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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 103

ciano de Castro, parecendo estar molestado com as minhas palavras, que tinha direito a ser respeitado.

Eu sei perfeitamente que as minhas palavras haviam de molestal-o profundamente, porque eu fallo a linguagem da verdade e da justiça com todo o desassombro, e por isso s. exa. não podia deixar de se sentir atormentado, de se curvar, e de humilhar-se diante da força das minhas conveições.

Respeito muito a camara e o sr. presidente, e sei que se sentam n’aquellas cadeiras os, representantes do poder executivo, para quem me cumpre, ter deferencia, mas tambem sei que me assiste o direito de lhes tomar contas pelos abusos que praticarem, e que quando um ministro pratica actos que merecem ã mais áspera e severa censura, não tem direito a ser tratado senão, como merece.. As minhas palavras exprimem fielmente o sentimento, de indignação, que me inspira o sr. ministro do reino por ter faltado á sua palavra compromettida solemnemente no seio do parlamento.

O fallar franca e lealmente tem sido a minha missão, e é o dever do homem de bem, do homem liberal, e de todos aquelles que aqui se sentam.

Sei perfeitamente que as minhas palavras não agradam ao sr. ministro do reino; mas o que n’ellas não ha é o odio nem o rancor. Não conheço esse sentimento. Outro tanto não poderá dizer o sr. José Luciano de Castro, porque é essa a disposição natural da sua indole e do seu caracter.

Fique certo, o sr. ministro do reino que e hei de erguer aqui a minha voz para verberar todos os actos de qualquer genero que considere nocivos, contrarios á lei, e improprios do poder, que tem a obrigação de manter o prestigio da auctoridade.

Sr. presidente, o sr. José Luciano de Castro admirou-se de que eu fizesse aqui esta interpellação, ao passo que o sr. José Dias Ferreira, chefe do partido constituinte, não levantara esta questão na outra casa do parlamento. A rasão d’isto, sr. presidente; é clara e simples. O sr. Dias Ferreira não fez esta interpellação por um sentimento que o sr. José Luciano de certo não comprehende. Foi por um acto de delicadeza para commigo. Eu não tenho culpa que s. exa. não comprehenda estes actos, nem os sentimentos que os determinam.

O sr. Dias Ferreira alem da sua deferencia para commigo, não quiz fazer esta interpellação. na outra camara, porque elle sabia que eu estava melhor ao facto de todos os acontecimentos, que se haviam praticado no districto.

Foi, pois, por um acto de deferencia para commigo, por um acto de delicadeza, que s. exa. não quiz, nem de leve, alludir a factos que eu conhecia melhor do que elle, porque os tinha presenceado.

Portanto a camara fica sabendo agora a rasão por que o sr. José Dias Ferreira não fallou na outra casa do parlamento sobre este assumpto. Se aquelle illustre deputado fallasse sobre o assumpto havia por certo fazel-o melhor do que eu, e havia de amargurar mais o sr. José Luciano, que já tem experimentado os effeitos da sua lógica irresistivel e da sua palavra frisante. Parece-me que o sr. José Luciano se arrependeria de provocar essa questão, porque todos sabem que o sr. Dias Ferreira é habil parlamentar, tem o dom da palavra, está acostumado a esmagar o sr. José Luciano todas as vezes que o tem chamado ao combate.

Vejo que a lição da experiencia não lhe tem servido para cousa alguma.

Sr. presidente, eu hei de responder a todos os argumentos do sr. ministro do reino.

Disse tambem o sr. José Luciano de .Castro que não havia de abandonar os seus correligionarios no districto de Castello Branco para dar um circulo ao sr. Pinheiro Chagas!

Sr. presidente, quaes são os progressistas que existem no districto de Castello Branco? Quaes os correligionarios, que s. exa. ali tem? Nem um.

Se o sr. Saraiva de Carvalho saíu eleito deputado pelo circulo do Fundão, foi, como hontem não disse, por uma astucia, por um ardil da auctoridade, nada mais nada menos; foi necessario andarem dizendo até á ultima hora que o candidato era o sr. Bandeira de Mello, cunhado de um amigo nosso, homem muito respeitavel, é um dos primeiros influentes do districto; dava-se como official a candidatura d’aquelle cavalheiro e até já lá estavam, as listas corri o seu nome; mas a final rasgaram-se essas listas e substituiram-se pôr outras em que figurava o nome do sr. Saraiva de Carvalho.

Fazia-se isto á ultima hora quando nos achavam descuidados, porque não podiamos crer que houvesse n’um ministro do reino tão pouco serio, que nem se importasse com a sua propria dignidade, nem com o prestigio do governo.

Para mostrar que o governo não tinha popularidade nenhuma no Fundão, basta dizer que n’aquelle concelho em que venceu a eleição de deputado, não se atreveu depois a intervir na eleição das camaras municipaes, nem na dos procuradores á junta geral do districto. Em quasi todo districto foi o governo derrotado. Na maior parte dos concelhos venceu a opposição sem ter um voto contra.

Aqui tem v. exa. a popularidade do partido progressista no districto de Castello Branco; e não obstante o sr. ministro do reino veiu aqui dizer que tinha de dar ali satisfação aos seus correligionarios!

Sr. presidente, o sr. Pinheiro Chagas não queria favores de qualidade alguma do sr. José Luciano de Castro não precisa d’elles; mas tinha direito a esperar, porque concorrera principalmente para que s. exa. subisse ao poder, que não se apedrejassem nem ferissem os eleitores do circulo por onde se propunha, que não os prendessem e impedissem que fossem livremente á urna.

O sr. Pinheiro Chagas, que é o modelo da honra, do brio e da dignidade, não podia querer outra cousa mais do que a uma livre e desaffrontada. Tinha direito a isso, e o sr. ministro do reino a obrigação correlativa a esse direito.

Sr. presidente, surprehendeu-me mais ainda que, depois, de tudo isto, se apresentasse o sr. José Luciano de Castro na camara, com ar compungido e lamuriante, affirmando que tinha muito pezar de que o sr. Pinheiro Chagas não tivesse sido eleito! Oh! sr. presidente, isto é maudito! Vejo, admiro e pasmo.

Pois o sr. José Luciano pensa que eu não sei a historia da perseguição eleitoral feita aquelle distincto escriptor e brilhante orador? Talvez não saiba que eu lesse algumas cartas de s. exa., em que appellava para o cavalheirismo de alguem a fim de impedir por todas as fórmas a eleição do sr. Pinheiro Chagas, por um outro circulo. Esta declaração do sr. José Luciano excede tudo. Esquece-se o sr. ministro do reino que ha doze vacaturas, que estão esses circulos sem representação, e que no regimen representativo devia proceder-se logo á eleição?

Porque procede assim? Porque sabe que ha um circulo que quer eleger o sr. Pinheiro Chagas, e para que a machina eleitoral produza todos os seus effeitos e de o resultado desejado, convém demorara eleição. Se as palavras do sr. ministro são a expressão do seu sentimento, pedimos-lhe, não favor, mas que cumpra o seu dever, mandando proceder já á eleição.

Este dever do sr. José Luciano é tanto mais imperioso, quanto são difficeis e criticas as circumstancias, em que só acha o paiz.

Sr. presidente, quando se ameaça o paiz de pagar os impostos os mais vexatorios, é necessario que a representação nacional seja uma verdade, que todos os circulos estejam representados, e que os seus representantes sejam ouvidos a dar francamente o seu voto.

Sr. presidente, será possivel que n’uma occasião em que se trata de um assumpto tão importante como é o lança»