O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

50

50 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

proceder, para fazer neste caso conhecida a minha opinião, ou seja hoje, ou seja na sessão immediata. Não desistirei do que reputo um direito.

O sr. Rebello da Silva (sobre a ordem): - O digno par e meu amigo o sr. conde de Cavalleiros sabe qual é a fórma das interpelações e podia ter tomado parte n'esta...

O sr. Conde de Cavalleiros: - Como?

O Orador: - Se eu soubesse que o digno par tinha uma opinião especial, differente da que é seguida...

O sr. Conde de Cavalleiros: - Não havia de annuncia-la por cartazes.

O Orador: - Bem sei que a não podia annunciar por cartazes; mas eu tambem não podia advinhar.

(Interrupção do sr. conde de Cavalleiros que não se ouviu.)

Perdôe v. exa. que eu ainda estou fallando, e o digno par tem os meios que lhe faculta o regimento, e sabe muito bem fazer uso d'elles. Havemos de ouvi-lo com toda a attenção que merece. O meu fim unico foi pôr termo ao debate pelas rasões que o digno par e todos percebem de certo (apoiados). Não estou arrependido, e como sobram as occasiões de discutirmos, ninguem póde dar-se por offendido com o que eu propuz. Desejaria tomar parte na questão tambem, e tencionava faze lo até, mas abstive-me pelas considerações que me levaram a apresentar a proposta, que a camara teve por justa dando lhe a sua approvação, e que sinto muito que por infelicidade privasse da palavra o meu illustre amigo n'este momento.

O sr. Visconde de Chancelleiros: - Creio que a camara não quererá reconsiderar, por isso não provoco por nenhum requerimento meu uma outra votação contraria á que a camara acaba de tomar, votando porque o debate se encerre. Uma vez porém que a camara fechou a discussão, não se tendo esgotado ainda a inscripção, não tendo sequer fallado qualquer orador em sentido contrario áquelle em que fallaram os dignos pares interpellantes, resolução esta que a camara não tomava de certo se a não incitasse o desejo de aproveitar melhor o tempo na discussão de assumptos, que mais do que este lhe podessem prender a attenção. Peço a v. exa., para illustração do meu espirito e socego da minha consciencia, que me diga se algum outro assumpto importante, ou que o não seja mesmo, ha hoje dado para a discussão na segunda parte da ordem do dia? Se v. exa. me disser que não ha nenhum, e creio que não irá mui longe da verdade esta supposição, então ha de v. ex. permittir-me que eu ponha em parallelo a larga generosidade com que a camara dispensou a sua attenção a alguns oradores para a negar a outros.

A camara ouviu hontem um largo discurso do sr. Casal Ribeiro em continuação ao que tinha proferido na sessão antecedente sobre a questão que s. exa. havia levantado, e a respeito da qual nem todos de certo aceitâmos como plausiveis os argumentos em que o digno par firmou a sua opinião, da qual em muitos pontos divergimos, e creio que podemos divergir.

Ouviu a camara esse discurso, e sem nenhuma demonstração de insoffrida impaciencia pelo prolongamento da discussão, permittiu até que em diversões alheias ao assumpto a discussão se empenhasse, entre s. exa. e o sr. ministro da marinha, nas condições de um certamen pessoal, alheio por sua natureza ao assumpto, e fóra dos limites em que a praxe e o regimento d'esta casa circumscreve os debates. Fechou-se então a discussão a requerimento meu, mas nem eu suppunha, nem ninguem acreditava, nem por insinuação ou conselho da mesa, ou qualquer demonstração da camara, se poderia antever que serenados os espiritos que o fogo da discussão tornára inquietos, hoje apenas se abrira a sessão para ouvirmos as explicações que reciprocamente se deram os dois oradores da passada sessão, fechando-se sobre ellas a discussão, como se a questão pessoal valesse mais para a camara que a questão principal, enunciada mas não controvertida em duas sessões. Por conseguinte não é insoffrida a minha ambição de fallar; ao proprio digno par que requereu para que se fechasse o debate declarei que nenhum empenho tinha em usar da palavra, mas não sou eu só o inscripto, ha mais oradores que o estavam igualmente, e de certo me não parece regular que em qualquer discussão se não permitia que todas as opiniões se manifestem, sobretudo quando essa discussão se abre com o apparato e solemnidade que apenas devem merecer as grandes e graves questões.

