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executava s. ex.ª ali as ordens do governo? Não pedia e não recebia instrucções d'elle? Que representava ali então s. ex.ª? Fazia politica por sua conta e risco ou cumpria as ordens que lhe davam? Provavelmente era s. ex.ª que dava ordens.

Diz s. ex.ª tambem que = fez sacrificio enorme em aceitar aquelle cargo, e que está sempre prompto a faze-los para prestar serviços ao seu paiz =; por esta maneira de fallar eu julguei que s. ex.ª quando prestava serviços ao seu paiz era gratuitamente, mas não é; é generosamente remunerado, mas apesar d'isso o sr. conde d'Avila é tão modesto que ainda julga sacrificio. O nobre presidente do conselho é o homem dos sacrificios, sacrificios por tudo. Que grande, que enorme não foi o sacrificio, e que serviço tão relevante não recebeu o paiz quando s. ex.ª foi agraciado com a gran-cruz da Torre e Espada. Este immenso sacrificio fe-lo naturalmente para tirar os escrupulos e deferencias do governo que não queria talvez que o seu representante em Madrid deixasse de ter aquella distincção, visto haver na legação em Madrid um addido com um grau d'aquella ordem superior ao que então tinha s. ex.ª; fez s. ex.ª muito bem em condescender. Embora o sacrificio fosse grande, a generosidade de s. ex.ª para com o ministerio d'aquelle tempo é louvavel, pois a fineza quem a recebia era o ministro que dava e não aquelle que aceitava a graça!

Disse tambem o sr. presidente do conselho que = o sr. visconde de Seabra não tinha de que se demittir porque não vencia ordenado como reitor da universidade =. Se o sr. ministro das obras publicas se não tivesse demittido dos seus cargos, vencia porventura agora os ordenados por esses cargos? Parece-me que não. Por consequencia o que eu quiz fazer bem patente, e note a camara, foi que o sr. ministro das obras publicas deu um exemplo de moralidade e uma lição severa aos seus collegas, ensinando-lhes o caminho desassombrado a seguir, e a sacrificar esses interesses pessoaes e mesquinhos, cuja conservação na actualidade ataca a dignidade e respeitabilidade d'aquelles que os guardam.

O sr. ministra das obras publicas tomou conta da pasta que lhe foi confiada demittindo-se de todos os empregos que tinha. S. ex.ª não conservou emprego ou commissão alguma, de fórma que, largando o logar de ministro, fica completamente destituido do seu ordenado e interesses; mas a sua consciencia fica pura o elevada; não succede porém outro tanto com os seus collegas, que conservam os logares que podem, o commissões que nunca reunem, e que na verdade não sei para que sirvam. O ministro das reformas e das economias porque não começa por si, e porque não se demitte, e não dissolve commissões que não se reunem, e que apenas servem para s. ex.ª estar em Lisboa?

O sr. presidente do conselho disse ainda que eu tinha vindo aqui trazer inexactidões que eram da minha lavra. Não sei que inexactidões fossem essas. Eu(disse que o sr. conde d'Avila tinha approvado a reforma dos estrangeiros, e que a sua correspondencia assegurava que a reforma de administração civil e lei do consumo tinham sido bem recebidas e elogiadas em Hespanha. Não sei se isto é inexacto, mas se s. ex.ª declara não ser assim, eu peço desde já, e faço um requerimento, para que toda a correspondencia trocada entre o sr. conde d'Avila e o sr. Casal Ribeiro, que não seja reservada, seja remettida com brevidade a esta camara. E então ver-se-ha se é exacto ou não o que eu digo. Se não é exacto, não resulta d'isso desfavor algum a s. ex.ª, assim como não o resulta sendo-o. O favor e o desfavor que recáe sobre o sr. conde d'Avila provém-lhe dos seus actos. O que não julgo muito airoso é haver um homem do idéas oppostas ao governo, exercendo um logar de confiança do mesmo governo, em vez do pedir a sua demissão, e de vir pugnar pelas suas idéas, combater o governo, e sustentar as representações que fazia o paiz n'aquella occasião. E pouco me importava que pedisse a demissão brutal ou delicadamente, o seu dever era pedi-la.

