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vimentos: dir-se-hia, mas não o direi eu, que á falta de razões abundam as invectivas, os queixumes, as recriminações tom que ataca o seu adversario. Admiro este procedimento no digno Par; e ainda que já não é de hoje, confesso que neguei a conceber a esperança de que teria termo um dia; estou desenganado que não.

O digno Par intendeu que lho era permittido traduzir as minhas palavras attribuindo-lhes o sentido que mais lhe aprouvesse, embora nunca tal sentido lhes podesse ser dado rasoavelmente; e é S. Ex.ª quem me pergunta que authoridade tenho eu para interpretar as suas. Respondo-lhe que nem a tenho, nem a quero, de ser interprete de S. Ex.ª; e peço-lhe que use comigo do mesmo modo. Intendo as suas frases, segundo me soam; faça o digno Par outro tanto, e não exagere, nem busque descortinar sentidos maliciosos aonde ninguem de boa fé 01 poderá adivinhar.

Notou um ou mais periodos da resposta que dei ha pouco a S. Ex.ª, e foi o digno Par examinando estes periodos com todo o rigor grammatical, e não admittiu que alguns delles podessem intender-se no sentido metaphorico. Declarou-se contra todas as figuras da rethorica, por pouco desvio que houvesse da recta e obvia intelligencia dos termos; e nisto foi inexoravel. E posto que nas conversações mais familiares se tomam taes liberdades sem prejuiso da intelligencia da lingoagem, e da genuina expressão do pensamento, o digno Par não admitto senão um valor a cada voz articulada; e ha-de ser o que fizer conta ao seu proposito. Sejam pois estas modificações da lingoa banidas do Parlamento; e eu me declaro rendido í valente grammatica do digno Par — venceu ella.

Eu tinha dito que o digno Par havia gota a gota tirado o sangue ao Duque de Saldanha: podia dizer que deste modo lhe tinha enchido de veneno o cálix que lhe déra a beber. Tais construcções não admitte o digno Par. Pois nesse caso eu me explico mais claramente; e saiba-se que eu quiz dizer, que o digno Par despojara o Duque de Saldanha de todas as funcções que exercia, uma após outra; e assim o foi privando de todos os meios de que o póde privar meios que o Estado lhe déra, ou o Rei, em premio dos muitos e nobres serviços que havia tantos annos fizera ao mesmo Estado, ao Rei, e á nação. Considerei grandes estes serviços, sabidos não só em Portugal, mas fora delle; e não ignorados na Europa.

O digno Par intendeu que a menção de taes serviços fora um verdadeiro plconasmo: a que vinha essa menção? De certo que ao digno Par seria mais agradavel dar eu a intender que o Duque havia sido privado por S. Ex.ª de graças que recebera som titulo, e sem merecimento; effeito de favor da Corte, de parcialidade do Soberano, ou de protecção immerecida.

Acha o digno Par inexacto o que eu asseverei, de que fora S. Ex.ª quem se vingara do Duque de Saldanha, demittindo-o dos seus logares todos, porque essa demissão viera de differentes repartições. De um logar foi demittido pelo Ministerio da Guerra, de outro seria pelo do Reino, etc, etc. (O Sr. Conde de Thomar— Peço perdão, mas eu não disse assim, porque essa demissão dada pelo Ministerio da Guerra, considerei eu como responsabilidade do Ministerio de 18 de Junho, e não particularmente do Ministro da Guerra. Enumerei os outros logares para mostrar que o Ministerio o não tinha demittido de todos, como V. Ex.ª fazia parecer.) Se eu disse (mas parece-me que não) que o digno Par tinha demittido o Duque de Saldanha do logar de Conselheiro de Estado, disse uma inexactidão, da qual não me arrependo muito (O Sr. Ministro da Marinha — não disse); não o demittiu, porque não cabia esse acto na esphera do seu poder. (O Sr. Conde de Thomar — mas eu fui demittido! Eu de certo não commetti esse excesso, nem sei quem tal fez; e até se se fez! De mim nunca o digno Par recebeu desaguisado algum, nem jamais tractei de o incommodar.

