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178 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

digo-o francamente, não logrei comprehender o que este era discussão! (Apoiados).

Como se estabeleceu, porém, o principio de que a um orador que falasse contra, se devia seguir outro que falasse a favor, e havendo-se o Digno Par o Sr. Dias Ferreira inscripto contra, eu, embora receasse o confronto, como tenho toda a satisfação em me seguir áquelle illustre collega, inscrevi-me a favor.

E, cumpre-me, antes de proseguir, dizer ao Sr. José Dias Ferreira que a sua palavra não é a voz do que clama no deserto, e a prova teve-a o illustre orador na attenção e no interesse com que foi escutado pela Camara.

Se a sua palavra não foi damantis in deserto, é possivel que haja faio clamantis in tempore, tão largo periodo ha que o illustre orador vem insistindo nas suas exortações!

Tenho de fazer algumas considerações com respeito ao que disse o Digno Par; mas antes d'isso, e apesar de não ter pedido a palavra para explicações, peco ao Sr. Presidente que me permitta dar uma explicação pessoal.

No dia em que se iniciou esta discussão, um Digno Par propoz que se levantasse a sessão, a fim de que o Sr. Presidente do Conselho, distinctissimo parlamentar, pudesse ter o tempo necessario, como que, para estudar o ponto, e preparar-se para se poder defrontar a peito aberto, com o Digno Par.

Eu nunca podia imaginar que o Digno Par quizesse distribuir ao Sr. Presidente o papel que o pedagogo distribue ao seu discipulo.

Imaginei que aquella proposta representava apenas um expediente parlamentar a fim de que a sessão se levantasse sob a impressão do que havia occorrido pouca antes e que o Digno Par classificou de scenas dolorosas. E tanto mais me pareceu, não ter estado em erro, quanto não o tendo podido conseguir, o Digno Par tomou a palavra, e encheu toda a sessão para que ao menos a Camara ficasse sob a impressão do discurso de S. Exa.

E bem razão tinha eu quando me in surgia contra semelhante proposta, pois que a pouco trecho o mesmo Digno Par impunha-me a responsabilidade do que ia succeder, e de que talvez tivesse de me arrepender!

Não me pesa aquella responsabilidade, nem me punge este arrependimento. (Apoiados).

Com effeito, afinal, o que veio a acontecer?

O Digno Par subiu ao seu Olympo parlamentar, fusilou os relampagos da sua mais inflammada eloquencia sobre a cabeça do Sr. Presidente do Conselho, qual Tore omnipotente vibrou contra os Srs. Ministro do Reino e Ministro da Fazenda o seu raio ardente, percorreu, como é uso dizer-se, todas as provincias da publica administração, e afinal, acabou intimando o Ministerio a, que abandonasse o poder, por isso que já não tinha auctoridade para continuar no Governo!

É verdade, Sr. Presidente, que ao attentar n'esta desgraça imminente sobre o paiz, o Digno Par nos deixava entrever a consoladora esperança de que, embora ainda não tenha a ambição de entrar novamente no poder, se sacrificaria a succeder ao Sr. José Luciano de Castro, como se neste paiz não houvesse, outro successor do Sr. José Luciano de Castro senão o Sr. Hintze Ribeiro!

O Sr. Hintze Ribeiro: - Peço a palavra.

O Orador: - Foi tal a impressão d'esta intimativa, que ao ver o Ministerio reapparecer na Camara, o Digno Par Sr. Arroyo admirava-se, o Digno Par Sr. Baracho indignava-se, e o Digno Par Sr. Jacinto Candido censurava.

Ora, eu, com a mesma auctoridade, com o mesmo direito de que usou o Digno Par, digo ao Governo: Fique, porque deve ficar! (Muitos apoiados).

Esse é o seu dever. (Apoiados).

O Ministerio não pode sahir d'aquellas cadeiras sem cumprir a sua missão. (Apoiados).

Pois que, o Sr. José Luciano de Castro levanta-se de um verdadeiro equúleo, onde uma doença dolorosa o excruciou durante largos mezes e não para ir convalescer na doce paz do seu lar e no remanso tranquillo da familia, mas para se lançar de novo n'esta leoneira da vida publica, onde nada tem á esperar e de onde nada mais pode ambicionar; o Sr. José Luciano de Castro sujeita-se a uma das campanhas mais injustas, e sobretudo, das mais ferozes que se tem levantado n'este paiz, fertil n'esses productos, põe o peito aos tiros incessantes que contra elle se disparam, e ha de abandonar o Governo á primeira intimativa da impaciencia da opposição, ou da ambição do poder? (Apoiados). Não!

Tem que ficar, ha de ficar emquanto não houver cumprido a sua missão. (Apoiados). Tem de ficar emquanto os elementos constitucionaes estiverem por seu lado. Deve-o a si, ao paiz, ás instituições.

Deve ficar, ainda pelo seu partido. O Sr. José Luciano de Castro, como chefe, tem-se visto ultimamente cercado por um partido que comprehendeu nobremente que n'esta occasião o seu dever era cerrar ainda mais as suas fileiras para prehencher as baixas lamentaveis que soffreu. (Apoiados).

Mas quem sou eu, para vir falar no partido progressista? D'esse partido que é uma autocracia ou uma oligarchia, d'este partido que já não segue o caminho por onde o norteavam os antigos chefes, que se chamaram Duque de Loulé, Bispo de Viseu, Anselmo Brancamp, d'esse partido que se acha por tal forma germanado com um outro, que constitue com elle um dos braços do que é uso chamar-se o rotativismo!

Ora, antes de mais, seria bom que fixassemos em primeiro logar se o partido progressista é uma oligarchia ou uma autocracia; porque se é uma cousa não pode ser outra.

Eu, que tenho ouvido esta dupla accusação, peço aos criticos que comecem por pôr-se de accordo sobre este ponto capital das suas censuras.

Tome-se porém a peor das censuras: a de ser actualmente o partido progressista uma autocracia.

Perante semelhante accusação e estando ali o réu, venho eu, não como advogado tomar a sua defesa, mas sim depor como testemunha.

Muitos annos ha que muito activamente na politica, e sempre n'esse partido.

Ora, n'essa qualidade, tenho tido ensejo de assistir a muitas e delicadas crises politicas e por occasião d'ellas tenho assistido a muitas sessões da chamada commissão executiva, a frequentes reuniões dos elementos parlamentares do partido, e até a assembleias geraes. N'essas occasiões tenho visto muitas e largas discussões sobre a marcha politica, e sempre o que se seguiu, foi o resolvido pela maioria. (Apoiados).

Alem d'isso, se ha homem que tenha passado a sua vida a discutir com o Sr. José Luciano, sou eu. Tenho discutido muito com S. Exa., quer quando na opposição, quer quando no Governo; a disciplina não exclue a discussão, mas o que succede é que uma vez adoptada pelo partido certa direcção, essa é a que deve ser seguida.

Pela minha parte nunca dei pela tal autocracia do Sr. José Luciano de Castro, devo dizel-o.

N'esse partido, ha de haver necessariamente unanimidade em certos pontos, e esses são os que representam a sua doutrina, o seu symbolo, o "credo". (Apoiados). Nos outros, porém, não ha, nem pode haver, em partido algum, essa unanimidade, e como o unico criterio que n'este mundo sub-lunar se inventou para resolver as questões onde as opiniões de homens reunidos divergem é o das maiorias, acontece que a opinião de um paiz é a da maioria dos seus habitantes, a das camaras, a da maioria dos seus membros, e por isso