Agora sobre este ponto é que eu chamo a attenção da camara. O sr. presidente do conselho, continuando a responder-me disse: «O que o digno par queria, era que eu resolvesse a questão de fazenda, para me fazer guerra, e depois os meus adversarios aproveitarem-se do que eu tinha feito». Não importa que o paiz soffra, e que os povos sejam esmagados com impostos, o que importa é que os adversarios de s. ex.ª não possam tirar utilidade do que elle fez, e basta que s. ex.ª se utilise do que os ministros anteriores fizeram, tirando vantagens das leis relativas a finanças. De fórma que o sr. conde d'Avila, tendo na sua mão resolver a questão de fazenda, preferiu o mal do seu paiz, a poderem os adversarios utilisar-se dos seus estudos, locubrações e serviços.

Diz ainda o sr. presidente do conselho que eu vim aqui injuriar o ministerio com as minhas verrinas. Se é injuriar o dizer que s. ex.ª foi retrogrado, que foi conservador e collega do sr. conde de Thomar, que depois fez parte de outro ministerio mais avançado, e em seguida parto de todos os ministerios em que pôde entrar; se é injuriar dizer que, sendo s. ex.ª de idéas inteiramente oppostas ao ministerio transacto, não devia ter aceitado áquelle cargo para depois guerrear os ministros decaídos a todo o transe; se -é injuriar o admirar os nobres actos praticados pelo sr. ministro das obras publicas, e fazer o parallelo com os dos seus collegas; se é injuriar apresentar as contradicções do sr. ministro da fazenda, que dizia hoje uma cousa na camara dos senhores deputados e em seguida calcava aos pés tudo que havia dito; se é injuriar fazer narração exacta e singela dos actos da vida publica do sr. ministro da fazenda, de fórma que o paiz avalie a sua procedencia, as suas doutrinas e as suas acções; se é injuriar notar os despachos inconvenientes do sr. ministro da justiça, sem se attender nem ao merito nem ás habilitações nem aos serviços; se é injuriar o mostrar todas estas incoherencias para o paiz saber o que tem a esperar dos actuaes srs. ministros, confesso que injuriei o governo.

Sr. presidente, se injuriar é combater a dictadura, mostrando que o ministerio actual não devia revogar aquellas medidas desde o momento em que pôde apresentar-se perante um parlamento, e que lhe dava grande maioria, confesso ainda que injuriei o governo.

Sr. presidente, se durante esta discussão eu pronunciei alguma palavra ou phrase menos parlamentar, não era minha intenção faze-lo, e por homenagem á camara não tenho duvida em a retirar, porque o meu fim é tão sómente expor, como devo, com toda a lealdade, as minhas opiniões perante a camara e o paiz.

Sr. presidente, concluirei dizendo, que as apprehensões do sr. Visconde de Chancelleiros, sem duvida exageradas, depois das declarações do sr. presidente de ministros, não podem ter rasão de ser, porque nada ha a receiar logo que o sr. conde d'Avila declarou que o paiz está socegado. Nem podia deixar de ser assim! S. ex.ª, lido como é na historia da antiguidade, foi ahi buscar lição para se dirigir nas difficeis circumstancias em que nos achámos. Similhante a Pyrrho, que ao ver as legiões romanas assolar todo o universo e levar o imperio a todas as partes do mundo, só pôde obstar a essa terrivel e calamitosa invasão, rodeando-se de sessenta elephantes, que auxiliaram vigorosamente o seu exercito por tal fórma, que as armas romanas soffreram pela vez primeira um revés: tal o sr. presidente do conselho, aguardada a proporção entre as aguerridas legiões romanas e as desordenadas phalanges populares, encontrou tambem um elephante e pô-lo ao peito. E bastou que lh'o vissem para que os tumultos populares serenassem e o paiz repousasse fascinado por áquelle talisman.

Este grande sacrificio do nobre conde d'Avila, as contradicções flagrantes do illustre ministro da fazenda, a profusão de graças o despachos do sr. ministro da justiça, os actos dictatoriaes sanccionados, o poder de quantos elephantes existem, e podem existir, tudo isto é pouco, é nada, para pôr dique á torrente das idéas e á manifestação da verdade.

(Os srs. Marquez de Niza e Moraes Carvalho pediram a palavra.)

O dr. Presidente do Conselho de Ministros (Conde d'Avila): — Sr. presidente, pedi a palavra sobre a ordem unicamente para dar algumas explicações á camara sobre alguns factos que referiram os dignos pares, os srs. visconde de Chancelleiros e Vaz Preto, os quaes são completamente inexactos.

Não é verdade, sr. presidente, que eu tivesse vindo de Madrid de proposito para approvar a lei da reforma da secretaria dos estrangeiros, como affirmou o sr. visconde de Chancelleiros.

