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SESSÃO N.° 15 DE 5 DE JUNHO DE 1908 5

O Digno Par falou com toda a energia, que não exclue serenidade; creio absolutamente na sinceridade e lealdade das suas affirmações, mas magoa-me que attribuisse ás minhas palavras de hontem a feição de um apaixonado ataque politico.

Em quê? Porventura eu visara pessoas, ou tivera nas minhas frases qualquer aspereza de odio ou violencia que são, na frase de um grande orador, "um sinal de inintelligencia e um sinal de fraqueza?"

Ah! Bem se via que o Sr. Teixeira de Sousa fora sempre, na sua vida publica, um feliz da fortuna! Merecia-o pelo seu talento e pelo seu caracter, que me merecem os maiores elogios.

Mas, por isso que era um feliz da fortuna, melindrava-se facilmente. Que seria se, como eu, tivesse sido victima de odios acintosos e pessoaes, movidos contra mim e contra os meus amigos?

Que seria se tivesse soffrido as injustiças e as calumnias dos inimigos,' se, como eu, tivesse recebido ingratidões de pessoas que ajudei e que amei, se tivesse padecido aggravos de alguns proprios, em cujo coração julgara estar?

Não, não fiz um ataque politico. Digo claramente ao Sr. Teixeira de Sousa, de quem sou amigo ha mais de vinte annos, com quem nunca tive ligações politicas, apesar do meu intensissimo affecto pessoal, porque S. Exa. milita num partido tradicionalmente conservador e eu cada vez me sinto mais liberal - mais apaixonado e ardente radical!

Eu procurarei pôr a questão com a maior nitidez e precisão, sem uma palavra de natureza pessoal, na sessão ultima. Recapitulei a questão, que reputo ser de Ordem moral, politica, administrativa e até internacional.

O Sr. João Franco declarou terem sido feitos adeantamentos á Casa Real: os Srs. José Luciano e Hintze Ribeiro responderam por forma que a opinião publica interpretou como negativa a entrega de quaesquer sommas illegaes á Casa Real ou á Familia Real.

Quando appareceu o decreto ditatorial, mudaram as situações: os progressistas confessaram haver adeantamentos, pedindo nas suas reuniões e moções inqueritos e documentos; os regeneradores ficaram silenciosos.

A conclusão é que os progressistas ou haviam falseado a verdade nas primeiras declarações do Sr. José Luciano, o que não deve admittir-se, ou que os adeantamentos haviam sido feitos pelos regeneradores, visto o Sr. Dias Ferreira ter declarado não os haver feito.

Eu entendo ainda que não foram os progressistas, porque o Sr. Espregueira é agora Ministro da Fazenda.

Que casta de homem, de Ministro seria o Sr. Espregueira se, tendo dado quaesquer sommas á Casa Real ou á Familia Real, fosse elle proprio liquidar as suas illegalidades ?

Em que situação moral ficaria o chefe progressista, se se provasse que o Sr. Espregueira, sendo seu Ministro, havia dado dinheiro á Casa Real ou a qualquer pessoa da Familia Real, e agora o Sr. José Luciano o escolhesse para a pasta da Fazenda?

Toda a gente diria que foi uma combinação, uma emboscada entre os dois, para abafarem e resolverem semelhante questão.

Ainda hoje li que o Sr. Espregueira dera, em Ministerios anteriores, dinheiro á Familia Real. Não pode ser.

Estando agora no Governo, seria um cumulo para elle e para o seu chefe!

E, a proposito, os antigos Ministros franquistas, perante a negativa dos dois chefes, ficam silenciosos?

Que situação moral é a sua?

Que dirá o país?

Não terei o direito de julgar que, por paixão, para terem a Coroa na sua dependencia, os franquistas armaram a declaração dos adeantamentos illegaes e fixaram, por odio, a somma do decreto ditatorial ?. . .

O Sr. Luciano Monteiro: - V. Exa. dá licença?... Eu, que sou o mais humilde dos membros, do ultimo Governo, mantenho as declarações do decreto ditatorial, em meu nome e no dos meus amigos. . .

O Orador: - A situação é ainda mais grave, depois das palavras do Sr. Luciano Monteiro.

O Sr. Teixeira de Sousa, segundo as suas palavras, que são de um homem de bem, negou ter dado quaesquer sommas á Casa Real. Acredito, é claro. Não pretendo mesmo explorar as palavras do Sr. Teixeira de Sousa, de que nem El-Rei o Senhor D. Carlos nem qualquer pessoa da sua casa lhe haviam solicitado qualquer somma.

O Sr. Teixeira de Sousa disse tambem que, por motivo de adeantamentos, tivera os maiores desgostos da sua vida politica.

Não pergunto se mais algumas pessoas, alem das pessoas da casa do Senhor D. Carlos, lhe teriam feito solicitação; nem exploro a fase dos desgostos, de onde se vê que houve solicitações.

O meu proposito não é azedar, nem irritar, tanto mais que não duvido das affirmações do Digno Par, que é, a to dos os respeitos, ama das mais brilhantes individualidades da politica portuguesa.

Termino dizendo que o novo incidente de hoje, mais confirma a necessidade de se dar á questão dos adeantamentos a solução aconselhada por mim e pelos meus amigos.

Se os dissidentes estivessem no poder, separariam a questão da lista civil da questão dos adeantamentos. Trariam á Camara um relatorio da questão, com todos os documentos e informações, quer sobre as responsabilidades dos Governos, quer sobre as sommas adeantadas. Entregariam a solução á Camara; ella que resolvesse soberanamente.

O Rei, pelo seu proceder nobre e desinteressado, não cem responsabilidade alguma. Não pode ser envolvido neste debate, que só desacreditará os partidos, se elles não tratarem a questão com toda a clareza, á luz do sol. Bem haja o Sr. Teixeira de Sousa pela forma desassombrada como procedeu!

E, posto isto, continuo o meu discurso, interrompido na sessão antecedente.

Morrera El-Rei D. Carlos. Na tragica noite de 1 de fevereiro, não sei se correram aos Paços Reaes os chefes dos partidos. Li nos jornaes que sim. É natural que ali não encontrassem a multidão saudosa e solicita de tantos fieis que surge agora - e que não apparecem nunca nas casas dos Reis quando nellas paira a desgraça e a morte.

É a eterna historia das monarchias em que são tanto mais defensores do Rei, mais frequentadores do seu paço, mais conselheiros de violencia e de odio, mais apregoadores de amor e dedicação, aquelles que, nos primeiros rebates da desventura, abandonam quem tão mal serviram e tão mal aconselharam.

Foram os chefes dos partidos a esse paço, onde, como protesto contra a politica anti-liberal do ultimo reinado, não iam desde alguns meses, e como havia sido votado na commissão executiva do partido progressista que se aconselhasse a todos os seus correligionarios. Não sei se já nessa noite a Coroa lhes depôs nas mãos, que tão fracas se haviam mostrado na defesa da liberdade, nessas mãos partidarias que a ditadura paralysara quasi como se as tocara já o frio da agonia, os enormes poderes de serem os dois partidos, representados pelos seus chefes, os encarregados de formar o primeiro Ministerio de um novo Rei, ascendendo ao throno sobre cadaveres e entre os uivos de uma revolução. Se não foi nesse dia, foi no immediato. Num momento os dois partidos que o Sr. João Franco reduzira á mais absoluta impotencia, que se achavam divididos e incapazes, surgiram poderosissimos.

Ficaram com faculdades de Coroa. Escolheram 6s Ministros que lhes aprou-