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4 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Sr. Presidente: então, quando empreguei essa palavra, referindo-me aos discolos, aos arruaceiros, aos tumultuadores da rua, aos que praticaram esses actos que todos nós, una voce, condemnavamos, quis designar uma casta, ou uma classe social determinada?

Não. Fosse quem fosse, grande ou poderoso, pobre, das classes altas ou das baixas esferas, rico ou abastado - fosse quem fosse - merecia essa denominação. Não se trata de uma classe, esta é que é a questão. Quando digo : "É um canalha", refiro-me a um homem que praticou actos infames.

Pode ser um duque, ou um filho do povo, que merecerá a mesma palavra.

Não se queira estabelecer uma confusão, que só pode ter um alcance politico lá fora, onde o espirito simplista do publico, poderia suppor que nós, tinhamos vindo aqui dentro d'esta sala tratar de canalha o povo. e que S.Ex.a tinha levantado aqui essa frase.

O Sr. Alpoim (interrompendo): - O que eu disse é que havia a canalha dourada e a não dourada.

O Orador: - O que não posso é assumir a responsabilidade d'aquillo que não estava, nem nos meus propositos, nem nas minhas intenções, nem, sobretudo, no meu caracter, educação e feitio, porque ninguem me excede no respeito que me merecem a desgraça e a miseria.

A minha vida particular e publica de sobra justificam esta minha asserção. (Apoiados).

Quem duvidar d'isso, veja a maneira como procedo, ainda com os mais humildes.

São os principies moraes e a educação que recebi d'aquella que me deu o ser.

Presto aqui esta homenagem á memoria da santa, que foi minha mãe.

Por isso me offendeu o facto de, ás minhas palavras, se attribuirem propositos que eu nunca podia alimentar, e que a lealdade do meu caracter absolutamente repulsaria.

Em toda a minha vida, nas deferencias, nas attenções, na carinhosa forma de receber e acolher todos os que de mim se aproximam, ainda os mais humildes, tenho demonstrado que todos me merecem igual respeito.

Portanto, Sr. Presidente, fosse qual fosse a intenção do Digno Par - principalmente depois das suas declarações, tão terminantes - tenho obrigação de crer que não era seu proposito fazer uma especulação politica em relação a palavras que, num impulso de indignação pelos acontecimentos passados com a recepção dos estudantes de Coimbra, eu aqui proferi.

Lá fora tem-se comtudo especulado com o que se passou aqui. Protesto contra essa especulação.

O Digno Par combateu e fulminou, com o seu anathema, a canalha dourada.

Eu digo mais: digo que de toda a especie de canalha que possa existir na sociedade, desde a mais alta á mais baixa, é exactamente a canalha mais altamente collocada que eu verbero e anathemizo com a maior indignação.

O Sr. José de Alpoim: - Vejo que estamos todos de acordo.

O Orador: - Estamos aqui; mas lá fora, não!

O Sr. José de Alpoim: - O melhor é arranjar outra lingua.

O Sr. Conde de Bertiandos: - O Digno Par não tem culpa. Quem tem culpa é quem commenta lá fora.

O Sr. José de Alpoim: - Tenham para elles o mesmo desprezo que eu lhes voto.

O Orador: - Ora aqui tem V. Exa. e a Camara a razão por que eu tinha pedido a palavra.

Não era para exigir intempestiva e fundamentalmente a explicação de caracter pessoal ao Sr. Alpoim por frases que tinha proferido, e em que tinha expressamente resalvado a minha pessoa.

(Apoiado do Sr. Alpoim).

Eu, Sr. Presidente, com cincoenta annos de idade, com vinte e cinco ou vinte e sete annos de vida parlamentar, chefe de familia, ás portas da morte ainda o anno passado com uma gravissima doença, não iria, impensada e levianamente, provocar conflictos.

Mas nunca declinei as minhas responsabilidades.

Por consequencia não era para explicações, de caracter pessoal, nem revindicações que não tinham razão de ser, e que seriam pueris, que eu pedi a palavra.

Pedi-a simplesmente para aclarar a significação da palavra que eu empregara, e para evitar a exploração que de então para cá se tem feito com o que se disse nesta Camara.

E pergunto: os exploradores, que assim procederam, não serão verdadeiros canalhas?

Sr. Presidente: não ha o direito lá fora de deformar, desfigurar, falsear ignobilmente, formalmente, o sentido claro das palavras aqui pronunciadas.

Sr. Presidente: ainda falta referir-me aos acontecimentos lamentaveis de 5 de abril, que produziram a morte de cinco cidadãos.

V. Exa. e a Camara saberá que eu, quando usei da palavra sobre o projecto de resposta ao Discurso da Coroa, vi-me obrigado a resumir as muitas considerações, e a conclui-las rapidamente, porque me senti incommodado.

Foi esta a razão por que não me referi desenvolvidamente a essas deploraveis ocorrencias; mas hei de voltar ao assunto e pedir estrictas contas ao Governo pela maneira por que se houve em tal conjuntura. Por agora fico por aqui.

(S. Exa. não reviu).

ORDEM DO DIA

Continuação da discussão do projecto de resposta ao Discurso da Coroa

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Digno Par Sr. Veiga Beirão.

O Sr. Francisco Beirão: - Sr. Presidente : fez-me esta Camara a honra de me eleger para membro da commissão de resposta ao Discurso da Coroa, e esta commissão quis ainda duplicar essa distincção, escolhendo-me para seu relator.

Julguei eu, e julgo ainda, que nesta qualidade me cabia apenas defender o projecto em discussão, quando fosse atacado, ou quando, pelo menos, a elle se fizesse qualquer referencia.

Succedeu porem que todos os Dignos Pares, que teem tomado parte nesta discussão, não tinham, ainda, alludido a este diploma.

Só na ultima sessão o Digno Par Sr. Jacinto Candido se referiu a esta peca de literatura politica, e em vista d'isto vi-me forçado a tomar a palavra, que só hoje me chega.

Tinha a dar esta explicação para que os Dignos Pares que tomaram parte nesta discussão, e sobre os quaes, ou acêrca do que disseram eu não me inscrevi, não supposessem que havia da minha parte menos consideração por S. Exas.

A razão foi esta, esta só, e exclusivamente.

Assim, pois, Sr. Presidente, cumpre-me hoje defender este parecer ou projecto de resposta, ou como seja o nome que melhor lhe caiba, das arguições que lhe fez o Digno Par Sr. Jacinto Candido.

Isto não quer dizer que durante as breves considerações que eu haja de' fazer não tenha de me referir a ponderações que outros Dignos Pares fizeram a respeito da situação politica em geral, acêrca do procedimento politico do Governo, e sobre a attitude que teem tomado os partidos.

O Digno Par Sr. Jacinto Candido censurou o parecer que tive a honra de mandar para a mesa, por não haver nelle referencias a Sua Majestade El-Rei D. Carlos e a Sua Alteza o Principe Real, visto como, a juizo de S.