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160 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Providencia Divina que pudéssemos voltar a esta casa.

Vimos agradecer a muitos membros d'ella, e aos do Governo actual e anterior, o interesse que se dignaram tomar por nós; testemunhar a todos o nosso respeito e gratidão, e significar por este modo o apreço em que tomamos a honra de pertencer á mais culminante assembleia legislativa e politica do nosso paiz.

E porque eu sou Bispo Catholico, e porque tenho a honra de estar falando a uma assembleia, não só de politicos e legisladores, mas tambem de catholicos pelos seus sentimentos religiosos e pelo juramento por todos dado antes de para aqui entrarmos, permittam-nos S. Exas. que rendamos aqui tambem muitas graças a Deus por nos ter prolongado a vida, graças que tambem não podemos deixar de dar a quem, depois de Deus, a devemos - os insignes medicos que nos trataram, Dr. Daniel de Mattos e Dr. João Jacinto da Silva Correia.

Deviamos ficar por aqui, Sr. Presidente, porque nem as nossas forças, principalmente as da intelligencia, são para mais, nem tambem deveriamos tomar tempo á Camara.

Mas, Sr. Presidente, antes da nossa doença andavamos muito empenhados na revisão, pelo menos, das congruas parochiaes, e não podemos deixar de agradecer ao Sr. Conselheiro José Luciano, Presidente do Conselho de Ministros, e ao Sr. Montenegro, Ministro da Justiça, de então, o empenho que S. Exas. mostraram no assumpto, e que certamente teriam trazido á Camara as propostas de lei para isso necessarias se se tivessem conservado no poder e as Camaras não tivessem sido adiadas, visto os muitos trabalhos que já havia feito para este fim, como sabemos.

Confiamos, porem, que o actual Governo, que subiu aos Conselhos da Corôa com tão bons auspicios, e que tão bons desejos tem mostrado de querer governar com justiça em tudo e para todos, não será menos solicito e menos interessado em remediar esta grande necessidade publica que, permitta-nos dizê-lo. é já vergonha para todos os Governos d'este paiz.

Pois se os nossos estadistas diziam depois de 1834 que não era decoroso nem para a Igreja nem para o Estado conservar os parochos no abandono em que se achavam; e se Antonio Lopes Vieira de Castro dizia tambem, em documentos do seu proprio punho, que os não queria reduzidos á classe de mendigos, como nós já aqui dissemos, o que não diriam hoje se vissem que depois de setenta annos elles estavam vivendo ainda das congruas, que interinamente lhe foram arbitrados em 1841, nas peores condições para elles, e não obstante ter subido muito a carestia de tudo de então para cá.

Agora é que diriam que os parochos estavam reduzidos á classe de mendigos, e soffrendo já muitas humilhações e até a miseria e a fome, cem grandissimo prejuizo da sua dignidade e independencia, do bom serviço do seu ministerio, e do bem religioso t moral dos povos, em que não pode deixar de reflectir-se estes males.

Descoroçoados já de tanto soffrer, e de tanto representar, sem nunca serem attendidos, principiaram elles já a reunirem-se em commissões e assembleias, em Braga e em Coimbra, para tratarem de si.

Louvamos muito esta sua resolução e estimamos que n'ellas perserverem.

Quer-nos parecer, porem, que nem sempre seguem em tudo o melhor caminho para serem attendidos mais de pressa.

Os tempos não correm de molde para a Igreja e os seus ministros poderem obter grandes fortunas dos governos temporaes ; e, n'estas condições, o tempo que teem gasto nos seus comicios a delinear leis do culto e do clero e a tratar de outras reformas ecclesiasticas, pode ser muito bom para mostrar zelo, eloquencia e saber, que muito louvamos, mas não passa de musica celestial para deleite de quem a, emprega e de quem a ouve, porque a lei do culto e do clero exige como elemento necessario e imprescindivel a do arredondamento parochial, e differentes Governos, depois de 1845, teem já tentado fazê-lo por cinco vezes, sem nada terem conseguido, e nem o conseguirão nunca, porque não ha hoje Governo que tenha força para bolir no arredondamento parochial de um só jacto, e ao mesmo tempo, em todo o paiz.

No arredondamento das dioceses, que ainda assim encontrou não poucas dificuldades, venceram-se bem, porque acima do Governo que propunha, estava o Papa que mandava, e a quem todos obedeciam; mas não acontece o mesmo no arredondamento das parochias, por mil motivos que todos sabem, e que nós nos abstemos de aqui expor para não cansar tanto a Camara.

É por isso que, embora muito desejemos a lei do culto e do clero, nos limitamos a pedir por agora, e para já, a revisão do orçamento das congruas feito em 1841, e que não poda ter hoje razão nenhuma de ser.

De outro modo, pedem morrer todos os parochos actuaes, e todos os seus successores, sem nada conseguirem.

Alem d'isso, como nós já aqui dissemos, os clerigos portuguezes estão hoje muito divididos em partidos politicos; uns são progressistas, outros regeneradores, outros franquistas, outros nacionalistas, outros absolutistas, outros republicares, outros dissidentes e não sabemos ainda em mais quê.

E emquanto assim estiverem divididas, e não tiverem a força necessaria para se desligarem dos partidos a que pertençam e para trocarem a politica profana pela politica ecclesiastica e do bem da Egreja, não teem forças para conseguirem cousa alguma, como nós tambem já aqui dissemos, e era d'este ponto, muito necessario e indispensavel, que tambem deviam occupar-se nos comicios e assembleias.

Em um livro que escrevemos em 1886, dissemos que os clerigos deviam unir-se e formar todos um partido ou nucleo junto de todos os Governos, quaesquer que fossem os partidos a que pertencessem, para os ajudarem a governar bem, ou para impedirem que governassem mal, e sobretudo para estes terem n'elles um ponto de apoio para resistirem ás exigencias dos avançados, quando fossem contrarias ao bem da Igreja, e esta politica tem-me mostrado a experiencia, de então para cá, que é a que mais convem ao clero.

Mas não nos occupamos agora d'este assumpto, nem queremos com elle cansar tanto a Camara.

O congresso ou assembleia de Coimbra pediu na representação que enviou ao Governo que, se se demorasse muito a lei do culto e do clero, se mandasse proceder a revisão das congruas parochiaes para já, e o mesmo pedido nos encarregou de fazermos tambem pela nossa parte.

Sr. Presidente do Conselho de Ministros : com o muito talento que Deus lhe deu, e com o seu grande tino e tacto governativo conhece S. Exa. muito bem que é necessario, para ter bom serviço, pagá-lo bem: e se S. Exa. muito louvavelmente melhorou já os soldos dos officiaes do exercito, e se vae melhorar tambem os ordenados dos empregados pablicos, não podemos crer que S. Exa. deixe os parochos na miseria em que estão.

Se assim fosse, o seu governo deixaria de ser um governo de justiça para ser o contrario que dizem que elle é : para ser um Governo de facciosismo, de injustiças e desprezes para a religião e para os ministros da Igreja.

No Sr. Ministro da Justiça tem S. Exa. um excellente cooperador porque, religioso como é, por indole, e por laços de familia, e alem d'isso muito amigo dos padres do seu Minho e do seu Porto deve ser muito grato a S. Exa. attender ás suas necessidades, e fazer-lhes- bem.

Tambem dos grandes estadistas portuguezes, o Sr. José Luciano de Castro e o Sr. Hintze Ribeiro, honra e gloria d'esta Camara, pela sua eloquencia, não pode S. Exa. esperar senão muito apoio.