S. Ex.ª, que tantas vezes se recorda do passado, que de continuo repete as allusões aos factos que já ficam tão distantes de nós, me accusa de fazer, ou ter feito muitas vezes referencias ao movimento de 1842. Pode ser que algumas vezes, por incidente, ou por transição, tenha lembrado esse facto, e ninguem mais razão terá para isso; mas uma só vez me occupei delle de proposito, e proximo ao tempo do successo, e por mui poucos minutos: desde então nunca mais me serviu de assumpto principal de discussão, em quanto o digno Par se deleita de commentar, de analysar longamente, e a seu modo particular, o movimento de, 1851. Mas deixando agora em paz ambos esses movimentos, que já considero julgados, declaro que o que eu positivamente quiz enunciar é, que todos os desgostos, todas as demonstrações de rigor e de injustiça que o Duque de Saldanha recebeu foram effeito da influencia do digno Par, e em satisfação da sua inimizade: esta é a minha intima persuasão. (O Sr. Conde de Thomar — está explicado.) Está explicado? Eu pasmo ao considerar a grande facilidade com que o digno Par, tão habil e de tanta sagacidade, cáe nas mais flagrantes contradicções. É necessario que seja mui forte a paixão que o senhoreia para o cegar a tal ponto. Disse o digno Par que o Duque de Saldanha movia intrigas contra S. Ex.ª junto ao Chefe do Estado; e logo, que a desgraça do mesmo Duque fora devida a um escripto descomedido e excessivamente arrojado, que entregára ou dirigira ao Chefe do Estado. Então foram intrigas, ou escriptos arrojados?!

Em quanto a esse escripto, eu não o avalio agora pode ser que fosse redigido com menos compostura; que o seu auctor merecesse aspera demonstração por se haver desaforado da fórma respeitosa devida ao Throno; mas isso não é intriga urdida nas trevas; não é o punhal occulto, que fere o inimigo pela espalda — é o contrario da trama covarde e aleivosa, porque é acto de coragem e destemidez. Convenho que seja irreflectido, mas demonstra valor em quem o praticou, e nobreza de coração; porque esta póde dar-se até no crime, mas na intriga não. O Duque de Saldanha escreveu pois descommedidamente: convenho; entregou o que escrevera: o digno Par estava então no poder; e nesse proceder mostrou aquelle a confiança que tinha na sua consciencia, e não ignorava quanto se expunha ás vinganças que não tardaram! Da parte do Duque póde isto ter sido um erro, e o mais que se quizer, menos intriga. O acto por elle praticado não foi dos que ficam mal a um cavalheiro (apoiados). Eis-aqui como eu o defendo.

Mas não param aqui as accusações ao Duque de Saldanha; tambem é arguido de haver escripto inconvenientemente ao Ministro da Guerra, seu superior: logo foi um soldado insubordinado! E não pediu um Conselho de guerra. O Duque pedia esse Conselho de guerra (apoiados — sussurro). Pediu-o, sim senhor: porque lho não concederam? Pediu-o a risco de ser julgado por seus adversarios politicos; ma não lho importou que assim succedesse; e só viu em quaesquer Juizes, que lhe dessem, honrados militares, Bem differentes na sua consideração da soldadesca desenfreiada, de que ha pouco tractou o digno Par. Não me demoro nesta qualificação, o fé direi que acho inconsiderado o uso que fazemos á vezes das palavras que proferimos; e mais nada. Escreveu o Duque insolentemente ao seu superior, que lhe negava a defensa em um Conselho de guerra, que se concede ao ultimo dos officiaes do Exercito? Como poderia estranhar-se a um Marechal certa altiveia, e até que passasse os limite da moderação, vendo-se o alvo das vinganças daquelle» que se deram por offendidos da franqueza com que se dirigira ao Chefe do Estado? Quereria o digno Par que o desgraçado Duque de Saldanha, menos attendido que um Alferes, denegado que lhe foi o meio de justificar-se, procedesse com submissão de um pertendente obscuro, e como tal e dirigisse ao Ministro da Guerra? Não é possivel que S. Ex.ª ignore que o teor de um pedido de tal natureza não o mesmo feito por um Marechal do Exercito de tantos e taes serviços, ou por um official de fileira. Foi elle excessivo, foi criminoso procedendo assim? Pois fosso tambem por isso julgado em Conselho de guerra.

