O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

N.º 17

SESSÃO DE 20 DE AGOSTO DE 1897

Presidencia do exmo. sr. José Maria Rodrigues de Carvalho

Julio Carlos de Abreu e Sousa

Secretarios - os dignos pares

Julio Carlos de Abreu e Sousa
Luiz Augusto Rebello da Silva

SUMMARIO

Leitura e approvação da acta. - O sr. presidente propõe um voto de congratulação com o paiz pelo valioso donativo do cruzador Adamastor e de agradecimento aos membros da commissão executiva da subscripção nacional e aos subscriptores. - Tambem propõe um voto de sentimento pela morte de Sousa Martins. - O digno par Pereira Dias associa-se a este voto de sentimento e faz o elogio do illustre extincto. - O digno par visconde de Chancelleiros falla no mesmo sentido, e propõe que se lance na acta um voto de apreço pelos serviços que a commissão executiva da subscripção nacional prestou ao paiz. - O sr. ministro dos negocios estrangeiros declara que o governo se associa ás propostas do sr. presidente e do digno par visconde de Chancelleiros. - O digno par Ernesto Rodolpho Hintze Ribeiro commemora o fallecimento de Sousa Martins, lembrando a maneira brilhante por que elle representou Portugal no congresso de Veneza. - Todas as propostas são approvadas. - É lido o decreto que proroga as côrtes geraes até ao dia 31 do corrente. - Menciona-se o expediente. - O digno par Thomaz Ribeiro refere-se ás propostas votadas pela camara e á questão do emprestimo de 1832; allude ao requerimento, que vae ser apresentado, em que o conde da Vidigueira pede para tomar assento na camara por direito hereditario; manda para a mesa uma nota de interpellação e um requerimento. - O sr. ministro da fazenda responde ás considerações do digno par Thomaz Ribeiro relativamente ao emprestimo de 1832 -Entre o digno par visconde de Chancelleiros e o sr. ministro da fazenda trocam-se explicações sobre a representação em que a companhia das aguas pede que sejam definitivamente reguladas as relações entre o estado e a mesma companhia. - O digno par Ernesto Rodolpho Hintze Ribeiro insta pela remessa de documentos e dirige perguntas ao governo a respeito de questões coloniaes. - Responde-lhe o sr. ministro dos negocios estrangeiros. - Os dignos pares Franzini e Larcher mandam para a mesa pareceres da commissão de guerra. - O digno par Pereira Dias apresenta o requerimento do conde da Vidigueira pedindo para tomar assento na camara.

Ordem do dia - Projecto de lei que tem por fim fixar as receitas e despezas do estado na metropole para o exercicio de 1897-1898. - O digno par conde de Macedo apresenta uma proposta regulando a discussão e votação do projecto. - O digno par visconde de Chancelleiros offerece um additamento a esta proposta, e envia para a mesa uma moção convidando o governo a rever e rectificar o orçamento. -Depois de breves considerações dos dignos pares conde de Macedo, Ernesto Rodolpho Hintze Ribeiro e D. Luiz da Camara Leme, é approvada a proposta e o additamento. - A moção fica para ser votada depois do digno par visconde de Chancelleiros ter usado da palavra sobre a ordem do dia. - O digno par Moraes Carvalho faz largas considerações sobre o projecto em discussão e fica com a palavra reservada. - O sr. presidente nomeia a deputação que ha de levai; á sancção real alguns projectos de lei votados pelas côrtes. - É levantada a sessão.

Pelas duas horas e quarenta minutos da tarde, verificando-se a presença de 29 dignos pares, foi aberta a sessão.

Estava presente o sr. ministro dos negocios estrangeiros; entrou, pouco depois, o sr. ministro da fazenda.

Foi lida e approvada, sem discussão, a acta da sessão anterior.

O sr. Presidente: - Como a camara sabe, realisou-se ha dias, com a devida solemnidade, a entrega official ao governo do cruzador Adamastor, construido á custa de uma subscripção nacional.

A acquisição d'este navio de guerra, que pelas suas excellentes condições de construcção póde prestar grandes serviços ao paiz, deve-se aos esforços dedicados e intelligentes da benemerita commissão executiva da subscripção nacional, e á generosidade dos subscriptores.

Creio, pois, interpretar os sentimentos da assembléa propondo que na acta d'esta sessão se declare que a camara dos dignos pares se congratula com o paiz por tão valioso donativo, e reconhece que bem merecem da patria tanto os membros d'aquella commissão, como todos os que a auxiliaram no desempenho da sua missão patriotica. (Apoiados geraes.)

Em vista da manifestação da camara considero a minha proposta approvada por acclamação. (Apoiados geraes.)

Tenho ainda outra proposta que faço sob a impressão da mais profunda magua. Refiro-me ao fallecimento do dr. Sousa Martins, que não era membro d'esta camara, mas muito digno de ter occupado aqui um logar, pelas suas brilhantes qualidades de intelligencia e de caracter, que tanto illustraram o seu nome dentro e fóra do paiz.

O desapparecimento d'este homem de sciencia, tão distincto e eminente, póde considerar-se uma perda nacional, e por isso creio que a camara quererá honrar-lhe a memoria manifestando a expressão do seu fundo pezar, por tão doloroso successo, dando-se conhecimento d'esta sua resolução á familia do illustre extincto. (Apoiados geraes.)

O sr. Pereira Dias: - Sr. presidente, não é só na qualidade de membro d'esta camara que eu pedi a palavra para declarar que me associo á proposta de v. exa. relativa ao fallecimento de Sousa Martins.

A camara sabe que eu sou professor jubilado da faculdade de medicina, e entendi que n'este momento, em que está de luto a escola medica de Lisboa pela morte de um seu glorioso filho e mestre, devia levantar a minha voz para d'aqui lhe dirigir os meus sentidos pezames.

Sousa Martins, dotado de um talento brilhante, e de uma palavra facil, lucida e eloquentissimo, encantava sempre todos os que o ouviam e o escutavam, embora fossem estranhos ao assumpto que discutia. Era tambem um bom e sympathico caracter. (Apoiados.)

As faculdades fulgurantes do seu espirito foram sempre um instrumento elevado e fiel do seu nobilissimo coração, inclinado ao bem e ao engrandecimento do seu paiz. Sousa Martins foi um modesto. Nunca quiz ser politico. Que bom senso o d'este homem que conhecia tão bem a sciencia, que professava como a politica dos ... politicos da nossa terra!

Não querendo pompas funebres, que são o ultimo fumo da vaidade humana, determinou em seu testamento que desejava jazer ao lado do corpo de sua querida mãe.

Que extremoso filho! E que extremosissima irmã, sr. presidente, que, agradecida, não acceitou o que os poderes publicos lhe offereceram e dariam em homenagem á memoria do illustre fallecido!

Abençoada familia, onde as virtudes dos mortos se transmittem aos vivos!

Sr. presidente, a biographia de Sousa Martins pede outra voz mais auctorisada e outro logar mais proprio, e por isso nada mais direi.