152 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO
paiz que não deixa de ser importante mesmo pelos productos mineralogicos que encerra. A região entre o Sabôr e a Fronteira têem consideraves jazigos de mineraes, a que só um caminho de ferro poderá dar valor.
Disse eu que Mirandella é um ponto importante e central, communicando directamente com as capitaes dos dois districtos e ao qual devem ligar-se no futuro outras linhas de communicação; mas póde dizer-se, com verdade, que estas communicações só podem estar concluidas d'aqui a muitos annos.
As estradas de Mirandella a Villa Pouca de Aguiar, a Montalegre, a Chaves, a Vinhaes, e a Alijo, segundo o plano geral de estradas, umas nem começadas estão, e outras apenas em começo. Por isso as vantagens do caminho de ferro de Foz Tua a Mirandella não são desde ia tão grandes como muitos imaginam.
Por outro lado a linha ferrea de Foz Tua a Mirandella corre no fundo de um valle muito estreito e profundo, ladeado de montanhas que se elevam a mais de 500 metros de altura, e só é atravessada por duas estradas de primeira e segunda ordem: a de Murça a Villa Flor, e a de Alijo a Carrazeda de Anciães.
Este caminho portanto não tem grande zona propria de alimentação e o movimento local será muito pequeno sendo o principal o de transito, ou que lhe vier de fóra, que ainda assim só depois de feitas as estradas que convergem sobre Mirandella é que poderá ser consideravel. Por muito tempo será só alimentada esta linha ferrea exclusivamente pela linha de Mirandella a Bragança.
Todas estas considerações me levam a crer que se não póde desde já deixar de attender convenientemente ás duas linhas destinadas cada uma a servir o respectivo districto: a do Peso da Regua para Chaves e a que parte de Foz Tua para Bragança. São estas as duas linhas que me parece conveniente construir primeiro que todas as outras, e se as circumstancias actuaes do nosso estado financeiro não permittem que se lhes de o desinvolvimento requerido dê-se ao menos começo simultaneo aos trabalhos de construccão entre o Peso da Regua e Villa Real, e entre Mirandella e Foz Tua; porque o desenvolvimento dos trabalhos em um só d'estes caminhos de ferro não póde satisfazer ás necessidades de ambos os districtos.
Seria por certo lamentavel que, indo tratar-se dos melhoramentos d'aquella provincia, se attendesse a una districto e se não attendesse a outro, e que ficasse desprezado aquelle que não só póde offerecer maior trafego á respectiva linha ferrea, mas que alem disso tem soando mais do que outro qualquer districto do reino com o terrivel mal da phylloxera. E qual é o augmento de encargos que resultaria de se attender ao mesmo tempo á construcção do caminho de ferro do Valle do Corgo e ao caminho de ferro de Foz Tua a Mirandella?
Parece-me que é tão diminuto, que o governo não deve hesitar. Eu calculo, sr. presidente, que os encargos para o governo provenientes da construcção do caminho de ferro do Peso da Regua a Villa Real não podem importar em mais de 25:000$000 réis annuaes, custando este caminho cerca de 900:000$000 réis; ora, quado nós vamos contrahir fortes encargos com linhas ferreas de importancia secundaria, com verdadeiros ramaes em territorio pouco povoado, seria na verdade contradictorio e injustificavel que despresassemos duas linhas ferreas de primeira importancia, necessarias para o serviço de uma provincia inteira linhas que devem fazer parte necessariamente da rede geral de primeira ordem da nossa viação accelerada, e que em grande parte atravessam terrenos ferteis e cultivados, e mesmo alguns bastante povoados, pois o districto de Villa Real tem uma densidade de população de 53 habitantes por kilometro, mais da media de todo o reino.
Dizia eu, sr. presidente, que o encargo proveniente da construcção do caminho de ferro, entre o Peso da Regua e Villa Real, não podia importar em mais de 20:000$000 réis, e parece-me que este calculo não é muito subido, uma vez que esse caminho seja de via reduzida.
O caminho entre a Regua e Villa Real mede approximadamente 26 kilometros, e eu calculo a extensão da via ferrea em 30 e calculo tambem que não póde importar em mais de 30:000$000 réis por kilometro, sendo de via estreita. Este preço é extremamente exagerado; por que se formos consultar as estatisticas dos caminhos de ferro de via reduzida, que se teem construido nas differentes partes do mundo, ellas apresentam um preço muito menor! Os caminhos de ferro de via reduzida de maior preço que eu conheço são os da India ingleza, que custaram cerca de 21:000$000 réis. Na Europa são rarissimos os exemplos de custo tão elevado; nota-se, por exemplo, o de Appenzell na Suissa, mas na grande maioria o custo varia entre 3:000$000 e 16:000$000 réis. Pôde, portanto, considerar-se exagerado o preço de 30:000$000 réis por kilometro e o custo total de 900:000$000 réis para o caminho de ferro do Corgo, que calculei tão elevado attentas as difficuldades do terreno.
Vejamos agora qual será o producto bruto provavel.
Parece-me que podemos contar com um producto bruto muito maior do que o dos caminhos de ferro do Alemtejo e da Beira Baixa, territorios muito menos povoados; e tambem mais elevado do que na linha da Foz do Tua a Mirandella, porque o movimento entre Villa Real e Peso da Regua é muito superior, e já existente, emquanto n'aquella linha será necessario creal-o de novo, deslocando-o de outras direcções.
Nem é pois para admirar que eu calcule, que o producto bruto d'esta linha não será inferior a 1:600$000 réis; e suppondo ainda que o custo da exploração, em vez de ser 600$000 ou 700$000 réis por kilometro, seja de réis 800$000 ficam n'este caso 800$000 réis por kilometro de producto liquido ou 24:000$000 réis em toda a linha. Mas o encargo total da garantia do juro a 5 por cento, em relação aos 900:000$000 réis da construcção, eleva-se a réis 45:000$000; donde se vê que o encargo definitivo do governo não póde exceder a 21:000$000 réis no primeiro anno da exploração, e que diminuirá rapidamente, porque eu já notei que o transito entre Villa Real e Peso da Regua é maior do que em qualquer parte do reino, a não contar as estradas das immediações do Porto e algumas outras do Minho, em pequenas extensões, e talvez junto a Coimbra.
Não seria, pois, grande alteração ao projecto do sr. ministro das obras publicas, nem cousa de assustar pelo lado financeiro, pouco mais de 20:000$000 réis de encargo annual, satisfazendo-se a uma necessidade tão urgente para o districto de Villa Real.
Sr. presidente, ao que acabo de, dizer acresce ainda que a pequena linha de Foz Tua a Mirandella, contratada isoladamente, e não offerecendo vantagens proprias de grande circulação, ao menos nos primeiros annos, não terá certamente concorrentes, alem de que não ha vantagem, antes graves inconvenientes, em fazer concessões de pequenos troços de caminhos de ferro, multiplicando as companhias pequenas, possuidoras de linhas onde o trafego não póde ser grande, traduzindo-se estas circumstancias em mau serviço para o publico, e em carestia de transportes.
Esta opinião já tive occasião de emittir n'esta casa, e cada vez sou mais firme n'ella.
Parecia-me melhor fazer concessões mais largas, e constituir verdadeiras redes de viação accelerada, comprehendendo n'essas concessões differentes linhas, porque, assim no custo da construcção, como no trafego da exploração, poderia haver compensações entre as secções mais custosas e menos productivas, e as de mais facil construcção e mais trafego; e o governo assim obteria melhores condições, sem que os encargos augmentassem mais promptamente por