Mas a sombra de Nino? Feliz comparação Cré o digno Par que o Duque de Saldanha se reputa por elle perseguido de continuo — que o teme, e anhela vêr-se livre do fantasma que o avexa!

O digno Par está em equivoco: eu dou-lhe a minha palavra, e aqui estão muitos dignos Pares, que se honram com a amisade do Duque do Saldanha, que de certo confirmam o que assevero — que o Marechal Saldanha nunca faz a mais leve menção do digno Par nem o teme como inimigo, nem mostra que o é de S. Ex.ª Isto não significa nem indifferença nem despreso pela sua pessoa: nunca lhe conheci tal sentimento: o que eu quero exprimir é, que o digno Par se engana quando parece acreditar que o Duque o reputa seu implacavel perseguidor. Seria essa uma fraqueza de que eu não posso julgar capaz um homem do caracter e do espirito do Duque de Saldanha (apoiados).

E para dizer tudo quanto sinto não occultarei que, pelo contrario, se me afigura que o digno Par se crê ameaçado, não pela sombra de Nino, mas pelo fantasma de D. João; que se assusta ao ruido mysterioso das capatetas de ferro do commendador, que ouve arrepiado na solidão da noite. (Riso). Aqui o Duque de Saldanha! Ahi o Duque do Saldanha — lá se move — lá falla de mim — lá me lança os olhos — que dirá? que fará? Em uma palavra, sempre, e em toda a parte, o digno Par vê o seu adversario, e o considera exclusivamente occupado da sua pessoa. Que será isto? São do certo desgraçados effeitos de uma imaginação ardente, creadora de espectros e gorgonas, que se antolham aos febricitantes.

Não sei que remedio tenham estas imaginações de mr. Oufle, a não ser pôr de parte os preconceitos e desconfianças, que o atormentam, e que talvez haja quem lhe ajude a alimentar. O digno Par é homem publico, decerto que tem sido muitas vezes atacado injustamente; a todos succede o mesmo; sempre succedeu e succederá. Quando se der o caso, defenda-se como poder, que os demais farão o mesmo, porque todos somos a isso obrigados, pela necessidade, pelo decoro, o até por justo sentimento de amor proprio, que nos manda zelar a nossa reputação.

O digno Par queixando-se das expressões do Duque de Saldanha naquella correspondencia, veio traze-la ao Parlamento contra minha opinião; entretanto a explicação do Duque ahi está, é clara e acceitavel entre cavalheiros. É verdade que o digno Par protestou não fallar em accusações de rapto, que tem sido objecto de largas paginas de certos jornaes; mas era justo que o digno Par não acarretasse para esta interpellação as antigas accusações, que nenhuma relação tinham com a passagem da carta.

Pareceu-me que o digno Par estranhára o procedimento do Duque de Saldanha, que tendo sido muitas vezes accusado de factos gravissimos, só agora se lembrara de levar perante os Tribunaes os periodicos que o arguiram deste ultimo supposto crime. O ajuizar do valor da offensa pertence primeiro que aos outros ao offendido. O Duque intendeu que nenhuma imputação podia ser-lhe mais desairosa do que esta, que atacava o seu caracter como homem, como Ministro, como cavalheiro, e até como christão.

