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130 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Sendo a primeira vez que n'esta casa tem de se referir á administração dos caminhos de ferro, cumpre-lhe agradecer a todos os Dignos Pares as palavras amaveis e elogiosas que dirigiram a essa administração ; mais, para que se encontre plenamente á sua vontade, tem de fazer uma declaração, e é que as responsabilidades que pesam sobre essa administração, e não são ellas pequenas nem poucas, pertencem unica e exclusivamente á pessoa que está á frente d'ella, e que, pelo contrario, os elogios pertencem ás pessoas que d'essa corporação fazem parte, porque todos teem posto o melhor da sua intelligencia e do seu esforço, no desempenho da missão difficil que lhes incumbe.

Posto isto, dirá que foi com profundo sentimento que ouviu as referencias do Digno Par Mello e Sousa a essa administração; e não só com profundo sentimento, mas até com admiração, porque S. Exa. é um dos que firmam o parecer da commissão d'esta casa que estabelece a administração das obras do porto de Lisboa nos moldes em que está organizada a administração dos caminhos de ferro do Estado.

Antes de passar adeante, tem a explicar a razão do adeantamento de 2:000 contos de réis feito á administração dos caminhos de ferro do Estado. Não tendo essa administração meios necessarios para fazer face a uns certos encargos, e tendo ponderado por isso- ao Governo a necessidade de lançar no mercado uma nova serie de obrigações, este fez-lhe ver a inconveniencia de recorrer ao credito para uma nova operação bancaria de pequena importancia, no momento em que estava pendente a questão dos tabacos.

Dada, pois, a razão d'esse adeantamento, lembrará que o Governo que em 1899 estava á frente dos negocios publicos, attendendo a que devia conservar na posse do Estado as suas linhas ferreas, tratou de regular a respectiva administração, e para isso se acercou dos meios que lhe permittissem a realização da sua ideia.

Criada, pois, a administração dos caminhos de ferro do Estado, esta logo reconheceu que as carruagens para o transporte de passageiros não possuiam as indispensaveis condições de asseio, que as mercadorias estavam dias e dias á espera de vagons que as transportassem, isto com grave prejuizo do commercio, da industria, e da agricultura e até da propria receita das linhas ferreas. Todo este pessimo estado de cousas se devia, não á falta de competencia de quem estava á frente d'esses serviços, mas á mingua de recursos para occorrer a todas as emergencias; o que, entre outras desvantagens, trazia a de serem feitos os pagamentos muito tardiamente.

Era esta a situação em 1899. Vejamos agora o que tem feito a administração actual.

Á administração actual iniciou os seus trabalhos estabelecendo regras da mais austera moralidade, e deliberou não assumir compromissos sem que antecipadamente soubesse que es podia cumprir integralmente. Na admissão do pessoal, tem sido de um rigor inexcedivel, e deve dizer á Camara que é talvez a unica Repartição do Estado onde se tem respeitado a chamada lei dos sargentos.

Em 1899 havia apenas em exploração nas linhas do Estado 817 kilometros, e hoje temos 964, isto é, mais 147 kilometros. Fez-se a estação de S. Bento, no Porto, obra digna a todos os respeitos da capital do norte. Tratou-se da construcção da ponte do Pocinho, que custou 200 contos de réis, e que tanto interessa não só á viação accelerada como á viação ordinaria. Tambem está prompta a ponte de Pinhão, obra importantissima e que, para ser aproveitada, depende só do exame da commissão de pontes. No Barreiro gastaram-se para mais de 120 contos de réis, no intuito de alargar o movimento de carga e descarga das mercadorias que acodem áquella estação.

Tambem tem merecido especial cuidado a construcção de pequenos troços de estradas ordinarias, que liguem as estações dos caminhos de ferro ás povoações que lhes estão proximas.

Já possuimos muitas locomotivas, e estão em construcção muitissimas outras. Ha carruagens para passageiros com todas as condições modernas, e ha um crescido numero de vagons para o movimento de mercadorias. As officinas estão dotadas com todos os instrumentos necessarios aos trabalhos que nellas são executados.

Tem adquirido bons vapores, que fazem a communicação entre as duas margens do Tejo, e que viajara perfeitamente, tanto de dia como de noite.

Logo que possa, está a administração dos caminhos de ferro habilitada á construcção uma ponte que ligue as nossas linhas, no Guadiana, ás da nação vizinha.

Quanto a carvão, tem-se adquirido em New-Castle e Cardif, em boas condições de preço e qualidade. Já se tem feito seguir directamente da Inglaterra para o Algarve carregamentos d'este combustivel.

Em seguida o orador apresenta alguns documentos, e por elles se vê que, no que toca a rendimento, movimento de passageiros e mercadorias, e em tudo mais que respeita a exploração de linhas ferreas, o augmento de 1899 até hoje tem crescido extraordinariamente, e em nada se parece a situação de hoje com a de então.

Se a proposta inicial do Governa fosse convertida em lei, a pessoa que está á frente da administração dos caminhos de ferro do Estado teria pedido ao Ministro das Obras Publicas que o substituisse, porque não saberia como havia de preceder em taes condições.

O Sr. Ministro da Fazenda ainda hoje declarou que a Camara dos Srs. Deputados introduziu na proposta do Governo uma modificação, da qual resulta que essa administração em nada será prejudicada.

Elle, orador, tem duvidas a esse respeito. (Apoiados). E, porque tem essas duvidas, manda para a mesa umas propostas, que são do teor seguinte :

Proponho que seja modificada a redacção do § unico do n.° 1.° do artigo 47.°, em ordem a ser eliminada qualquer referencia á administração dos caminhos de ferro do Estado.

Sala das sessões, em 26 de janeiro de 1907 . = Pereira de Miranda.

Proponho que ao artigo 9.° seja addicionado o seguinte:

§ unico. A administração dos caminhos de ferro do Estado continuará a reger-se pela sua actual legislação especial em vigor.

Sala das sessões, em 26 de janeiro de 1907. = Pereira de Miranda?

Não quer por mais tempo abusar da paciencia da Camara. Vae terminar, mas antes d'isso, visto que é a primeira vez que n'esta Camara se refere á administração dos caminhos de ferro, cumpre-lhe agradecer aos chefes dos Governos, e aos Ministros da Fazenda e Obras Publicas, das situações que se teem succedido nas cadeiras governativas desde 1899 até hoje, a cooperação que lhe teem dispensado, desejosos todos de que se faça alguma cousa de util e conveniente. N'este seu agradecimento deseja especializar o illustre chefe do partido regenerador, o Sr. Hintze Ribeiro, que, entendendo que a lei de 1899 poderia produzir bons e excellentes resultados para o paiz, deu sempre provas de que era seu desejo favorecer a administração a que elle, orador, pertence, porque assim engrandecia e fazia prosperar as linhas ferreas da nação.

Vozes: - Muito bem.

S. Exa. não reviu este resumo do seu discurso nem as notas tachygraphicas.

S. Exa. foi cumprimentado por varios Dignos Pares.