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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 107

nhã por fim acabar com a dynastia, com as instituições e com a independencia da patria! Dizia-se que estava tudo perdido, e saiu para a rua a cavallaria, a infanteria e até as metralhadoras!

Muita gente seria se assustou, mas eu declaro que não me aconteceu tal, porque conheci os conspiradores quando fui ministro, e nunca tive a coragem de os tomar a sério.

Prenderam-se os culpados, arranjou-se um volumoso processo, que se metteu em um cofre de ferro, e o sr. presidente do conselho foi agraciado com uma gran cruz de valor e de merito, por ter combatido um inimigo que não tinha apparecido! Proh pudor!

Veiu depois o accordão do tribunal da relação e reduziu o tenebroso trama ás proporções que tinha, isto é, que uns poucos de homens se reuniam, como já o tinham feito em outras occasiões para combaterem o governo; mas por fim de contas não era nada, não era cousa que devesse assustar o governo, que não deve estar a dormir, mas tambem não deve acordar á mais leve e insignificante desconfiança; só o deve fazer quando veja que merece a pena.

E fóra d'isto, o que vemos nós? As leis executara-se? Não.

E permitia-se-me dizer agora, que ha homens que pertencem ás facções politicas dos governos só para estar con-stantemente a importuna-los com pedidos e empenhos para si e para os seus afilhados; mas os governos devem ter a coragem suficiente para resistir a esses amigos, que são os seus maiores inimigos, porque, com tal procedimento, não fazem senão desconceitua-los na opinião publica.

E não ha exercito capaz de sustentar um governo quando elle abusa assim do poder, quando julga que o paiz é seu e distribuo os empregos publicos pela familia e pelos amigos. Não ha maior desgraça para um governo do que um tal procedimento.

A melhor maneira de evitar estes males, é não se com-metterem as illegalidades a que acabo de me referir.

Ora, o sr. presidente do conselho tem praticado algumas d'essas illegalidades. Despachou illegalmente para um emprego um individuo accusado de certas faltas, e que nem sequer ao menos apresentou certidão, de folha corrida; tirou um sargento á acção da justiça militar para ir depor no celebre processo da revolta, e restituindo-lhe a liberdade, concedeu uma pensão illegalmente, sem motivo, nem rasão que a justificasse. E eu não censuro estes factos só pela questão de alguns vintens que se gastam, mas censuro-os pela desmoralisação que d'ahi provem e pelo flagrante delicto que se commette.

E será isto politica que inspire confiança? Creio que não. E isto leva-me, portanto, a não confiar no governo.

Não fiz mais do que apontar ou respigar na grande seara dos esbanjamentos da fazenda, das immoralidades praticadas, e nas flagrantes violações das leis; na imprensa e na tribuna têem-se exposto, mas o governo forte da sua maioria introuvable vae atropelando tudo, e não pára nos seus desatinos, até que venha outro 1868, mais correcto e augmentado.

Eu não quereria que elle caísse, mas que governasse bem, que durasse dois ou tres annos, porque tambem é um grande mal para o paiz estar-se de seis em seis mezes a mudar de governo. Era pois meu desejo que os actuaes srs. ministros se conservassem no poder, mas sinto dolorosamente que não me inspirem confiança alguma, sentimento este que creio ter justificado, nem será talvez necessario justificar mais.

O deficit com que lutamos é grande, porem estou persuadido que é maior ainda a falta de moralidade, a que principalmente se deve tambem a ruina das nossas colo- nias. Ha já muitos annos que eu disse no parlamento, que ellas eram machinas de fazer deputados por encommenda, e campo aberto para os especuladores cubiçosos.

Este governo, se pelos seus actos é infeliz, por outro lado favorece-lhe a felicidade, porque constantemente se lhe apresentam ensejos para especular e pôr em acção os seus artificiosos expedientes. Agora vieram os acontecimentos de Hespanha.

Caíu uma monarchia, levantou-se uma republica. Este facto só podia surprehender aquelles que estão hospedes na politica, a mais ninguem surprehendeu. Estimarei que com a republica ou com a monarchia aquelle povo seja feliz. Não podemos senão desejar fortuna para os nossos vizinhos e respeitar os seus direitos, assim como elles devem respeitar os nossos. Mas o governo chama á reserva, para que? É com receio da republica?

As monarchias não se manteem com bayonetas; para que se sustentem é necessario que estejam radicadas no coração dos povos, nos seus habitos, nos seus costumes e nos seus desejos, vinculadas aos povos por bons governos, que satisfaçam as suas necessidades.

Quando em 1873 se deram as occorrencias de Hespanha, eu e os meus amigos conferenciámos sobre a linha de conducta que deviamos ter n'aquella conjunctura, e discutimos.

Nós discutimos, porque eu aos meus amigos não imponho já minha vontade, discutimos, e o que se vence na maioria é o que se faz. Assentámos, pois, que não deviamos alterar a nossa politica e a nossa posição com relação ao governo, que deviamos continuar o mesmo caminho sem alteração nenhuma, como se os acontecimentos de Hespanha não tivessem tido logar. Pareceu-nos que esta era a politica mais acertada. Nem perguntámos ao governo cousa alguma; quem perguntou ao governo o que havia com relação a Hespanha foi o sr. Mártens Ferrão, que é dos amigos do governo. E que nos podia dizer o governo que se não soubesse pelos jornaes? O que fosse particular de certo não nos diria elle, o que fosse publico já o sabiamos; portanto, nada tinhamos que lhe perguntar. Nós ponderámos que em face dos acontecimentos do reino vizinho não convinha senão termos uma politica portugueza. Caíu ali um throno e levantou-se uma republica sobre as suas ruinas. Disse ruinas, e talvez o não devesse dizer, porque ruinas não houve, mas sim acto de desistencia da parte de quem o occupava, e esse acto grangeou, no meu conceito, mais honra a quem o praticou, que o da aceitação d'esse mesmo throno. Ruinas de throno foram as de 1868; essas sim, é que se podem chamar ruinas, porque houve batalhas, houve luta, houve sangue e mortes. Essas batalhas eram dirigidas pelos homens mais chegados ao throno, os conservadores, que se reputam os salvadores dos thronos, os unicos que os podem sustentar.

Foram elles que derrubaram em Alcolea o que desabou em 1868, porque elles são assim; chegam-se para os réis quando os julgam seguros, e só com a idéa de se sustentar a si; mas na hora do perigo abandonam-os e deixam-os entregues aos revolucionarios. Isto é a historia.

Mas, como ía dizendo, caiu um throno e levantou-se uma republica no paiz vizinho.

N'estas circumstancias entendemos que não deviamos fazer alteração alguma na nossa politica, e esperavamos que o governo fizesse o mesmo pela sua parte; mas não succedeu assim. O governo apenas soube de taes acontecimentos apresenta um projecto de lei chamando a reserva. E este projecto accentua a politica do governo. Uma cousa que nós devemos ter sempre em vista é não illudirmos o publico; eu sou sincero no que digo, e não sei usar d'essas palavras que só servem para fazer effeitos theatraes. Reconheço que devemos ter toda a prudencia na nossa politica para não comprometter o paiz; mas o governo não devia mostrar que se deixou impressionar pelos acontecimentos de Hespanha, não devia fazer alteração na sua politica, nem vir aqui com este projecto, em que não vejo senão inconvenientes. O governo não devia dar nenhum sigual de que o affectavam esses acontecimentos, não devia mostrar que teve medo d'elles, não devia fazer crer que os receiamos. Quando uma nação altera a sua politica, quando augmenta