Neste caso não é de admirar que o offendido se persuadisse que toda a imprensa da opposição se aproveitara de uma calumnia, e a reproduzira muitas vezes para menoscabar a reputação do accusado, torna-lo odioso aos que, desprevenidos e credulos, intendessem que era verdade tudo quanto a tal respeito se escrevia. Sejamos justos, a opposição não tymbra de escrupulosa nos meios que emprega muitas vezes para conseguir os seus fins. Diz o digno Par que nao póde crêr que isso assim seja em quanto a jornaes; porque o primeiro que ergueu o brado contra o Duque de Saldanha fora tambem o primeiro que elogiara o movimento de Abril. Não sei se esse jornal approvou ou não tal movimento; mas sei que muito antes que nelle apparecesse a accusação violentissima, e apaixonada no ultimo extremo, já elle campeava furioso nas fileiras da opposição; e era o mais encarniçado inimigo do Duque de Saldanha. Como deixaria elle de aproveitar a occasião de cevar as suas iras procurando perder o homem que detesta, se tanto, podesse conseguir?

Parece que o digno Par quer fazer crêr que esse jornal, o primeiro que inventou o rapto, ainda que inimigo frenetico do Governo, e do Duque de Saldanha, não é um economista official da administração e pessoa do nobre Conde. (O Sr. Conde de Thomar—Não é). É sim, senhor; eu folgo de que o digno Par tambem tenha defensores, e que os tenha bons; aquelle não direi que é muito bom, mas não é máo á falta de outros (riso).

O que digo é que o nome dos jornaes não significa nada: o tudo são os individuos que os redigem. Tal folha, que hontem me foi favoravel, porque mudou de redactor, ou porque o antigo mudou de sentimentos, volta-se hoje contra mim, e me flagella sem piedade, E não entrando nas muitas causas que podem produzir estes effeitos, é certo que ninguem ignora que é verdade o que digo.

O Sr. Ministro da Marinha — Lá está o Times....

O orador — Deixemos o Times; os nossos movem-se talvez por impulso diverso.

Sr. Presidente, quando eu disse que uma força maior, que um fado irresistivel, uma especie de magnetismo, trazia o digno Par preso á sombra do Duque de Saldanha, expressei uma persuasão minha confirmada pelo proprio digno Par. Elle mesmo confessou que o não perdia nunca de vista, que conta os seu» movimentos; que o observava de chaile, de capote, em pé, sentado, recostado, fallando, em silencio— sempre com os olhos cravados no vulto que o opprime; mas felizmente o digno Par não é sapo que de mal de olhado ao objecto constante da sua attenção (hilaridade).

E comtudo só o vê por fora; se lhe descobrisse o peito, far-lhe-ia talvez mais justiça; talvez os sentimentos de inimizade que lhe professa dessem logar a outros mais generosos; não viria de um modo menos cavalheiro, não quero dizer isso, mas de um modo injusto soltar a frase de que elle ia ao theatro, porque não tinha obrigação de responder-lhe ali.

Algumas vezes temos tido aqui, o digno Par e eu, contendas, que não são mui fortes, porque são comigo; e apesar disso nos sentimos fatigados no fim dellas. Que succederia se o digno Par tivesse o Duque por adversario em um duelo parlamentar? Como cresceriam as suas forças, e as suas dimensões? Oh que encontros! Já se me affigura um combate de» gigantes, as lançai despedaçadas, e as rachas voando por esses ares viriam cair-me aos pés; e eu, como já alguem disse, faria dellas uma fogueirinha para aquecer-me entre tanto (riso). O digno Par quer estas batalhas, e não combater comigo; e assim mesmo já vi a S. Ex.ª sair de um pequeno certame que tivemos, fatigado e transpirando ás bagadas, involto na sua capa, e aboborado por um fiel amigo, que o acompanhou zeloso e acautellado contra as constipações até sua casa (riso). louvavel acto de amor e caridade (riso).

Já vé o digno Par, que se isto succede aos combatentes com boa saude, como o digno Par, que succederia ao Duque de Saldanha enfermo o enfraquecido? Eu peço a S. E. que seja mais humano.

