SESSÃO N.° 13 DE 1 DE JUNHO DE 1908 9
Disse o Digno Par, dirigindo-se a esses partidos:
- Que fizestes vós ? Qual foi a vossa obra durante as ultimas occorrencias?
Nada fizestes, absolutamente nada, diz o Digno Par.
Elle, orador, repete, não gosta de falar da sua pessoa, mas acusado o seu partido, no qual occupa uma não somenos posição, tem a dizer, que, pela sua parte, logo que teve a certeza de que se ia iniciar aquillo a que por eufemismo se deu o nome de ditadura, deu a prova do seu completo desacordo. (Apoiados}.
Mostrou que, d'essa data em deante, deixava de compartilhar a minima parcela de responsabilidade nesses acontecimentos. (Apoiados).
O que fez o seu partido e o que fez o partido regenerador todos o sabem.
Estivemos tranquillos e quietos; nem protestámos por varias formas, nem houve aquella celebre carta escrita pelos Conselheiros de Estado, que mereceu o elogio de todo o país!
Mas se foi nulla, se foi inefficaz, se não produziu o minimo resultado a acção d'esses dois partidos, quem fez mais e quem fez melhor? (Apoiados).
O Digno Par, para ser justo, para ser coherente, não devia limitar o seu anathema aos partidos chamados rotativos. Devia envolver a todos na mesma maxima excommunhão.
Disse ainda o Digno Par que, afinal, não veio a explosão que os acontecimentos naturalmente provocavam.
Mas o facto não é singular. Em Inglaterra, quando começaram a supprimir-se as liberdades, o povo não se revoltou, porque existia então um estado de relativo bem estar que não predispunha a nação para as violencias da luta. Foi por isso que nessa hora de desanimo a liberdade correu perigo, e muitos pensaram em se afastar para as regiões virgens da America.
Só volvido tempo veio a explosão.
A situação entre nós não era muito diversa.
Num país como Portugal, vivendo ha muito numa continuada tranquillidade, tendo adquirido um relativo bem-estar, havendo tantos interesses envolvidos, não é para admirar que o protesto de todas as consciencias livres se não transformasse subitamente numa enorme explosão!
O Digno Par não ficou por aqui; foi ainda mais severo na sua critica, e eu tenho pena de não me ter sido dado ha mais tempo responder sobretudo a esta parte do discurso.
O Digno Par, se por um lado accusou os partidos de fazerem de menos, por outro censurou-os de terem feito demais.
O que fizeram pois estes pobres partidos?
Estes pobres partidos aproveitaram as tristissimas circunstancias criadas pela tragedia do dia 1 de fevereiro ultimo, propuseram-se lançar dados sobre a tunica do poder, e correr o pareo das suas ambições.
É esta, em poucas palavras, a accusação feita pelo Digno Par.
Ora eu devo acrescentar alguma cousa.
Eu assisti aquella sessão memoravel do Conselho de Estado em seguida á tragedia de 1 de fevereiro.
Confesso, Sr. Presidente, que no decorrer de tantos annos de vida publica, que muitos já tenho passado, nunca vi scena como aquella a que assisti no dia 2 de fevereiro ultimo.
Creio não incorrer na mais pequena inconfidencia dizendo á Camara que a sessão do Conselho de Estado, no dia 2 de fevereiro d'este anno, revestiu um aspecto verdadeiramente shakspeareano.
Duas rainhas - duas mães! - privadas, e de que modo! do filho; o joven Rei, orfão e ferido, o irmão desolado ... que espectaculo!
Nessa reunião, a que tive a honra de assistir, não vi levantar-se a mais pequena ambição que não fosse a de se congregarem todos em roda do joven Rei, para o amparar nos primeiros passos do seu doloroso reinado. (Apoiados).
Todos unanimemente declararam estar ao lado do Rei, para salvar o que mais interessasse ao país. (Apoiados).
Porventura os partido indicaram algum dos seus correligionarios para presidir á nova situação ministerial?
Não. Lembraram para a direcção do novo Gabinete um homem que estava afastado de todas as agremiações politicas, e é a esse Gabinete presidido por um homem a quem Sua Majestade, no uso liberrimo das suas attribuições, escolheu para o desempenho d'essa missão, que os dois partidos, o progressista e o regenerador, deram o seu apoio. (Apoiados).
E como esse. Presidente é da marinha, eu, se tivesse de escolher para elle uma divisa, optaria pela da cidade de Paris - fluctuat nec mergitur!
Vá sobre as ondas agitadas da governança ... não mergulhe!
O Digno Par quis aggravar ainda o seu libello acusatorio e sujeito a deixar os partidos ainda em peor posição.
O Digno Par disse que o Governo - presumidamente instigado pelos partidos- havia trazido á Camara uma proposta, que tinha por fim liquidar a questão dos adeantamentos sobre a cabeça do Rei, afastando-a das costas dos partidos.
O partido regenerador, pela boca do Digno Par Sr. Julio de Vilhena, já disse da sua justiça. Pelo que toca ao partido progressista pouco terei a acrescentar.
Por mim desejaria que, nas condições em que nos encontramos, esta questão dos adeantamentos ficasse reduzida ao que effectivamente é, e que não fosse feita, porque a não pode nem deve haver, qualquer allusão ao Rei. (Apoiados).
A questão dos adeantamentos não deve ser nem com o Monarcha nem com a Monarchia. (Apoiados).
É preciso esclarecer a questão? Será.
Que se façam todos os inqueritos, que se não dispensem os esclarecimentos que possam elucidar o publico, perfeitamente de acordo; mas que de uma vez para sempre se comprehenda que não ha razão para se impor ao Rei quaesquer responsabilidades nesse acto, e que nem sequer existe motivo para qualquer allusão ou referencia nesse sentido. (Apoiados).
O contrario não seria constitucional nem justo.
Reduzida a estes termos a questão dos adeantamentos, o que fica?
Fica uma questão para ser versada entre nós, e para ser resolvida como muito bem entendermos. (Apoiados).
A seu tempo a Camara apreciará os factos, examiná-los-ha, publicará o seu relatorio, e julgará se alguem ha a julgar.
Eu, pela minha parte, pelas responsabilidades que possa ter do tempo em que fui Ministro, aguardo, serenamente, o resultado de taes investigações.
Não tinha ainda nunca falado em publico sobre esta questão, mas entendi que era de meu dever dizer o que penso, não por mim, mas pelo meu partido.
Tambem o Digno Par pretendia que os partidos fizessem o seu programma no inicio do novo reinado.
O Digno Par Julio de Vilhena já se referiu - e muito bem - a este desejo expresso pelo Digno Par Sr. Arroyo, mas eu quero fazer a vontade ao Digno Par.
O Digno Par insinuou até como devia ser o nosso programma:
"Um programma curto. Poucas cousas mas boas. Não venham com um programma muito comprido, que é poeira lançada aos olhos".
Tambem lhe faço a vontade.
O programma, que eu offereceria ao Digno Par Sr. Arroyo, seria, como elle proprio insinuou, muito simples, embora não seja talvez muito facil de executar.
Quaes são os pontos cardeaes a que allude o diploma que está na ordem do dia?