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52 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

res não tivessem adiado ensejo para uma discussão tão desagradavel ao digno marquez, e tão improficua á causa publica e particular. Discussão que só podia terminar, ou pelo compromettimento de alguem, ou pelo rebaixamento do governo, que nos convem fortificar aos olhos dos estrangeiros, sempre promptos a expiar as nossas faltas politicas ou governamentaes.

Sr. presidente, outra cousa em que eu divirjo de ss. exas., clara e francamente o digo, é nas apreciações do facto da rejeição do Senhor D. Fernando ao throno de Hespanha. Saibam os dignos pares, saiba esta camara, saiba o paiz, que a minha opinião é inteiramente contraria á de ss. exas. Eu entendo que para segurança nossa, para conveniencia d'esta terra, para socego de todos nós, convinha que o Senhor D. Fernando estivesse no throno de Hespanha. (O sr. Visconde de Chancelleiros:-Apoiado). A meu ver, a aceitação d'aquelle throno por Sua Magestade seria um facto que havia de concorrer poderosamente para a formação de uma solida instituição monarchica, no paiz vizinho, e para, que o principio monarchico - constitucional se robustecesse na Europa e escapasse aos vendavaes que vão abalando os thronos e os fazem cair em poucos dias.

Sr. presidente, depois dos acontecimentos, ha muito quem os julgue. Diz-se: ainda que o Senhor D. Fernando não aceitou a corôa que lhe offereciam, a republica não se proclamou. E se se tivesse proclamado? Não valia a pena o sacrificio de um homem para evitar um acontecimento que nos podia ser funesto? Estariamos agora tranquillos? De certo que não. Mas direi mais. Estabelecido o principio monarchico em Hespanha, eu quizera ver um homem das qualidades, do constitucionalismo, da probidade e lealdade do Senhor D. Fernando (apoiados), cingir a corôa d'aquelle reino, por isso que clava todas as garantias, ora um posto avançado da nossa independencia, cccupado por um nosso amigo que viveria em paz e boa harmonia comnosco, sempre independentes. Hoje alguem sabe quem cingirá aquella corôa? Será um principe leal e irreprehensivel, ou alguem que procure lisongear a memoria hespanhola a nosso respeito? As ligações de familia, desgraçadamente, já hoje não prendem ninguem. A educação publica tem fraquejado a ponto que os pães não podem contar com amor dos filhos, conspiram ás vezes uns contra os outros!

Ora, assim como isto acontece nas familias, acontece tambem nos estados. Os pactos de familia não valeir nada hoje. O medo, o phantasma que se apresentou a todos, que indo o Senhor D. Fernando para Hespanha era o principio do iberismo, foi um panico originado por um erro crasso, pois que, se o iberismo tivesse de existir, havia de existir para nós mais fatal, mais subito, não estando no throno de Hespanha o Senhor D. Fernando, o prototypo da lealdade, do que estando lá um outro principe que nos fosse estranho, e talvez contrario.

A rejeição, por parte de Sua Magestade, d'esse throno, como um acto particular de abnegação e de desinteresse, louvo-o; como acto politico, rejeito-o e reprovo-o.

Sr. presidente, alguns que impugnavam este meu modo de ver fallavam-me em Maximiliano. A Hespanha, digo eu, póde derrubar em poucos dias um throno; a Hespanha, hoje não manchava de sangue esse throno, e a prova e a placidez com que tem procedido á formação da sua constituição, embora tenha havido no congresso opiniões que eu reprovo, embora se tenham offendido os mais santos principios da nossa religião, fonte das nossas liberdades sobre a terra, o que não foi senão talvez aberração de duas ou tres cabeças que querem desviar os outros dos dictames da fé, mas é contradiro por 16.000:000 hespanhoes sempre católicos e religiosos. O que faz a propaganda protestante em Portugal ha santos annos? Não faz o mesmo? Não o faz no parlamento, mas distribuo o seu oiro, Deus sabe a quem. Protesto com os dignos pares contra os ataques ali feitos aos dogmas da nossa santa religião. De que serviram esses ataques? De robustecer a fé no peito de quem tinha religião. Pondo de parte as aberrações, louvo o congresso hespanhol na promptidão e serenidade com que tem concluido a sua constituição, dando-nos assim a garantia de que em pouco tempo terminarão a final a organisação do seu governo, e que esse seja de tal ordem cordato para podermos viver em paz e boa harmonia de irmãos, sempre independentes, tendo a nossa autonomia como ponto sagrado em que jamais deixaremos tocar.