O sr. Visconde de Chancelleiros: — Eu não disse que s. ex.ª veiu de proposito de Madrid para votar a lei da reforma da secretaria dos estrangeiros, mas sim que tinha votado essa lei.

O Orador: — Aceito a explicação do digno par, mas não foi assim que s. ex.ª se exprimiu. O sr. Casal Ribeiro fez-me a honra de me dizer que tencionava mostrar-me a reforma da secretaria dos estrangeiros antes de a apresentar ao parlamento, e de certo tinha essa intenção, porque as nossas relações eram então muito cordiaes, o sinto muito que o não tivessem continuado a ser; mas a culpa não é minha, não cheguei porém a ver esse projecto; mas achando-me no reino quando esta camara se occupava d'elle, dei-lhe o meu voto, não o nego.

Fallou tambem o sr. Manuel Vaz em ter eu recebido a gran-cruz da Torre e Espada, e pareceu ter tido em vista mostrar que eu a havia solicitado. Appello para o testemunho do sr. Casal Ribeiro, então ministro dos negocios estrangeiros debaixo das ordens de quem servi, a fim de declarar se eu por qualquer meio, directa ou indirectamente, fiz sentir o desejo de possuir aquella tão subida distincção.

O sr. Vaz Preto: — Eu não disse isso.

O Orador: — O digno par o que mostrou em todo o seu discurso foi que o seu fim era unicamente aggredir o presidente do conselho.

Uma voz: — E a todos.

O Orador: — Mas especialmente a tres dos ministros, fazendo excepções e parallelos que me abstenho de qualificar.

O digno par deu a entender que eu tinha solicitado aquella condecoração, quando fui inteiramente estranho á sua concessão. Eu caí das nuvens quando o digno par o sr. Casal Ribeiro, então fazendo parte do ministerio, me fez a honra de se dirigir a minha casa, e me apresentou a carta de uma augusta personagem em que se me annunciava a merco de que se trata. Não esperava, nem por certo merecia tamanha honra. Não digo isto por modestia, porque tenho a fortuna de me conhecer.

Havia ainda um outro facto a que tinha de referir-me e de que me não recordo, porque não tirei apontamento algum.

(Interrupção do sr. Vaz Preto que se não ouviu.)

É verdade; é a respeito da noticia que enviei de Madrid para Lisboa, segundo diz o digno par. Disse s. ex.ª que eu tinha escripto para Lisboa, quando me achava na capital do reino vizinho, dizendo que havia sido ali muito bem recebida a noticia de terem sido approvados aqui os projectos de lei do imposto do consumo e da reforma administrativa. Se o disse, como o digno par affirma, é verdade; porém eu, não tenho idéa de ter escripto similhante cousa. No entanto, o digno par o sr. Casal Ribeiro, que se acha presente, tem a minha correspondencia particular, e pôde ter a correspondencia official quando deseje, e talvez s. ex.ª se lembre do que lhe escrevi a este respeito. Mas ainda que

eu tivesse escripto a noticia a que se referiu o digno par, o sr. Vaz Preto, não sei a que proposito vinha isso para a sua argumentação.

Por agora não tenho mais nada a dizer. Agradeço á camara a condescendencia que teve em me ouvir e reservo-me para responder mais tarde aos discursos dos dois dignos pares, que me obrigaram a dar agora estas explicações á camara.

(O orador não reviu a nota d'estas explicações.)

O sr. Casal Ribeiro: — Pedi a palavra sobre a ordem, e não tenho moção alguma a apresentar. A camara me desculpará este artificio, reflectindo que o illustre presidente do conselho appellou para o meu testemunho, sobre alguns pontos a que se referiu, e embora o meu testemunho não seja necessario, porque ninguem duvidaria das affirmativas de s. ex.ª em materia de factos que lhe dizem respeito, não posso eu parecer que me recuso ou deixo de apressar-me a dizer o que sei a tal respeito.