E eu que estou sustentando ímpetos do digno Par, de certo de muito menor força, porque a não emprega contra mim, Deos sabe quanto me sinto fatigado do combate.

Em quanto á carta do Duque a mim dirigida, e que o digno Par deseja que eu ponha na Mesa, direi que já aqui a li mais de uma vez. Que temos diante de nós uma tachigraphia inteira, a Camara plena e muitos espectadores: não póde ignorar-se nem occultar-se o contexto della.

Da-la-hia ou de bom grado, mas não a recebi senão para a lêr, e intendo que a não posso entregar sem o consentimento do seu auctor. Talvez tambem eu devesse pedir a opinião da Camara, que nos escuta, sobre a entrega, já que os seus membros quizeram que esta interpellação e esta discussão tivesse logar aqui.

O Sr. Conde de Thomar — Peço a palavra.

O Sr. Presidente — Peço licença ao digno Par para se lêr uma communicação que veio agora da outra Camara.

(Leu-se).

O Sr. Presidente — Não sei se a Camara quererá que esta proposição de Lei vá á commissão de administração publica, e portanto vou consultar a Camara.

(Votação).

O Sr. Presidente — Está approvada, e tem o digno Par a palavra.

O Sr. Conde de Thomar disse que faz quanto possivel para evitar questões pessoaes com o Sr. Ministro do Reino, e que ainda antes de entrar na Camara, mostrára a alguns dos seus amigos presentes o sentimento que tinha, de que S. Ex.ª fosse o encarregado pelo Sr. Presidente do Conselho, de responder na presente interpellação, pois receava que o Sr. Ministro, arrastado pelos seus rasgos de eloquencia, proferisse algumas frazes, com o intento de provocar a hilaridade dos ouvintes, as quaes dessem logar a uma discussão, que aliás se podia evitar. A Camara devia observar que elle (orador) não linha proferido uma unica palavra que authorisasse o Sr. Ministro do Reino a proceder, como procedeu (apoiados). Ao que parece o nobre Ministro sentio que o seu discurso fosse considerado como tendo duas partes, uma graciosa, e outra séria! Não era elle culpado em que o Sr. Ministro do Reino substituisse as razões, e argumentos, com que deve ser tractada uma questão grave, graciosidades, que podem bem servir para desafiar a hilaridade dos ouvintes, mas que sempre prejudicam a causa, que se defende. Que o Sr. Ministro pertende se attenda antes ás suas palavras, que ao effeito que ellas produzem, mas que elle orador pedia a S. Ex.ª o observar, que se as palavras são proferidas para produzir o effeito, que aparece, não é possivel deixar de attender a uma e outra cousa. O nobre Ministro deve saber que só á falta de razões sólidas e concludentes se recorro a um similhante modo de discutir! (apoiados.)

Não foi mais feliz o nobre Ministro, em ter recorrido ao sentimentalismo a favor do Sr. Duque de Saldanha! Nem podia conceber-se, como S. Ex.ª pertendeu accusar o digno Par interpellante de se regosijar com as desgraças do Sr. Presidente do Conselho, não deixando de o seguir por toda a parte, e a ponto de notar as vezes que veio ao theatro, e tempo que se demorou, e como se acha vestido! Bem longe disso o digno Par lho deseja um prompto restabelecimento, até porque desejo ve-lo no Parlamento, aonde a sua presença se lhe torna tão necessaria, e que se fallou no tempo, que o Sr. Duque de Saldanha se demorou no theatro, o a maneira porque se apresenta, procedeu do gracioso rasgo de eloquencia, que o nobre Ministro empregou, para fazer figurar o nobre Duque embuçado em um capote, e mettido a um canto do seu camarote, demorar-se um quarto d hora a ouvir madame Alboni, o que era differente de vir á Camara aonde tinha de responder! Não sendo exacta similhante asserção, e sendo necessario deixar bem claro o motivo, parque o Sr. Presidente do Conselho ia aos espectáculos públicos, e não comparecia no Parlamento, se vira o digno Par na necessidade de comentar essa parte do discurso do nobre Ministro. O digno Par notava aos Srs. Ministros, que era uma imprudencia da sua parte trazer á discussão objectos que lhe são estranhos! (apoiados.)

