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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 113

par algumas outras palavras que devesse tambem retirar. Eu declaro que, nas infelizes condições acusticas em que esta camara está, não as ouvi; mas tenho a convicção de que o digno par não duvidará retirar quaesquer expressões que tivesse proferido no calor do debate, e sejam susceptiveis de censura, porque effectivamente a camara honra-se, honrando os seus membros e os representantes do poder executivo, e o digno par não quererá faltar ás considerações que lhes são devidas.

O sr. Vaz Preto: — Eu costumo respeitar ã todos como devo, respeitando-me a mim proprio. Tenho tratado o sr. ministro do reino só como elle merece.

O sr. Presidente: — Peço perdão. Essa phrase mesmo, pela interpretação desfavoravel que se lhe póde dar, não devo eu consentil-a.

É necessario ter em attenção o respeito que se deve a um ministro da corôa.

O sr. Vaz Preto: — Disse e repito: v. exa. póde substituir qualquer das minhas palavras que entender menos parlamentar, comtanto que não se altere o pensamento. Eu o desejo, mas não prescindo de que a idéa fique. Sei o que digo, sei que o sr. José Luciano é merecedor da minha severidade, e por isso a condescendencia que tenho é unicamente para com v. exa., que muito respeito, para com esta camara, que merece todas as minhas attenções. Se eu não tivesse muito respeito por v. exa. e pela camara, eu faria emmudecer immediatamente o sr. José Luciano, que v. exa. não chamou á ordem quando elle disse que afastava com o pé as arguições que lhe dirigi. Não se diz isto aqui. E lá fóra que se tomam as satisfações e os desforços. O que o sr. ministro do reino acabou de proferir foi uma censura completa a v. exa., que sabe dirigir perfeitamente os trabalhos d’esta camara, sempre com imparcialidade, e que me tem já feito algumas advertencias, que eu recebo com toda a docilidade, visto partirem de v. exa., que é juiz imparcial, e que tem verdadeira auctoridade n’esta assembléa. Protesto pois contra similhante censura.

Eu tinha de apreciar severamente o modo pouco proprio por que o sr. ministro aqui se apresentou e se me dirigiu; por consequencia, respondi nos termos que a minha dignidade e a minha posição exigiam. Fil-o., não me arrependo, e não retiro nada do que lhe diz respeito.

O sr. Presidente: — Queira a camara dispensar-me alguns momentos de attenção.

Pareceu-me que o sr. Vaz Preto me auctorisou a substituir quaesquer expressões que podessem ser interpretadas de uma maneira desfavoravel ao sr. ministro do reino. Peço, pois, a s. exa. e á camara que acceitem esta explicação do digno par, que equivale á retirada d’essas expressões.

Devo tambem declarar que no discurso proferido pelo sr. ministro do reino não ouvi phrase alguma de menos consideração para com o sr. Vaz Preto. Eu peço a todos os dignos pares que têem tomado parte n’este incidente, ou venham a entrar nelle, o favor de me ajudarem a resolvel-o de um modo conveniente para todos e digno da camara. O sr. ministro do reino pediu a palavra, e eu não tenho duvida alguma em lha conceder. O que lhe peço unicamente é que use d’ella com a prudencia que costuma.

O sr. Ministro do Reino: — De bom grado accedo ao pedido de v. exa., e aos seus bons desejos de resolver do melhor modo o incidente que se levantou. Assevero a v. exa. e á camara que não foi meu intuito offender com as minhas palavras o digno par interpellante ou qualquer outro membro d’esta casa. Não podia de forma alguma ser esse o meu pensamento. Apenas quiz repellir em nome do governo palavras que me pareceram offensivas da sua dignidade; desde porém que v. exa. tomou a attitude da qual resultou o digno par interpellante acceder aos desejos de v. exa., auctorisando-o a substituir as palavras que proferiu e podessem ser menos parlamentares, pela minha parte entrego tambem a v. exa. as minhas phrases, para que sejam retiradas as palavras, por mim proferidas, que v. exa. entender que o devam ser.

O sr. Presidente: — Agradeço ao sr. ministro do reino a sua acquiescencia ao meu convite, e peço ao digno par, o sr. Vaz Preto, que tenha igual condescendencia para commigo. O digno par sabe que tenho tido sempre muita consideração para com s. exa., e estou certo que estará prompto a retirar qualquer palavra que podesse ser considerada como menos propria da dignidade da camara e dos ministros da coroa.

O sr. Vaz Preto: — Sr. presidente, tenho a maior consideração pela pessoa de v. exa. e pelo logar que occupa. Recebo sempre de boamente os avisos e admoestações que v. exa. me faz, porque vem de um caracter altamente respeitavel e serio, que sabe dirigir as discussões d’esta camara com a maior imparcialidade. Permitta-me porém v. exa. que declare que eu não costumo nunca retirar as considerações que aqui faço. Se v. exa., pois, encontra alguma palavra proferida por mim que seja menos parlamentar, e se entende que ella feriu os ouvidos da camara, póde v. exa. substituil-a por outra que lhe agrade, uma vez que conserve o meu pensamento.

O sr. Presidente: — Já fiz notar á camara, por mais de uma vez que na mesa não se percebe muitas vezes, o que se diz na sala, e muito mais quando ha sussurro na assembléa, como agora. Creio que o digno par, o sr. Vaz Preto, declarou que me auctorisava, se por acaso pronunciou alguma palavra menos bem soante, a substituil-a por outra, comtanto que exprimisse o pensamento de s. exa. Isto equivale a retirar essas expressões. N’estes termos só tenho a pedir á camara que se contente com a explicação que acaba de dar o digno par, e que não continuemos n’este incidente.

O sr. Visconde de Chancelleiros (sobre a ordem): — Começou a apresentar considerações, ácerca da inconveniencia de fazer uso de expressões menos parlamentares durante os debates.

O sr. Presidente: — O incidente está acabado e peço ao digno par que o não faça reviver. Estão retiradas todas as expressões que se julgaram menos proprias d’esta camara, e por consequencia permitta o digno par que passemos a outro assumpto.

Passo, pois, a dar a ordem do dia para sexta feira, 27 do corrente, e será a discussão do parecer n.° 23.

O sr. Ministro da Marinha (Marquez de Sabugosa): — Não quero, sr. presidente, tornar mais grave este incidente, como v. exa. nos aconselhou, e muito bem; mas permitta-me v. exa. que eu, como membro d’esta camara e do governo, declare que não fiquei completamente satisfeito, não pelo modo como v. exa. dirigiu a discussão, o que sempre faz com toda a cordura e prudencia, mas pela maneira por que a questão ficou concluida.

Como membro do poder executivo, acceito todas as responsabilidades dos meus collegas; todas as que se podem acceitar aqui, porque as individuaes são acceites em outra parte.

Sr. presidente, ha palavras que não desejo ver repetidas, porque entendo que não se devem proferir aqui. Têem ellas uma significação sua, e muito propria; e quando se retiram e não se retira o pensamento, não se póde ficar satisfeito.

Um membro d’esta camara declarou que retirava as palavras que podessem. ser consideradas offensivas, mas que não retirava o pensamento das asserções que affirmara. Por isso, sr. presidente, peço a v. exa. que nos declare se foram retiradas, não só as palavras, mas a intenção offensiva que ellas significavam. Se assim for, devemos ficar satisfeitos, do contrario não é possivel. Retirar as palavras e deixar a intenção d’ellas, é cousa que por forma alguma se póde admittir.

(S. exa. não reviu este discurso.)