S. ex.ª referiu-se a tres pontos: o primeiro diz respeito á gran-cruz da Torre e Espada que lhe foi dada em 1866. Sobre isto direi á camara que esse acto foi uma graça que partiu da munificencia do soberano, o não houve da parte do nobre ministro a menor solicitação; e direi mais: foi-lhe conferida com muita satisfação por parte do governo que a propoz, e com o convencimento de que ella era um condigno galardão do merito e dos serviços prestados por s. ex."-

Quanto ao segundo ponto, que é sobre o juizo que s. ex.ª podesse formar sobre o imposto do consumo e reforma administrativa, direi que não me recordo que o nobre ministro, official ou particularmente, me escrevesse de Madrid a tal respeito; e mesmo s. ex.ª não se achava em Madrid, mas sim em París, quando foram approvadas aquellas medidas. Emquanto eu tive a honra de me sentar n'aquellas cadeiras, nunca tive motivo para acreditar que a politica do governo do que eu fazia parte deixasse de merecer a approvação do actual nobre presidente do conselho; porém não me recordo do que s. ex.ª manifestasse por qualquer maneira na sua correspondencia a sua opinião especial sobre as leis de imposto e administração.

Quando eu tive a honra de apresentar ao parlamento o projecto de reforma do ministerio dos negocios estrangeiros já se achava, se bem me lembro, o nobre ministro no paiz; mas a vinda de s. ex.ª não teve por motivo essa reforma. Eu deixei plenamente, e como era natural, á livre apreciação do s. ex.ª o vir ou não vir tomar o seu logar n'esta casa, na sessão de 1867.

O illustre ministro preferiu vir, e effectivamente veiu, para Lisboa assistir ás discussões da camara. Da outra casa do parlamento veiu depois o projecto por mim ali apresentado, e a que acabo de referir-me; o illustre ministro, depois de unia apreciação sisuda, como s. ex.ª costuma sempre fazer a respeito de todos os negocios publicos, aceitou essa medida, e deu-lhe o seu voto de certo, porque não a encontrou prejudicial aos interesses do paiz.

São estas as declarações que tenho a fazer sobre este assumpto; não as fiz porém por as julgar necessarias, mas por que me pareceu do meu dever faze-las quando o meu nome era invocado pelo sr. presidente do conselho.

O sr. Vaz Preto (sobre a ordem): - Parece-me inutil esta discussão; mas direi sempre duas palavras sómente para explicar o rectificar as minhas expressões, que parece não terem sido entendidas; fallando dos sacrificios do sr. conde d'Avila, disse que s. ex.ª tinha solicitado aquella insignia. Disse que era mais um sacrificio de s. ex.ª, e que o governo, naturalmente, tivera escrupulo em que s. ex.ª, o sr. conde d'Avila, fosse como nosso representante para a corte de Madrid, havendo na legação um addido com grau superior ao que s. ex.ª tinha antes de obter a gran-cruz.

Ora, emquanto á questão sobre que eu podia que viesse a esta camara toda a correspondencia que não fosse reservada, não vale a pena insistir, fazendo effectivo o requerimento que cheguei a annunciar.

O sr. Presidente: — Tem a palavra o sr. visconde de Fonte Arcada.

O sr. Visconde de Fonte Arcada: — Eu desejava que V. ex.ª me dissesse quanto falta para dar a hora.

Vozes: — Estão mais oradores inscriptos.

O sr. Presidente: - V. ex.ª póde fallar, porque, se não acabar o seu discurso, fica com a palavra reservada para continuar na sessão seguinte.

O sr. Visconde de Fonte Arcada: — Ouço dizer que está quasi a dar a hora, e n'esse caso não valerá a pena.

Uma voz: — São pouco mais de quatro e meia.

O sr. Presidente: - Se V. ex.ª não quer fazer uso da palavra, então seguir-se-ha o orador que está immediatamente inscripto.

O sr. Visconde de Fonte Arcada: — Eu não renunciei da palavra. Se V. ex.ª quer que eu falle...

O sr. Presidente: — Eu não tenho empenho nenhum. Quem se segue é o sr. visconde de Chancelleiros.

O sr. Visconde de Chancelleiros: — Eu não me atrevo a usar da palavra, porque já fallei por mais de meia hora, e esperava ouvir primeiro os srs. ministros, que, aliás me não consta" que se inscrevessem. Entretanto o que me parece é que ss. ex.ªs comprehenderam talvez melhor do que eu a verdadeira conveniencia que pôde haver d'este debate, que parece vir a ser, o deixar para melhor occasião o responder ao que se tem dito, porque essa occasião não virá longe, quando se apresentem as novas medidas que hão de ser submettidas ao nosso exame e consideração. Então é provavel que ss. ex.ªs se occupem ainda de algumas observações que ultimamente aqui se fizeram, e eu pela minha parte terei tambem occasião de responder. Por isso se não fosse o ter eu já fallado, e estarem inscriptos outros meus collegas que ainda não fallaram, eu pediria para um requerimento, attendendo á circumstancia que notei, de