O Sr. Ministro do Reino - Quem fallou em theatro?

O orador — O digno Par notara, é verdade, o facto de comparecer o nobre Presidente do Conselho no theatro, deixando de comparecer na Camara, mas que para se lhe responder, não era necessario descrever a figura encapotada do Duque de Saldanha, sentado a um canto do camarote para ouvir M.me Alboni, o que era muito differente do responder nas Camaras (riso).

Não era igualmente necessario recorrer ao sentimentalismo a favor do Exercito, que o Sr. Ministro do Reino não respeita mais que o digno Par — que as phrases soldadesca desenfreada não podiam referir-se ao Exercito, que obediente ás Leis e ao Governo se conservou leal aos seus deveres, e á disciplina—que taes phrases sómente podiam referir-se aos que, abandonando as suas bandeiras, e o seu commandante, simultaneamente se separaram do campo da legalidade, e da obediencia para ir para o campo da revolta, e da anarchia. Perguntaria elle digno Par ao Sr. Ministro do Reino se approvava a conducta dos militares que em Coimbra abandonaram o Commandante em Chefe do Exercito? Muito se admirava o digno Par de que o Sr. Ministro aproveitando aquella phrase quizesse assim chamar o odioso sobre quem a proferira, e que notasse bem S. Ex.ª que por tal fórma vinha a condemnar o procedimento de muitos dignos Pares que se acham presentes, e apoiam o Governo, porque esses dignos Pares desembainharam a espada contra essa soldadesca desenfreada, o se conservaram sempre firmes, ao Governo decaído até que chegou o momento do triumpho do nobre Marechal Saldanha.

Nada accrescentaria sobre o que o Sr. Ministro adduzira para provar que elle digno Par havia espoliado gota a gota o Sr. Duque do Saldanha, porque estava este assumpto devidamente esclarecido — notaria, sómente que o Sr. Ministro invertera as suas palavras, quando pertendeu fazer acreditar que o digno Par lançava sobre o Ministro da Guerra da Administração de 18 de Junho a dimissão dada ao Sr. Duque de Saldanha de membro do Supremo Conselho de Justiça Militar, e de primeiro Ajudante de El-Rei, porque bem longe disso o orador apresentava em tal acto como resolução do Governo, e que se necessario era repetir, não tinha duvida em declarar que approvava, e ainda hoje approvaria uma tal dimissão, dadas as mesmas circumstancias.

Que não prestara a maior attenção aos espetos, páos, e lanças com que o Sr. Ministro do Reino fez accender uma fogueirinha, mas que percebera que o intento de S. Ex.ª foi fazer acreditar que elle digno Par não mettia medo ao Sr. Duque de Saldanha, que podia considerar-se um gigante na presença de um pigmeu! Julgava o digno Par que o medo que o Duque de Saldanha tinha era igual ao que elle digno Par tinha do mesmo Sr. Duque de Saldanha, mas que havia uma circumstancia a notar-se, e vinha a ser: que nunca elle digno Par tinha impedido que o Duque de Saldanha o viesse combater ás Camaras, e que nunca havia com esse fim dado ordens de prisão contra S.Ex., ou impedido o seu desembarque, vindo do estrangeiro; e que elle digno Par já por duas vezes tinha visto empregar contra si estas armas de doçura pela mão do nobre Duque (sensação); que uma dessas vezes fora em 1882, quando accusado activamente pelo Sr. Duque de Saldanha, tentára vir á Camara para se defender; a outra fora em 1846!

Fez o digno Par algumas outras observações, explicando e sustentando o que antecedentemente adduziu para mostrar que o Sr. Duque de Saldanha, pelo que respeita a ameaças graves feitas pela imprensa, se acha em circumstancias peores que ninguem, e que não pode levantar a sua.