104 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO
mento de novos impostos, havendo doze vacaturas na camara dos deputados, ellas não sejam preenchidas a tempo de virem ainda á camara n’esta sessão, os seus representantes d’aquelles circulos? Oh! sr. presidente, este procedimento é inqualificavel, e revela bem os desejos que o sr. José Luciano tem de ver o sr. Pinheiro de Chagas no parlamento. É triste e deploravel este espectaculo.
Admiro tambem, sr. presidente a ingenuidade, para não dizer outra cousa, com que o sr. José Luciano veiu aqui declarar que não tinha querido que se guerreasse a eleição do sr. Dias Ferreira, e que se tinha imposto aos seus amigos!
Porventura s. exa. já se esqueceu do que toda a gente sabe, de que o governo andou a offerecer o circulo e a procurar candidato idoneo e conveniente para se oppor ao sr. Dias Ferreira? Eu conheço pelo menos um a quem foi offerecido o circulo. Fique s. exa. certo que o sr. Dias Ferreira ha de agradecer-lhe a distincta fineza e boa vontade.
Sr. presidente, o caracter do sr. José Luciano é assim, faz á guerra que póde fazer encobertamente, e procura fazer persuadir aos guerreados o contrario, e ficar ainda tem com elles. E tanto essa a sua indole que até atira a responsabilidade para os seus collegas.
Os srs. ministros da fazenda, da justiça e das obras publicas acceitam a responsabilidade que lhes cabe pelos actos que praticaram; outro tanto não quer fazer o sr. José Luciano. Diga ao menos que fazia toda a guerra que podia á todos os candidatos que não eram do seu partido, e que toma a responsabilidade; mas fazer uma guerra acintosa e em publico desfazer-se em cortezias e satisfações, são papeis baixos, papeis deploraveis proprios só de certos homens.
Sr. presidente, a «situação do sr. José Luciano é desgraçada, pela sua incoherencia, pela falta de principios e pela contradicção entre os seus, actos e palavras. Como opposição censurava as demasias do governo, a corrupção eleitoral, as arbitrariedades com os empregados e as violencias com os eleitores, e como ministro cáe nos mesmos erros, nas mesmas faltas, e n’outras peiores ainda. Esqueceu-se de Ceia é de Belem, e lembrou-se das falsificações de Villa Velha para as defender e aproveitar os falsificadores.
Infelizmente, sr. presidente, eu não podia estar ao mesmo tempo em toda a parte; asseguro a v. exa. e á camara que se podesse estar no Teixoso a eleição havia de correr mais regular, e provavelmente teria obstado ás miserias, excessos e violencias, que ahi se praticaram.
Os eleitores não seriam presos, nem arrastados á urna, é os meus amigos não seriam afugentados pelo terror, nem pelas injurias.
Sr. presidente, estas minhas observações sem nexo têem por. fim destruir todos os argumentos do sr. ministro do reino, e por isso vou respondendo conforme 05 apontamentos que tomei.
Sr. presidente, affirmo que o sr. José Luciano de Castro combateu a eleição do sr. Pinheiro Chagas, porque julgava uma immoralidade abandonar os seus correligionarios, e é agora o mesmo sr. ministro que vem a esta camara fazer a apologia d’aquelle cavalheiro e declarar que sente que aquelle homem de talento, de tanta illustração, não tivesse obtido um logar no parlamento, dizendo que fora resultado da guerra de localidade) quando a eleição para o governo estava perdida tres dias antes, e só a venceu em virtude dos actos que praticou e que eu já narrei á camara! O sr. José Luciano, que tanto accusara os seus antecessores, fez peior ainda, e não tem coragem para o declarar, mas desfaz-se em satisfações ridiculas.
Comquanto a minha interpellação não se refira á eleição de Agueda, sempre - perguntarei ao sr. José Luciano, .se era possivel que na assembléa de Albergaria, havendo perto de 2:000 eleitores, a igreja estivesse fechada ás onze horas? O resto sabe-o o sr. ministro do reino, sabem as pessoas que o presencearam e sei-o eu tambem, mas não.
fallemos mais n’isso, lancemos um véu sobre o passado, porque a este respeito já disse o que havia de dizer.
Voltando, pois, á eleição de Idanha, e para que v. exa. veja do que o sr. ministro dó reino é capaz, vou narrar mais alguns factos.
Era tal o desejo que o sr. ministro tinha de pôr fóra do parlamento um dos homens mais eminentes d’este paia, que tem prestado importantes serviços ao governo, e que está desempenhando lá fóra uma commissão para a qual o governo no seio do seu partido não foi capaz de encontrar quem a desempenhasse, era tão grande o desejo do sr. ministro, repito, que até se lembrou de estabelecer a desordem HO seio da minha familia.
Teve a ousadia de offerecer a candidatura que elle não podia dar, a quem mais podia dispor d’ella.
No offerecimento d’essa candidatura a um dos membros de minha familia, dizia que o queria para presidente da camara, que era forçoso que elle acceitasse; ao outro que tinha por elle grande consideração e amisade! Tanto um como o outro souberam repellir a affronta e dar uma lição de cavalheirismo a quem a não soube comprehender. Aqui tem v. exa. a rasão por que eu affirmei que o sr. José Luciano é capaz de tudo. Factos d’esta ordem dão a medida completa e exacta daquelle caracter.
O sr. José Luciano de Castro disse que publicou a portaria com relação á nomeação dos cabos de policia para evitar os abusos! E foram elles castigados?
Sr. presidente, pois o sr. ministro não tinha governadores civis da sua confiança? Não eram os governadores civis nomeados de entre os homens de mais importancia do seu partido? N’esse caso, e merecendo-lhe confiança, não tinha mais do que dizer aquellas auctoridades que cumprissem a lei eleitoral, que não consentissem que os administradores de concelho exorbitassem, que fizessem punir aquelles que se excedessem: mas não, sr. presidente, o sr. José Luciano não fez nada disso, porque o que elle queria era que se vencessem as eleições, e a portaria era simples e puramente para armar ao effeito e para illudir os incautos.
Sr. presidente, regosijava-se o sr. ministro e dizia ha pouco que eu tinha levado uma derrota monumental no districto de Castello Franco; é possivel.
Não me envergonho, porque a minha consciencia está tranquilla, nem me admirava que assim succedesse em vista dos meios que o governo empregou.
O sr. ministro é tão contradictorio que em seguida diz que eu a venci em Castello Branco e na Idanha por enorme maioria!
É exacto, mas vencemos porque- os eleitores souberam resistir ás prepotencias e actos de corrupção de toda a especie que se empregaram para sermos derrotados.
Sr. presidente, notei uma phrase do sr. ministro do reino, que estimei muito que s. exa. pronunciasse, pois dá logar a que se esclareça um ponto que convem muito pôr a claro.
Disse o sr. José Luciano de Castro que nós desertámos das fileiras ministeriaes.
Deseriámos?! Quando e em que tempo pertencemos nós ao partido que se acha representado por s. exa. e pelos seus collegas no ministerio?
Nunca pertencemos a esse partido. Luctámos junto com elle para derrubar o gabinete transacto, mas não fizemos nenhuma fusão. Os nossos esforços foram desinteressados no empenho de ajudar o partido progressista a subir ao poder, e depois nada quizemos do governo que o representa.
Unicamente lhe pedimos que soubesse governar em nome da lei e da moralidade, e nada mais. E se assim não é, diga o governo quaes as exigencias que lhe fizemos, e ao mesmo tempo quaes os motivos por que nos separámos? N’esta parte dirijo-me exclusivamente ao sr. presidente do conselho de ministros, porque foi com s. exa. que sempre