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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 67

consequencia na idéa fundamental d'esse plano estava de accordo o governo.

Assim, pois, eu fallava em geral da administração do ultramar de accordo com o governo, e não podia vir aqui fallar em meu nome, e de um plano meu desconhecido aos meus collegas.

Agora não percebo como o digno par queria que eu tivesse conversado com os meus collegas e preparado as minhas propostas de lei antes de entrar para o ministerio, e quando nem sequer podia prever quem havia de fazer parte do gabinete.

(Interrupção do sr. marquez de Vallada que se não ouviu )

Perdão; como queria s. exa. que eu o soubesse?

Supponha que eu lhe dizia que tinha combinado com os, hoje, meus collegas sobre os planos do gabinete antes d'elle estar organisado!

Que não diriam então, acima do que já dizem, os nossos adversarios?

Haviam, de dizer o mais ainda provar com isso, que nós tanto contavamos entrar para o ministerio, que já tinhamos preparado os nossos projectos.

A verdade é que, quando eu fui convidado pelo sr. Fontes, foi muito depois da crise decidida.

Por consequencia, antes da formação do ministerio, já vê o digno par que não podia tratar de propostas relativas aos negocios do ultramar.

Disse s. exa. tambem, a proposito não sei de que, que nós ha muito tempo somos considerados esbanjadores, e dizemos que o povo póde e deve pagar mais.

Pois ainda isto dura, sr. presidente!

E disse muito bem, porque a verdade é a que provavam os factos. O povo pagou mais e viu o resultado benefico dos seus sacrificios.

Ha essa grande differença entre nós e os nossos adversarios, é que nós não lisongeâmos o povo, dizemos-lhe a verdade.

Depois perguntára-me o digno par se eu queria companhias, ou se tencionava contrahir algum emprestimo, avisando-me logo de que não votaria 5 réis, e fallando em nome da camara dos pares, para eu ficar sabendo que d'ella nada tinha a esperar.

Para que me perguntou então s. exa. o que tencionava eu fazer e em relação ao ultramar, se me cerceava todos os meios necessarios para realisar as minhas idéas?

Se o digno par visse que o governo vinha pedir cousas rasoaveis, necessarias e uteis, de certo que se não negaria a votal-as, apesar da má vontade com que me annunciou o contrario.

Sr. presidente, já que fallei de companhias, devo dizer, que vi o digno par, com a sua muita illustração, historiar-nos o que se tem passado com todas as companhias organisadas na Europa, acabando por condemnal-as.

Eu, quando na ultima sessão me referi a companhias, disse a v. exa. e á camara, que tinha receio de entrar n'esse caminho, porque as companhias têem quasi sempre dado maus resultados.

E quando ellas têem causado tantos estorvos a nações como a Inglaterra, a nós poderiam causar-nos muitos mais.

Em todo o caso, o que eu julgo desde já necessario é colonisar.

O que farei a este respeito não sei; mas o meu pensamento é chamar da India para a Africa oriental alguns colonos, que espero venham a ser o nucleo de uma grande população que nos falta, de uma progressiva industria que ha de ser extremamente remuneradora.

Fallando a respeito da India, já disse que conto com dois elementos, que nos podem prestar grande auxilio. Em primeiro logar a colonisação, e em segundo a força publica, de que espero tirar grande proveito.

Esqueceu-me dizer, e lembrou-me depois uma reflexão do digno par, as vantagens que nos póde dar é ensino religioso na nossa Africa Oriental.

A India ha de dar padres, não só para o ensino religioso, mas talvez tambem para ensinar as primeiras letras aos analphabetos.

Os meus antecessores organisaram commissões de obras publicas, e deram-lhes instrucções para edificar igrejas, cujos planos e orçamentos estão feitos, e de certo não podia o governo portuguez, o governo de um paiz eminentemente religioso, essencialmente christão, deixar de attender ás necessidades espirituaes d'aquelles povos.

Ainda mais: nós temos uma escola em Goa, que já nos tem dado para a Africa medicos excellentes, e ha de continuar a dal-os; tambem d'elles conto aproveitar-me na minha sonhada colonisação.

Quanto aos navios, eu já disse ao digno par que tem a gente de que precisam, pois tem as guarnições completas. O que está, porém, atrazado é o recrutamento; e eu já disse tambem a s. exa., que tinha officiado ao sr. ministro do reino para activar as operações do recrutamento, o que se tem feito por modo, que dentro em pouco se poderão dar as baixas aos que tem servido por mais do tempo.

O digno par perguntou pelas estatisticas do ultramar: assevero a s. exa., e creio que o digno par não duvidará da minha palavra (Apoiado.), que um dos primeiros officios circulares que se expediram para o ultramar, foi a ordenar que ali se façam as estatisticas e o recenseamento da população até onde se possam fazer.

Não me lisonjeio de que possam vir perfeitos, mas poderão successivamente ir attingindo a perfeição que se deseja.

Os intuitos do digno par estão, creio eu, satisfeitos.

Tenho por agora concluido.

O sr. Marquez de Vallada: - Declarou que nos seus precedentes discursos não fizera insinuações ao sr. ministro da marinha, nem lhe pedia responsabilidade de actos que não são seus; o seu desejo é que Portugal não tenha uma politica ingleza, franceza, ou prussiana, mas sim uma politica verdadeiramente nacional.

Reportando-se de novo ao ultramar, disse admirar-se que as guarnições do ultramar ainda estivessem compostas de degradados, entendendo que tal systema devia acabar; e tambem que o sr. ministro nada dissera em relação ás colonias agricolas a que elle orador se reportára; e significou o desejo de que s. exa. apresente a relação das escolas em os nossos dominios ultramarinos; assim como desejava saber se estava completa a guarnisação de todos os navios de guerra, e o estado dos contingentes para o exercito do ultramar.

O sr. Ministro da Marinha: - Estou tomando nota para responder ao digno par.

O Orador: - Alludindo aos dignos pares que tinham pedido a palavra para tomar parte na sua interpellação, declarou aguardar as observações de s. exas. para continuar no assumpto.

O sr. Conde de Cavalleiros: - A interpellação que acaba de verificar-se, tem-se tornado tão vasta, tão grande, tão geral, que eu, pygmeo e insignificante como sou, sinto medo de entrar n'ella.

Ha bastantes annos que deixei de fazer interpellações. Não creio n'ellas. Gosto de conversar com os srs. ministros, gosto de chamar a sua attenção para os negocios publicos, e especialmente para aquelles em que vejo que é de conveniencia publica avivar a lembrança de s. exas., mas não tenho a mais pequena presumpção nem desejo de lhes dirigir interpellações.

Eu não estava prevenido pelo digno par, o sr. marquez de Vallada, não sabia do objecto de que ia tratar-se, quando ao entrar outro dia n'esta casa vi que se achava presente o nobre ministro da marinha, e pedi a palavra com idéa de invocar a sua attenção para um ponto de utilidade publica e administração; mas depois, não querendo interromper a