DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 141
missão do evangelho era fielmente implantada onde quer que aportavam as quilhas das naus de Portugal: a virtude e o zêlo d’aquelles dedicados obreiros faziam acreditar a sua palavra santa, e imponham não menos respeito do que as lanças e os canhões dos Almeidas e Albuquerques. Citarei só um facto, o de sr. João do Loreto na côrte do rei de Cambaia, que solicitando faculdade para ir a Goa colher meios de resgate de quarenta companheiros seus que estavam captivos, não teve outro penhor que deixar senão a humildo corda do habito franciscano; e sendo elle mal succedido no seu empenho voltou ao captiveiro, e reassumiu a sua corda: o sultão soube galardoar este acto de fidelidade; deu quites todos os portuguezes captivos.
O empenho pelos nossas missões do ultramar, sr. presidente, é um dos mais importantes: a illustre commissão da resposta ao discurso da corôa certamente não ò quereria olvidar, e por isso tenho a honra de enviar para a mesa uma proposta de additamento. Mas essa importancia de assumpto tem já merecido muito dedicada e proficiente attenção do sr. ministro da marinha. Effectivamente o sr. visconde de S. Januario, durante o seu ainda recente ingresso n’este ramo da administração, dotou já as missões com um novo collegio de educação de missionarios, porque o que existe em Sernache do Bom Jardim não é bastante para prover as missões, nem para receber o crescido numero de pretendentes aos logares de alumnos: nomeou uma commissão para estudar e propor o melhoramento e acrescentamento das missões: fez enviar com o revmo. bispo de Angola missionarios saídos do collegio de Sernache, e d’estes fez organisar uma missão permanente no reino do Congo, o proveu-a de garantias e de meios ao seu fim conducentes: está com acertadas medidas e constante actividade tratando todos os negocios das missões do real padroado.
Este desempenho de tanta dedicação pela parte do exmo. ministro devo classifical-o de sincero e de inexcedivel; o desempenho do meu compromisso deve corresponder-lhe.
Conhece bem o illustre ministro, quanto o decoro portuguez e os interesses do estado dependem no ultramar do bom e desenvolvido estabelecimento e serviço das missões.
Leio mais na resposta ao discurso da corôa, que pelo que toca aos melhoramentos coloniaes a camara registará com jubilo a promessa de que em virtude d’elles não será aggravado com sacrificios novos o thesouro da metropole.
Não sei eu, sr. presidente, talvez profundar todo o alcance d’esta recommendação; não entrarei por isso no seu exame, e mesmo a hora está quasi a dar: que um grande sacrificio para o paiz é o de estar vendo desaproveitadas as nossas vastas colonias, que são de si ricas e nos podem enriquecer, e que por descuradas jazem pobres e nos empobrecem, isso conheço eu, e sabem todos.
Portugal é um paiz de limitadissima extensão territorial; é muito grande, porém, no seu nome e nos seus feitos, e cumpre-lhe mais que tudo conservou esse decoro de seu nome e de suas memorias. Trazer como abandonadas as suas colonias, que mãos estranhas teriam sabido aproveitar com vantagem; deixar perder com desdouro a mais apreciavel e honrosa joia da corôa, o seu real padroado, não dá jubilo, faz tristeza!
Commemora a resposta que estou lendo a celebração do tricentenario de Camões: concluirei eu com a elocução do grande epico e grande patriota:
Vós, portuguezes poucos, quanto fortes... Que vós por muito poucos que sejaes Muito façais na santa christandade: Que tanto, é Christo, exaltas a humildade!
Tenho dito.
Concluo, mandando para a mesa os meus additamentos.
Leram-se na mesa os seguintes additamentos: Proponho que na resposta ao discurso da corôa, no paragrapho que se refere ás provincias ultramarinas, em seguida ás palavras = regiões longinquas = se acrescente: «para a propagação da fé catholica em toda a area do padroado da corôa». Seguindo depois o paragrapho integralmente até ao fim.
