O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

192

Sessão de 10 de Fevereiro, Diario n.º 37, pag. 163, col. 1.ª, logo depois da ordem do dia.

O Sr. C. de Thomar — Tenho de continuar hoje o meu discurso, e fa-lo-hei sem preambulo algum, lembrando sómente á Camara, que em vista de tudo quanto hontem expuz, se póde facilmente conhecer, que os nossos adversarios politicos apresentam, sim, como seu programma, a união da familia portugueza, mas que os factos desmentem aquillo que significam as palavras. Lembrarei tambem á Camara, que em vista da minha exposição se conhece evidentemente, que os meus adversarios politicos, não tendo razões com que combater-me, tem fugido do campo da argumentação para o do sentimentalismo, e tem formado castellos no ar para mais facilmente os destruirem.

Os D. Pares do outro lado da Camara, queixaram-se fortemente de mim por lhes haver atribuido sentimentos revolucionarios, e o intento de quererem desthronar a nossa sempre chara Rainha, e de estabelecer uma Republica em Portugal. O Sr. C de Lavradio, que se mostrou mais irritado contra as minhas asserções, deveria lembrar-se de que eu, estabelecendo uma tal proposição, fiz pelo que respeita aos sentimentos revolucionarios, excepção a respeito d'alguns individuos, que no meu entender se tem constantemente opposto ao emprego da força, para que a opposição chegue ao poder. Não me pertence a mim fazer uma tal classificação: metiam os D. Pares a mão nas suas consciencias, e decidam quaes os que devem comprehender-se na regra geral, e quaes os que devem comprehender-se na excepção.

O D. Par, assim como os seus amigos, deveriam observar, que eu não lhe fiz accusação alguma por quererem SS. Ex.ªs desthronar a Sua Magestade, ou proclamar uma Republica. Eu não fiz mais do que exigir, que os meus contrarios politicos, os quaes tem ido buscar ao Livro azul fundamentos para dirigir-me graves e injustas accusações; (a esse Livro azul, que me parece ter com razão denominado o Livro negro da Nação Portugueza) dessem cathegoricas explicações sobre os planos e intenções criminosas, que nesse mesmo Livro azul lhes são imputadas pelas principaes personagens do parlamento inglez, e pelos proprios Ministros de S. M. Britannica.

Foi lendo documentos officiaes da maior importancia; foi lendo os discursos d'alguns Ministros Britannicos; foi lendo as proprias frazes do Duque de Wellington, desse grande capitão do seculo, que eu apresentei a minha exigencia. Nesses documentos, nesses discursos se diz: que se a Junta do Porto vencesse, a consequencia infallivel seria o desthronamento da Rainha, e a proclamação d'uma republica. O Duque de Wellington asseverou: que o fim da expedição saída do Porto, debaixo do commando do Presidente da Junta, era sem duvida desthronar a Rainha, expulsa-la dos seus Reaes Paços, e obriga-la a embarcar em um navio de guerra Britannico. — Respondei a estas accusações, (sensação profunda — apoiados). Espero a resposta, porque nos bancos contrarios está o illustre General, que tomou a parte mais importante em todos os acontecimentos da revolução, ccommandava em chefe essa expedição.

(O Sr. Conde das Antas — Já pedi a palavra — sussurro). Quero acreditar que o D. Par não tinha uma tal pertenção; eu não posso admittir, que haja um só portuguez, que nutra em seu peito tão perversa intenção! (apoiados geraes). Estimarei muito ouvir as explicações do D. Par; oxalá que ellas sejam satisfatorias! oxalá que ellas destruam completamente tão fortes accusações!!...

Os D. Pares a que respondo, para declinarem a responsabilidade dessa miseravel revolução, que tantos males, tantas desgraças trouxe, que destruio a prosperidade publica, e arruinou a fortuna dos particulares; tem pretendido demonstrar que o Ministerio de 20 de Maio não fóra um Ministerio revolucionario, e que não merece o titulo de Ministerio da Revolução, porque fóra antes Ministerio de circumstancias, e filho da revolução. Seja o que quizerem — Ministerio revolucionario, ou de circumstancias, Ministerio da revolução, ou filho della — o que convem é examinar quaes foram os seus actos, e quaes as suas tendencias governativas. (O Sr. Fonseca Magalhães — Exactamente). Pois bem, examinaremos esses actos, e desenvolveremos ao mesmo tempo os fundamentos com que o D. Par pretendeu justifica-los.

Disse S. Ex.ª, que o fim desse Ministerio era fazer parar a revolução, prescindindo do emprego da força, cuja ineficacia estava provada, e pacificar os povos pelos mesmos povos, cercando-se dos homens bons do paiz, os quaes sendo mandados ás provincias, pelos seus exemplos, pelas suas obras, e pelos factos, podessem trazer os povos á ordem, destruindo assim a anarchia. Accrescentou S. Ex.ª que no numero desses homens bons entrava a sua pessoa (susurro — agitação). Eu considero como homem bom o D Par, e compraz-me repetir a declaração que já fiz, de que o D. Par é um homem de ordem, e de grande merito. (O Sr. Fonseca Magalhães — Muito obrigado.) Direi mais, que estou convencido de que esta mesma opinião merecia o D. Par ao Ministerio que o nomeou para desempenhar uma importante commissão, e não deixará de concordar comigo nesta parte o Sr. Conde de Lavradio. (O Sr. Conde de Lavradio — apoiado.) Mas não obstante a vantajosa idéa que eu formo da capacidade e mais circumstancias, que concorrem no Sr. Fonseca Magalhães, entendo que a sua nomeação para Supremo Chefe politico do Districto de Coimbra e outros, foi um grande erro comettido pelo Ministerio da revolução. S. Ex.ª não era seguramente o mais proprio para o desempenho d'uma tal commissão. (O Sr. Fonseca Magalhães — Tambem eu pensei o mesmo.) Decidi-me a entrar no