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118 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

isenção (Apoiados), e que foi sobretudo na vida particular um bom e um forte. (Muitos apoiados).

Sr. Presidente: posto de parte todo o intuito politico, que não me domina n'este momento, e que aliás poderia tornar-me suspeito, pois nas minhas palavras podia transparecer a saudade para com o meu velho e antigo chefe, todos se podem reunir e prestar ao homem, que em vida foi sempre modesto, a modesta homenagem que como urgente tenho a honra de propor á Camara, e dar assim uma prova de consideração áquelle que foi outr'ora membro d'esta casa.

Dos seus antigos partidarios não vejo presente senão o meu amigo Sr. Vasconcellos Gusmão, que decerto me acompanhará, bem como toda a camara, n'esta justa homenagem. (Muitos apoiados).

O Sr. Presidente : - O Digno Par Sr. Beirão pede que, dispensando-se o regimento, entre desde já em discussão a proposição de lei que auctoriza o Governo a mandar fundir por conta do Estado a estatua que a cidade de Viseu deseja erigir á memoria de D. Antonio Alves Martins.

Os Dignos Pares que approvam esta proposta tenham a bondade de se levantar.

(Pausa).

Está approvada.

Vae ler-se o projecto de lei.

Leu se na mesa e é do teor seguinte:

PROJECT0 DE LEI

Artigo 1.° É o Governo auctorizado a mandar fundir á custa do Thesouro, nos estabelecimentos do Estado, a estatua que se projecta levantar na cidade de Viseu em memoria do egrégio Prelado d'aquella diocese D. Antonio Alves Martins.

Art. 2.° Fica revogoda a legislação em contrario.

Sala das sessões, em 10 de janeiro do 1907. = Os Deputados, Manoel Fratel = José Maria Pereira de Lima = Antonio Tavares Festas = Augusto Patricio Prazeres = Carlos Augusto Pereira = Antonio José Teixeira de Abreu.

O Sr. Telles de Vasconcellos: - Proponho que este projecto seja votado por acclamação, pois não creio que nenhum dos Dignos Pares inscriptos deseje impugnal-o. (Apoiados).

O Sr. Ministro da Marinha (Ayres de Ornellas): - Se um incommodo de saude não impedisse o Sr. Presidente do Conselho de estar hoje n'esta casa, com certeza seria S. Exa. que em nome do Governo não só se associaria á proposta do Digno Par Sr. Beirão, mas tambem que pela sua palavra eloquente e persuasiva diria com quanta convicção o Governo approva o projecto, justa homenagem ao homem que por uma forma tão inconfundivel deixou marcada a sua passagem pela politica portuguesa.

Não estando S. Exa. presente, eu, como membro do Governo e ao mesmo tempo membro d'esta Camara, pedi a palavra para declarar quão gostosamente nos associamos, eu e todos os meus collegas no Gabinete, ao projecto que está sobre a mesa.

(S. Exa. não reviu).

O Sr. Teixeira de Sousa: - Não está presente o chefe do meu partido, mas conheço os sentimentos que o animam no que diz respeito a prestar-se a homenagem, que consta do projecto, á memoria do fallecido Bispo de Viseu.

Portanto, como eu conheço o modo de pensar e sentir do meu illustre chefe e amigo, declaro, interpretando os seus sentimentos e o de todos os meus correligionarios politicos n'esta Camara, que o projecto de que se trata tem a nossa adhesão e o nosso voto.

Sr. Presidente: individualmente posso dizer que impera no meu animo ainda uma circumstancia singular.

O Bispo de Viseu, D. Antonio Alves Martins, não era meu correligionario politico, não pertencia ao partido em que milito; bem pelo contrario, foi honra e gloria do partido progressista, e sendo natural do concelho de Alijó que representei dois annos em Côrtes, sustentou ali um papel politico inteiramente adverso ao partido em que eu e familia minha militavamos e militamos convictamente.

Sendo grandes e profundas as divergencias que nos separavam do Bispo de Viseu, por vezes chegou a lauta ao maior extremo que podem attingir as luctas entre homens de bem.

Sr. Presidente : esta mesma circumstancia me dá a isenção necessaria para conceder o meu voto ao projecto, não por condescendencia para com o Digno Par Sr. Beirão, mas por um acto de justiça que devo á memoria d'aquelle distincto cidadão, que foi um grande e respeitabilissimo homem de bem; (Apoiados), que serviu o seu paiz com as melhores intenções (Apoiados); e que, se não fez mais, foi porque as circumstancias politicas não o permittiram.

Prestada esta sincera e merecida homenagem á sua memoria, repito a declaração de que os meus correligionarios e eu approvamos o projecto.

(O Digno Par não reviu).

O Sr. José de Alpoim: - Sr. Presidente : O Digno Par Sr. Conselheiro Beirão, meu nobre e illustre amigo, referiu-se com palavras de ternura e encarecimento á memoria do Bispo de Viseu.

Disse S. Exa. que viera do partido reformista, pertencendo a esse grupo chamado dos "rapazes do Bispo".

Desenhou, em firmes traços, a figura de D. Antonio Alves Martins como politico liberal; e, como sacerdote, referiu-se o Sr. Beirão á sua caridade, fazendo-o com palavras impregnadas de tocante saudade e eloquentissimas.

O Sr. Conselheiro Teixeira de Sousa associou-se ás expressões de sentida commemoração para com o Bispo de Viseu.

As suas palavras foram nobres e elevadas, porque o Bispo de Viseu sempre andara travado em lutas politicas, na sua terra natal, com a familia d'este nosso distincto collega.

E, em Trás-os-Montes, os combates partidarios são apaixonados e fervorosos como em nenhuma outra região.

As palavras do Digno Par Sr. Teixeira de Sousa mais põem em relevo, pela sua feição especial, o que houve de grande na bella e alta figura, moral e politica, do Bispo de Viseu.

Eu, Sr. Presidente, não podia deixar de associar-me á proposta do Sr. Beirão e ás suas palavras.

Na minha familia, o nome do Bispo de Viseu inspirava uma adoração. Eu proprio conservo uma recordação profundissima- d'aquellas recordações de infancia que jamais se apagam - do Bispo de Viseu.

Meu pae, que era um correligionario e um amigo pessoal do Bispo de Viseu, apresentara-me áquelle santo prelado, n'uma das vezes que estivera em Espinho.

Tinha, eu então onze ou doze annos.

O Bispo, rapidamente, afagara me no rosto e na cabeça - tão rudemente que me lembro de que me atirou quasi o chapéu ao chão - e disse-me-"Estude... e seja honrado".

Parece-me que o vejo ainda com o seu largo chapéu, um grosso pau aldeão, a que se encostava, com os seus habitos entre ecclesiasticos e seculares, com a sua figura austera e forte.

Alem das recordações de infancia, e do amor pela tradição da minha familia tão dedicada ao Bispo de Viseu, outra razão de affecto me liga á memoria do grande morto.

O Bispo de Viseu era meu patricio.

Nascera, como eu, na provincia de Trás-os-Montes. em remota aldeia, em uma, como diz o grande romancista portuguez, humilde povoa concavada nas fragosas serranias transmontanas. Veio do povo: e, em toda a sua existencia, foi sempre um filho do povo, em as rudezas e sinceridades das classes populares, e com aquella ingenua