E mais proponho que a mesma resposta conclua pela fórma seguinte: — «A camara, confiando na protecção divina, faz votos ardentes pela prosperidade publica, e pela de Vossa Magestade, de Sua Magestade a Rainha, e de toda a real familia.»
Sala das sessões dos dignos pares do reino, em 9 de fevereiro de 1881. — Bispo de Bragança e Miranda.
O sr. Ministro da Fazenda (Barros Gomes): — A camara resolveu que fossem publicados na folha official os documentos que tinham sido pedidos pelo digno par, sr. Vaz Preto, e que se referem á nomeação de um empregado subalterno do meu ministerio. Juntamente com esses documentos peço que sejam publicados os que mando agora para a mesa, e todos os mais que possam ser enviados e digam respeito á mesma nomeação.
O sr. Presidente: — Sobre o pedido que acaba de fazer o sr. ministro da fazenda não póde haver duvida alguma por parto da camara.
O sr. Ministro do Reino (Luciano de Castro): — Mando para a mesa uma proposta para que o digno par sr. Henrique de Macedo possa accumular as funcções legislativas com as que exerce no meu ministerio.
Leu-se na mesa e foi approvada.
O sr. Presidenta: — A ordem do dia para sexta feira, 11, é, na primeira, parte, a discussão do parecer n.° 160 sobre a carta regia que eleva á dignidade de par do reino o sr. Fernandes Vaz, e na segunda parte a continuação da discussão do projecto de resposta ao discurso da corôa.
Está levantada a sessão.
Eram cinco horas da tarde.
Dignos pares presentes na sessão de 9 de fevereiro de 1881
Exmos. srs.: Duque d’Avila e de Bolama; João Baptista da Silva Ferrão de Carvalho Mártens; Duque de Loulé; Marquezes, de Ficalho, de Monfalim, de Penafiel, de Sabugosa, de Vianna, de Vallada; Arcebispo de Evora; Condes, de Avilez, de Bomfim, de Cabral, de Castro, de Fonte Nova, de Gouveia, de Linhares, de Paraty, de Podentes, da Ribeira Grande, de Rio Maior, de Samodães, da Torre, de Valbom;- Bispos, de Bragança de Lamego, de Vizeu, eleito do Algarve; Viscondes, de Almeidinha, de Alves de Sá, de Bivar, de Borges de Castro, da Borralha, de Chancelleiros, de Gandarinha, de S. Januario, das Laranjeiras, de Portocarrero, da Praia, da Praia Grande, de Seabra, do Seisal, de Soares Franco, de Villa Maior; Barão de Ancede; Mendes Pinheiro, Ornellas, Pereira de Miranda, Mello e Carvalho, Quaresma, Sousa Pinto, Machado, Barros e Sá, D. Antonio de Mello, Secco, Couto Monteiro, Fontes Pereira de Mello, Magalhães Aguiar, Rodrigues Sampaio, Pequito de Seixas, Serpa Pimentel, Barjona de Freitas, Cau da Costa, Xavier da Silva, Palmeirim, Carlos Bento, Eugenio de Almeida, Sequeira Pinto, Montufar Barreiros, Fortunato Barreiros, Cunha," Margiochi, Henrique de Macedo, Andrade Corvo, Ferreira Lapa, Mendonça Côrtes, Pestana Martel, Braamcamp, Baptista de Andrade, Pinto Bastos, Castro, Reis e Vasconcellos, Mancos de Faria Raposo do Amaral, Mello Gouveia, Ponte e Horta, Costa Lobo, Costa Cardoso, Mexia Salema, Mattoso, Luiz de Campos, Daun e Lorena, Seixas, Pires de Lima, Vaz Preto Pereira Dias, Franzini,. Canto e Castro, Miguel Osorio Placido de Abreu, Calheiros, Thomás de Carvalho, Ferreira Novaes, Ferrer, Seiça e Almeida.