resoluto e firme, sem hesitações, e não como procedeu no dia seguinte, provocando logo maiores incidentes e maiores irritabilidades na situação de que era chefe. Ou não adiar e cumprir o seu dever.

Não o fez.

É este o seu erro, é esta a sua culpa. Porque não o fez? E porque se deixou levar mais pelos impulsos de momento, pelo seu caracter ardente de luctador antigo, esquecendo que a sua posição de hoje não era a mesma de hontem e que o seu dever de agora não era o de simples soldado batalhando nas ultimas hostes do seu partido.

O Sr. Presidente do Conselho deixou-se arrastar pelas paixões politicas e foi mais longe do que devia, perdendo assim a auctoridade.

Sente ter de dizer isto ao Sr. Presidente do Conselho; S. Exa. sabe bem que nenhum sentimento de animosidade pessoal o levam a falar d'esse modo. S. Exa. sabe bem que em todo o decurso da sua vida publica, elle, orador, o tem combatido sempre, e algumas vezes até bem energicamente.

Mas sabe tambem que nunca pessoalmente o aggravou.

Se algum sentimento actua no seu animo, é tão somente o do respeito, da consideração e estima que lhe consagra,

É isso que lhe dá razão para falar, e é isso que o auctoriza a dizer ao Sr. Presidente do Conselho que por mau caminho anda, e que por mau rumo seguiu, e que, isolando-se na sua vontade pessoal, alquebrou ainda mais a unidade, a acção, a força e a iniciativa do partido que dirigia, e que fez mais ainda - desprendeu os laços da solidariedade ministerial.

Se precisássemos de uma prova clara e frisante d'isto, encontrava-se na sessão de hontem. Não quer aggravar a questão, é certo, mas ha factos passados no Parlamento que teem o seu significado politico absoluto; ha factos que se registam, que se conservam na memoria de todos e ficam tambem guardados nos nossos annaes parlamentares.

Esses factos teem echo e produzem uma impressão profunda em todo o paiz; vibra um echo enorme, mas um echo triste.

O Sr. Presidente do Conselho chegou ao ponto em que, pela forma que conduziu as negociações na questão mais ardua, mais vital, mais grave para o paiz, criou uma situação absolutamente insustentavel, porque se isolou de todos.

Sr. Presidente: tambem teve a honra de tomar a direcção da questão dos tabacos, é certo, mas sempre ao lado do seu collega da Fazenda, mas sempre ao lado de todos os seus collegas. (Apoiados).

Não houve uma phase, um tramite, um ponto d'essa negociação que em Conselho de Ministros não fosse largamente discutida, e quando se redigiu o contrato de julho não houve uma phrase, não houve uma palavra, em que todos não estivessem de accordo. (Apoiados).

Isto, Sr. Presidente, dá uma força enorme ao chefe de um partido, e ao chefe de um Governo, porque então não é só elle que está em foco, porque então não é só elle que tem a responsabilidade dos factos ou das resoluções.

E elle que, concordando com os seus collegas, trata de tomar uma resolução conveniente. Não ha só uma entidade responsavel. Todos interveem na discussão com a mesma boa vontade, e todos se encarregam da defesa das suas ideias.

Isto era o que se passava quando se achou á frente do Governo que iniciou as negociações.

Agora o systema é outro, que não pode deixar de apreciar, tirando as conclusões d'esse facto politico. Leu em varios jornaes o extracto da sessão de hontem. Tem presente um que, se pode ser acoimado de parcialidade, é insuspeitissimo para o Sr. Presidente do Conselho.

Vê o extracto do Diario de Noticias e n'elle encontra o seguinte:

"O que affirmo é que o contrato dos tabacos foi apresentado em Conselho de Ministros.

O Sr. Alpoim: - Não foi!

O Sr. Presidente do Conselho de Ministros (José Luciano de Castro): - Foi!

O Sr. Alpoim: - Não foi! Garanto á Camara sob a minha palavra de honra que isso é falso! E appello para o testemunho dos meus antigos collegas no Gabinete!"

Chegamos a um ponto em que um Ministro, que deixara os Conselhos da Coroa, affirmava com o tem de sinceridade a mais absoluta, de convicção a mais completa, que o contrato dos tabacos não fôra discutido em Conselho de Ministros.

Monstruoso! Que a questão mais grave, a questão que mais vitalmente interessa ao paiz, que a questão em que se debatem, os seus interesses econo-