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232 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

do parecer da commissão, e até ao proprio conteúdo da moção mandada para a mesa.

Explica que o actual orçamento não obedeceu a intuitos politicos, e teve unicamente por fim apreciar melhor a situação financeira e a situação economica.

O orador apresenta diversas considerações tendentes a rebater os argumentos adduzidos pelo orador que o precedeu no uso da palavra.

(O discurso a que se refere este resumido extracto será publicado na integra, e em appendice, quando o digno par haja revisto as notas tachygraphicas.)

O sr. D. Luiz da camara Leme: - Começo por mandar para a mesa uma moção e duas propostas, que peco a v. exa. mande ler na mesa, e depois usarei da palavra.

Foram lidas na mesa.

O Orador: - Sr. presidente, não espere v. exa. nem a, camara que eu vá fazer alguma dissertação sobre economia politica, para o que me considero incompetente, sobretudo depois do discurso academico que tão brilhantemente proferiu o meu illustre amigo, que encetou esta discussão, e com quem aprendi verdades economicas.

Fallou s. exa. em muitas cousas e ainda tenho na memoria que considerou como base da nossa reorganisação da fazenda publica a importação e a exportação.

No fim do seu discurso o digno par apresentou mais um elixir para salvar a fazenda publica.

Já n'esta - eu ia dizer na outra casa, é a mesma, porém com outros representantes - um illustre deputado apresentou tambem um elixir para salvar as finanças do paiz; e desculpe a camara se eu tiver a ousadia de propor um elixir meu. Tem sido propostos muitos, todos inefficazes; mas permitia-se que eu diga, se adoptarem o meu elixir e se o applicarem á fazenda publica, podem v. exas. crer que ella fica regenerada.

Vejam v. exas. que ousadia a minha! que ousadia esta!

Querem saber qual é o meu elixir? Resume-se em quatro palavras: exportar syndicatos e monopolios, importar economias e moralidade politica. (Apoiados.)

Digam-me v. exas. em sua consciencia se, applicando este elixir ao estado gravissimo em que está o paiz, elle não melhorava, pelo menos?

Sr. presidente, sinto-me cansado de estar sempre em opposição aos governos, de ver-me na necessidade de permanecer em lucta aberta contra s. exas. Estou fatigado, e desejava descansar.

No horisonte escuro surgiu ha tempos um meteoro, um ponto luminoso; mas desappareceu, e, por consequencia, eis-me de novo na brecha, aqui, onde creio que terei de passar o resto dos meus dias.

Ha membros do gabinete a quem eu dedico uma grande estima pessoal. O sr. ministro dos negocios estrangeiros considero-o como irmão, e o sr. ministro da guerra tenho-o na conta de um grande amigo; ruas, desculpem s. exas., n'essas cadeiras não vejo amigos; vejo só ministros, e assim dir-lhes-hei que a orientação dada aos negocios publicos não tem correspondido á minha espectativa.

Como a discussão do orçamento é arida, permitta-me a camara que eu traga ao debate alguma nota alegre.

Ha pouco um jornal, fazendo apreciações pouco lisonjeiras á politica do governo, dizia que tudo estava na mesma; tudo como dantes, quartel general nos Navegantes.

Quem são estes navegantes? São os que foram tripular a nau do estado, esse pobre e misero barco constantemente a balouçar-se n'um mar procelloso de contradicções.

Mas tomem cuidado no rumo que leva a embarcação, porque, segundo as prophecias de experimentados mareantes, póde ella ir despedaçar-se nos baixios da bancarrota.

Querem evitar que isto aconteça?

Então adoptem o meu elixir. Adoptem-no, e eu asseguro a s. exas. que a embarcação não dá á costa.

Sr. presidente, agora me lembrei de repente do que succedeu ha pouco em Franca com um homem politico importante, o sr. Remusat, que, querendo fazer espirito com o seu antagonista que tinha saído do ministerio, disse: «Nós tocâmos ambos na mesma flauta, sómente eu toco melhor do que o meu antecessor».

Ora, se a camara me permitte, eu applico este dito aos illustres ministros que se succedem no poder.

Eu direi que s. exas. desafinam por vezes no parlamento, mas são muito harmoniosos no seio das sociedades anonymas.

Sr. presidente, tenho aqui o orçamento geral do estado.

Cá está elle.

Desgraçado de v. exa. se pretendesse entrar n'este labyrinto, porque sairia de lá doido.

O volume tem capa verde.

Que irrisão esta quando nem sequer nos dá o vislumbre de uma esperança!

Eu continuo com as notas alegres, porque o assumpto é muito arido.

Sabe v. exa. o que isto é?

Eu comparo-o a um kaleidoscopio.

Toda a camara sabe o que é este instrumento, mas, como póde haver alguem nas galerias que não o conheça, eu faço d'elle uma pequena descripção.

Kaleidoscopio é um instrumento de physica á similhança de um óculo, e que tem dentro differentes objectos de cores, como fragmentos de vidro, papeis, etc.

Pelo movimento rotatorio que se dá ao referido instrumento, vê-se uma infinidade de desenhos regulares.

Ora apparece um, ora outro.

Agora imaginem os dignos pares uma cousa.

Vem primeiro o sr. Hintze Ribeiro, e encontra um saldo de 110 contos de réis, e vem em seguida o sr. Ressano Garcia, e descobre um deficit immensamente maior.

Fallando do sr. Ressano Garcia, cumpre-me elogiar o seu relatorio de fazenda, embora em phrase menos eloquente e vernacula do que a que empregou o meu illustre amigo o sr. Moraes de Carvalho.

O relatorio do sr. ministro da fazenda é um trabalho que honra o seu talento.

Sei o que custam trabalhos d'esta ordem, porque ainda ha pouco tive a honra de apresentar um; insignificante, sim, pequeno, mas que visava á realisação de uma economia incontestavel, trabalho de que aliás se não fez caso.

Mas ao mesmo tempo que elogio o relatorio de a. exa., permitta-me que lhe diga que elle não corresponde á espectativa do paiz.

É um trabalho primoroso, bem escripto, bem coordenado, mas as medidas que o acompanham, e as providencias que propõe, podem muito bem constituir um adiamento das difficuldades que nos assoberbam, mas nunca uma solução d'ellas.

Quer v. exa. ver como lá fora são apreciadas as suas medidas de fazenda?

Veja-se o que se encontra no jornal financeiro Paris bourse de julho passado:

Analyse das medidas financeiras apresentadas ao parlamento portuguez na presente sessão; extrahida do jornal financeiro Paris-Bourse de 19, 21, 22, 24 e 26 de julho proximo passado.

Na apreciação que vamos fazer das medidas financeiras apresentadas ao parlamento portuguez, o fim que temos em vista é esclarecer com toda a imparcialidade o publico francez e o mundo financeiro sobre os projectos do governo d'esse paiz.

Portugal é um paiz que nos é extremamente sympathico e, ainda que possamos reprovar a sua vida passada de filho prodigo, estamos convencidos de que, governado com intelligencia, ainda um dia nos poderá indemnisar dos prejuizos que nos causou.