Sr. presidente, com franqueza o declaro, suppuz seria inopportuna esta interpellação, realisada ella nos termos em que o foi, supponho-a mais que inopportuna, inconveniente até; ora se a camara, movida d'estas rasões, é que fechou o debate, associo-me ao seu pensamento, mas não á fórma por que o significou. Hoje mais valia continuar a discussão do que fecha la.

O sr. Presidente: - O digno par fez uma pergunta e um requerimento. A pergunta posso eu responder, que não ha mais negocio algum dado para ordem do dia de hoje; e quanto ao requerimento, a camara é quem lhe poderá responder.

O sr. Visconde de Chancelleiros: - Peço perdão a v. ex., eu não fiz nenhum requerimento...

O sr. Presidente: - V. exa. fez uma pergunta, á qual já respondi; e depois fez um requerimento, que motivou, e a esse requerimento é que a camara ha de responder se quer reconsiderar a sua votação.

O sr. Visconde de Chancelleiros: - Peço perdão a v. exa., mas eu não fiz requerimento algum para que a camara reconsiderasse, porque isso não era possivel; o que fiz foi uma pergunta a v. exa., e era se havia mais algum assumpto dado para ordem do dia de hoje. V. exa. já respondeu dizendo que não. e portanto não tenho senão que agradecer a sua resposta.

O sr. Marquez de Vallada (sobre a ordem): - Sr. presidente, eu tinha a palavra sobre a materia, mas não tinha grande interesse em usar d'ella, porque o meu fim era apenas fazer algumas observações sobre diversos pontos historicos tocados pelo sr. ministro da marinha, visto eu divergir das apreciações feitas por s. exa. Por consequencia não havia interesse em tomar de novo parte no debate; porem, como não só o meu nobre amigo e parente, o sr. conde de Cavalleiros, como tambem o sr. visconde de Chancelleiros, declararam, um claramente e outro dando a entender, que tencionavam fazer varias apreciações sobre o assumpto, eu como estou acostumado a tomar a responsabilidade dos actos da minha vida publica e particular; eu que levo a minha lealdade não só ao ponto de responder pelos actos, nos quaes tive iniciativa, mas tambem de responder pelos actos, nos quaes se não tomei a iniciativa me associei a elles com quaesquer cavalheiros, não posso recusar-me de modo algum a defender as opiniões que sustentei n'esta casa; e digo isto, porque tendo o sr. conde de Cavalleiros declarado, com aquella franqueza que é propria do seu caracter e que eu estou habituado a conhecer, que não concordava com algumas opiniões do sr. Casal Ribeiro e minhas, eu julguei que, desde o momento em que s. exa. pronunciasse as suas opiniões sobre este ponto, e manifestasse a divergencia de opiniões em relação áquellas que tive a honra de apresentar; eu julguei, digo, que não só era obrigação minha, mas que era um dever de honra, lealdade e boa cortezia para com s. exa. e a camara o tomar parte n'esta discussão. Agora porem não o faço, porque a discussão fechou-se sobre o assumpto, e a camara na sua votação a a deu por terminada; poucas palavras pois mais acrescentarei.

Eu, sr. presidente, não levantei esta questão, mas levanta-la-ía se o sr. Casal Ribeiro não tomasse a iniciativa d'ella; e eu, como o poderia fazer qualquer outro membro d'esta casa, tomei parte n'essa questão, e sustentei as minhas opiniões, opiniões que não são novas em mim, e que respondo por ellas. Em consequencia pois do que acabo de dizer, julgo-me no dever, quando for atacado, de mostrar