Sr. presidente, se os povos se sacrificam e morrem pelos réis, não vejo que seja para admirar que haja réis que se sacrifiquem e morram pelos povos. Foi o que fez Maximiliano.

Se a nobreza obriga, a realeza obriga muito mais ainda; e se nós devemos dar a vida pela patria e pelo rei, o rei deve dar a vida pelo povo, e sobretudo pela patria. Maximiliano morreu como um heroe, e morreu com a idéa de salvar um povo da anarchia. Basta só este facto para se dever reconhecer n'elle um verdadeiro homem de bem; e se entre nós, sr. presidente, se fizesse um sacrificio para preservar a Hespanha de todos os males, seria isso um acto de heroismo que eu não podia deixar de louvar e muito, e commigo a Europa toda, que d'esse acto muito aproveitava. Acto que era uma garantia de paz, socego, e sogurança para Portugal.

Aqui têem pois os dignos pares em que divirjo dos principios que expozeram. Eu, sr. presidente, não faço senão uma breve exposição de principios, e por isso não entro em outras considerações que tinha tenção de fazer.

Vou portanto concluir; antes porém de o fazer, pedirei á camara que me dispense de continuar a concorrer ás suas sessões. Eu não posso discutir, porque as discussões aqui têem uma certa bitola, e todos sabem que em fallando sobre qualquer assumpto um certo numero de pessoas, pessoas que eu aliás muito estimo e respeito, pouco importa que os outros fallem, é isto o que se deu hoje para terminar a discussão; e não entrando nas discussões, nem podendo acompanhar a camara nos seus trabalhos, sou inutil aqui.

Estou doente; cheguei ha pouco de fóra, e peiorei logo; e se persisto em ficar e me vejo forçado a discutir, muito mais peorarei de certo; e portanto espero que a camara não duvidará satisfazer o meu pedido; preciso ir fóra do reino continuar o meu curativo.

Em conclusão, pois, sr. presidente, devo declarar que, se entrei no debate, não foi por julgar que possa ter importancia a minha opinião, mas porque não quiz deixar de a manifestar, pois não desejo desmerecer da estima e consideração que sempre me tem dispensado a camara.

Agradecendo a v. exa. e á camara a benevolencia com que me honrou, permittindo-me dar estas explicações, peço até dos os meus collegas queiram desculpar qualquer frase que manos significasse os sentimentos de estima e respeito que lhes consagro.

O sr. Presidente: - Designando a proxima sexta feira, 28 do corrente, para a immediata sessão da camara, e dando para ordem do dia os pareceres que se apresentassem, levantou a presente sessão.

Eram quatro horas da tarde.

Relação dos dignos pares que estiveram presentes na sessão de 25 de maio de 1869

Os exmos. srs.: Condes, de Lavradio, de Castro; duque de Palmella; marquezes, de Ficalho, de Fronteira, de Sabugosa, de Vallada; Condes, da Cabral, de Cavalleiros, de Fonte Nova, da Louzã, da Ponie, de Rio Maior; Bispo de Vizeu; Viscondes, de Algés, do Banagazil, de Chancelleiros, de Condeixa, de Soares Franco, de Villa Maior; Costa Lobo, Barreiros, Silva Ferrão, Pinto Bastos, Reis e Vasconcellos, Casal Ribeiro, Rebelão da Silva, Fernandes Thomás, Ferrer.

1.200 -IMPRESSA NACIONAL - 1869