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200 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

depois da qual, se os meus ouvidos não me atraiçoaram, pareceu-me ter dito V. Exa. que, de um modo ou de outro ...

O Sr. Alpoim: - Engana-se V. Exa. Ao Sr. Pereira de Miranda nada respondi. Calei-me perante o seu appello.

O Orador: - A verdade é que V. Exa. accrescentou que...

O Sr. Alpoim: - V. Exa. não devia tocar no assumpto; V. Exa. tem desejo de fazer uma questão. Eu disse que não desejava entrar em conflicto com o Sr. Presidente do Conselho, que declarou que tinha apresentado o contrato depois de assignado, mas não querendo eu contestar, declarei que esse facto, ainda que se tivesse dado, de que me não lembrava, era uma questão mesquinha, que não valia a pena discutir, tanto mais que confirmava ter sido o contrato apresentado quando já não podia soffrer modificações.

O Sr. Presidente: - Peço ao Digno Par, Sr. Alpoim, que se mantenha na ordem. Eu vejo-me na obrigação de o chamar á ordem.

O Sr. Alpoim: - Parece que o Sr. Pereira Dias veio para me incommodar. Mas como S. Exa. está satisfeito com as suas insinuações!

O Sr. Presidente (tocando a campainha): - Eu não desejo chamar pela segunda vez á ordem o Digno Par Sr. Alpoim.

O Orador: - Tenho o meu direito, como qualquer membro d'esta Camara, de apreciar os factos que se dão no Parlamento, e fazer sobre elles as considerações que entender, direito que não abdico.

Estava referindo as minhas impressões, que não sei se são verdadeiras; mas, se o não forem, isso pouco importa para a minha argumentação.

Não tenho duvida em dizer que tudo o que referi era um erro devido aos meus ouvidos.

S. Exa. referia-se ainda agora á occasião em que falara o Sr. Presidente do Conselho; mas eu reportava-me a palavras proferidas depois.

O Sr. José de Alpoim: - Eu torno a aconselhar a V. Exa. que não mexa na ferida, que ainda póde deitar sangue; e depois não sei quem ha de soffrer as consequencias.

O Orador: - Eu não mexo em ferida alguma, mas se mexesse, como a minha profissão é de medico, seria com a intenção de a curar, e nada mais. (Risos).

Sr. Presidente: posso errar, mas creia V. Exa. que a minha intenção é esta.

O Sr. José de Alpoim: - Eu percebo-a.

O Orador: - O Digno Par pode apreciar o que eu digo conforme entender, mas o que eu assevero a V. Exa. é que o meu desejo é que, no partido em que sempre tenho militado, tudo corra harmonicamente.

Continuo a affirmar que esta dissidencia no partido progressista é perigosa para os interesses do paiz, e profundamente lamentavel. (Apoiados).

Desejo até que ainda possa apparecer uma occorrencia, ou uma forma de conciliação, porque em politica não ha nada impossivel. (Risos).

Vou referir um facto occorrido quando se fez a fusão dos dois partidos - historico e regenerador.

Houve receio de que essa fusão não se pudesse realizar, porque tinha havido um conflicto entre o chefe do partido regenerador, Joaquim Antonio de Aguiar, e o chefe do partido historico, Duque de Loulé.

Sabe V. Exa. qual foi esse conflicto? Quaes foram os termos em que elle se manifestou? Foram, pouco mais ou menos, os seguintes:

Aguiar, o velho liberal, que fôra Ministro de D. Pedro IV, n'um impulso de rhetorica parlamentar, referindo-se á honra do nobre Duque de Loulé, disse claramente que era cousa que este nunca conhecera.

A Camara levantou-se, o Presidente fez retirar essas palavras, e o Duque de Loulé, impassivel, não se levantou nem respondeu.

Este incidente lamentavel, que ainda era recente, podia influir, e muito, na fusão dos dois partidos. Quando na minha presença se perguntou ao nobre Duque de Loulé, se seria ou não conveniente a fusão, elle respondeu:

«Se se entender conveniente a fusão, faça-se, porque isso que me disse o Sr. Aguiar não terá, para o effeito, importancia absolutamente nenhuma».

Fez se, pois, a fusão, e foram esses dois homens os chefes d'esse agrupamento, promptificando-se Joaquim Antonio de Aguiar a dar todas as explicações ao Duque de Loulé; mas este é que disse que não eram necessarias, pois foram palavras proferidas no calor do debate, ás quaes, por consequencia, não dera senão a significação que lhes devia dar: o resultado da paixão do momento, e nada mais.

Eu conto o facto para dizer: oxalá que esta dissidencia actual possa ainda terminar por qualquer modo decoroso e digno para todos.

Nós temos uma pessima educação politica, não por culpa d'este ou d'aquelle, mas por culpa de todos.

Os partidos, indistinctamente, teem por criterio censurar tudo o que fazem os adversarios, e d'ahi veem amiudadas vezes declarações, que muitos julgam imprudentes, e que eu considero, simplesmente, impenitentes.

Ha muitos annos que caminhamos n'esta orientação, tendo por costume atirar com todas as responsabilidades para cima da critica jornalistica.

Devo dizer que a nossa imprensa transcreve o modelo da nossa critica parlamentar.

D'ahi o poder dizer-se: «tal Parlamento, tal imprensa».

Qual é a arma de que todos nos temos servido, até aqui nas discussões parlamentares?

É a arma da discussão serena, imparcial? Raras vezes nos servimos d'esse meio.

A arma é a aggressão pessoal, são as insinuações acêrca da reputação de todos os homens publicos.

Esta é a verdade.

Eu, que sou justo, queixo-me do Parlamento, e não da imprensa.

Notam-se e censuram-se as incoherencias, e envolvem-se nas incoherencias as suspeições.

Ora eu digo que as suspeições são a arma de que usamos nos processos de critica parlamentar; e que as incoherencias apenas figuram como um simples pretexto para demolir ou aviltar.

Tem-se dito que o Governo, nas negociações do contrato dos tabacos, foi incoherente. Porque? Porque subiu ao poder com a ideia da separação das duas operações e, ao contrario, as conjugou depois.

D'esta incoherencia, a suspeição.

Eu devo dizer á Camara que, para mim, a incoherencia está na lettra, e não no espirito.

Muitas vezes ouvi dizer a Fontes, que a letra matava, e que o espirito vivificava.

Vejamos qual o espirito das declarações publicas, ou particulares, do Sr. Presidente do Conselho, com o fim de separar a conversão do exclusivo.

Qual o seu proposito e desejo evidente?

Conseguir maiores vantagens para o paiz.

É isto um crime?

Se houve incoherencia nas palavras, não houve na intenção, mas as incoherencias mais graves são outras a que se teem referido alguns oradores parlamentares: essas sim, porque esta campanha contra os tabacos não nasceu com este Ministerio, já tinha nascido com o outro.