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238 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

honro de ser amigo, e amigo até por herança, porque fui amigo e muito intimo de seu honrado e respeitabilissimo pae, pugnando não só pelos direitos de Portugal, mas pelas conveniencias religiosas, queimou até os ultimos cartuchos, mas não quiz fazer uso da reserva.

Ainda nas vesperas da assignatura da concordata s. exa. mandava para Roma este telegramma:

«Lisboa, 20 de junho de 1886. — Embaixador de Portugal em Roma. — Empregue a maxima diligencia para conseguir praso de um anno. Quando repute impossivel conseguil-o, acceite praso marcado pelo Papa.»

Este despacho teve no mesmo dia a seguinte resposta:

- «Impossivel nova instancia. Quarta feira 23, assignarei concordata».

Mais tarde é assignada a concordata.

Como disse, o sr. ministro dos negocios estrangeiros queimou até o ultimo cartucho, fazendo valer o direito que n’esta questão assistia a Portugal, e as- vantagens religiosas que deviam resultar para as christandades da India.

Mas, sr. presidente, o facto estava consummado, a concordata estava assignada, publicada e ratificada.

Vamos agora aos annexos.

Tantas foram as instancias e representações das christandades que, pela concordatas eram excluidas da jurisdicção do padroado, tão instantes as representações do arcebispo de Goa e do governador geral da India, que o nobre ministro da negocios estrangeiros se considerou obrigado a pedir á Santa Sé que algumas modificações fossem feita no sentido já indicado. Achando-se em Lisboa o embaixador, s. exa. dirigiu-se por uma nota ao nuncio apostolico em Lisboa, que não tardou em dar communicação a Roma.

A primeira resposta da Santa Sé não foi satisfactoria. Muitas vezes acontece isto nos negocios com a Santa Sé, até mesmo nas dispensas matrimoniaes.

Eu vou apresentar um facto que a este respeito succedeu commigo.

Quando eu era ministro de Portugal em Roma, recebi um pedido de uma familia, de uma nobilissima familia de Lisboa, com quem tenho muitas relações sociaes, para que me interessasse pela concessão de dispensa para um de seus filhos casar com uma sobrinha. Fiz seguir o negocio pé]a via ordinaria e não foi concedida. Fiz juntar mais documentos, nova recusa, a final pedi uma audiencia a Sua Santidade.

Ponderei ao Santo Padre os interesses de familia que se ligavam á realisação d’esse consorcio, e Sua Santidade concedeu. Está presente um digno par, chefe actual d’essa nobre familia, p sr. duque de Palmella, a dispensa era para o sr. marquez de Monfalim casar com sua sobrinha, a senhora condessa de Terena.

Com relação á concordata, tem succedido cousa similhante.

Á nota do sr. ministro dos negocios estrangeiros respondeu a Santa Sé recusando, depois houve algumas modificações e já dizia pensaremos. Esperamos pelo regresso cio embaixador.

Por fim foram concedidas algumas igrejas, e com novas representações ainda se obtiveram mais, mas não basta.

Quanto a Ceylão tambem o nobre ministro pedia para que se tratasse de conservar as igrejas que estavam sob a sua jurisdicção; mas não sei que fatalidade houve que fez com que não fossem incluidas.

Sinto muito isto, mas creia o nobre ministro que eu não estou fazendo opposição aos actos de s. exa., pelo contrario, eu estou fallando como amigo e á boa paz.

Tomára eu que s. exa. podesse fazer tudo quanto eu vou pedir-lhe!

Dizia eu que sentia que nada se tivesse podido fazer com relação a Ceylão, apesar de todas as diligencias que se fizeram para conseguir a sua conservação dentro da jurisdicção do nosso padroado, e sinto-o porque ali é que mais perigam, as almas daquellas christandades.

Eu peço desculpa á camara do desalinhado das minhas considerações, mas eu tenho tantas cousas diversas a dizer sobre este assumpto, que trato ha trinta annos, que não posso seguir methodo nenhum na minha exposição.

Vamos agora aos annexos:

Com respeito á conservação de Ceylão, dizia o sr. ministro dos negocios estrangeiros ao nosso embaixador em Roma, no seu despacho de 20 de novembro:

«Faça todas as diligencias possiveis para obter as modificações pedidas pelo governo.»

Pesava a s. exa. que as christandades de Ceylão, sempre fieis ao padroado, tivessem sido d’elle excluidas na concordata.

Finalmente, as cousas em Ceylão têem-se tornado por tal forma graves, que eu, como já disse, não esperei pelo. ensejo de uma interpellação para tratar d’esta questão.

Peço licença á camara para ler a carta que recebi pela penultima. mala, dirigida pela commissão defensora dos direitos do padroado em Ceylão.

Essa leitura fará bem ver á camara o estado dos animos em Ceylão; diz a carta:

«Não cessámos de pedir a Deus e a sua Mae Santissima para moverem o coração de El-Rei, dos seus ministros e do Santo Padre para que nos concedam o mais ardente desejo de nossas almas, e pedimos até que se humilhem aos pés de Sua Magestade, do governo, do nuncio apostolico e de quaesquer outras pessoas influentes, para que attendam os nossos clamores, não deixem uma pedra só sem ser movida,

«A propaganda faz tudo o que póde para nos levar á sua jurisdicção, para depois nos vexar e perseguir. O excitamento aqui cresce de aia a dia. No seu desespero e abandono religioso em que se acham, pediram padres a Goa, mas nenhum tem vindo, nem mesmo resposta do sr. arcebispo.

«Os padroadistas estão resolvidos a chamar em seu auxilio o patriarcha de Babylonia e pedir-lhe que mande para Ceylão o bispo Mellus eu qualquer outro. Nós, porem, temos exercido toda a nossa influencia para que suspendam por ora de pôr em pratica essa resolução, observando-lhes que é nosso dever esperar pelo resultado da missão do nosso delegado em Lisboa., que esperámos seja favoravel, e que talvez em breve nos chegue um telegramma com a feliz noticia. Emfim conseguimos socegal-os e prometteram esperar.

a Façam todo é possivel para mover o bondoso coração de Sua Magestade a Rainha; pois que o Papa não se fará surdo a seus pedidos, e nós transmitiremos a nossos filhos o nome de Sua Magestade com a maior veneração, como a nossa salvadora.»

Veja v. exa., sr. presidente, veja a camara, saiba o paiz inteiro como a 2:600 leguas de distancia é apreciado e invocado o augusto nome e o bondoso coração de Sua Magestade a "Rainha, consoladora dos desconsolados, como lhe chamam essas christandades na sua linguagem singela, mas sincera e convicta de que as suas preces, os seus clamores hão de ser escutados e attendidos.

A isto, sr. presidente, o que tenho a pedir ao governo é que se interesse efficazmente por aquellas christandades.

Para se ver como a religião catholica está arraigada n’esses corações, vou ler um artigo que se encontra n’um jornal inglez de Bombaim, o Anglo Lusitano, de 28 de abril de 1876, chegado hoje, e que procurarei traduzir com a maior fidelidade.

«Noticias de Ceylão. — Os christãos do padroado, pelas circumstancias em que se acham de falta de padres, foram obrigados a fazer serviços leigos durante a semana santa do modo seguinte:

«Domingo de ramos: Uma palma, que tinha, sido benta no anno anterior, foi collocada no altar, e um dos assistentes leu as orações proprias do dia, cantando-se alternadamente no côro, á noite houve a Via sacra.