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10 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

rançado, e que os olhos de todos estão voltados e fitos hoje em s. exa. O paiz reclamava-o ha muito tempo, a experiencia havia de fatalmente de fazer-se. Se ella falha, se s. exa. faz fiasco, teremos provavelmente as desordens, os disturbios, e talvez a guerra civil e a anarchia. Ai então de nós! Ai do paiz! O menos que nos espera é a sorte do Egypto.

Compenetre-se, pois, s. exa. da sua augusta e elevada missão. Levante de todo o véu, e deixe ver ao paiz o seu triste e esfarrapado sudario para que elle comprehenda bem a sua miseria, e o estado lamentavel a que o conduziram, depois metta mãos á obras com decisão, sem hesitações nem receios, passe por cima de todos os obstaculos, vença todas as difficuldades sem lhe importar com os partidos, nem com o apoio do parlamento se elle não lh'o quizer dar. Eu creio que o parlamento comprehende bem a sua missão e responsabilidade, e por isso não se prestará a ser instrumento de vaidades balofas, nem de caprichos repugnantes.

As doutrinas proclamadas pelo sr. Dias Ferreira, as suas idéas e principios, satisfazem perfeitamente á anciedade e aspiração publica e ao nosso ideal politico. Ponha-as pois em pratica; vá direito ao seu fim, sustentando sempre na mão a bandeira da ordem, da liberdade, da justiça, da economia e da moralidade. (Apoiados,)

No apoio da opinião ahi tem o grande elemento para realisar o que tantas vezes proclamou como orientação unica possivel de qualquer governo que quizesse fazer mais alguma cousa do que politica, governo do paiz pelo paiz, governo de ordem, liberdade, justiça, economia e moralidade. (Apoiados.)

São essas as idéas que nós, com s. exa. eu e os meus amigos, temos evangelisado, na fé que um dia chegariamos á terra da promissão.

Espero, pois, que o governo metta hombros á obra, sem transigir, sem satisfazer vaidades nem caprichos, sem se prestar a imposições, (Apoiados.) venham de onde vierem!

Sr. presidente, eu como estou identificado n'esta santa cruzada que o sr. presidente do conselho, eu e os meus amigos, prégámos e preparámos durante longo tempo; como desejo que as idéas e doutrinas por nós sempre evangelisadas sejam realidade, devo empenhar pela minha parte todos os esforços n'esse intuito, e fallar com todo o desassombro ao governo, mostrando-lhe como amigo leal os perigos e precipicios em que póde caír.

Desculpe, pois, o governo a minha franqueza, e permitta-me que lhe diga que dois actos da sua gerencia têem impressionado mal o publico, e tirado ao governo força e prestigio.

O primeiro acto foi a declaração do sr. ministro da fazenda na camara dos senhores deputados, de que não tocaria nos quadros do exercito.

Este acto tirou-lhe força e não lhe grangeou as sympathias do exercito.

Foi impolititico o sr. ministro da fazenda n'esta declaração abrindo uma excepção odiosa a favor de uma classe forte e poderosa.

Sem querer fazer a mais leve censura a s. exa., devo comtudo dizer que s. exa. foi injusto para com o proprio exercito. O exercito é o defensor da patria, é o primeiro que comprehende que a occasião é difficil e está prompto a fazer tambem sacrificios. Nem de esperar era que hesitasse quem a todo o momento está disposto a sacrificar pela patria até a vida.

O que o exercito quer e quer tambem o paiz é que o governo não transija com os escandalos de qualidade alguma. O que o exercito quer e quer tambem o paiz é não ver nos altos logares aquelles que mais concorreram para este estado de cousas e que se estão locupletando á custa do paiz emquanto se vão pedir sacrificios enormes aos servidores do estado.

Aqui tem v. exa. o que o exercito quer e quer todo o paiz.

O que todos querem é que se cobrem as dividas que os caloteiros devem ao estado e que entrem nos cofres publicos os direitos de mercê pelas graças e condecorações recebidas e que se acham em divida ainda. O que o exercito quer e quer o paiz é que não se poupem sinecuras nem conservem tribunecas, que não continuem a dar gratificações fabulosas aos afilhados que não trabalhem, emquanto aos funccionarios que trabalham se lhes pede talvez o indispensavel. Eis aqui o que o exercito e o paiz querem.

O outro acto do governo que tambem produziu má impressão no publico foi a segunda portaria do sr. ministro das obras publicas ácerca dos institutos industriaes de Lisboa e do Porto.

O publico viu n'essa portaria pressão de alguem, e sentiu que o ministerio não comprehendesse que a força toda não lhe vem do parlamento nem dos partidos, mas sim da convicção em que está o paiz de que o antigo systema de governar vae desapparecer. O governo deve tambem convencer-se de que as maiorias parlamentares não estão resolvidas a ser instrumento de vaidades nem de caprichos de pessoa alguma, mas se o quizessem ser, o governo devia passar por cima d'ellas porque tinha o apoio do paiz.

Sr. presidente, eu aponto estes dois factos ao governo porque sou seu amigo leal e desejo que elle cumpra e desempenhe a sua missão no interesse da patria e se redima pelos seus actos d'estas duas faltas.

Sr. presidente, vendo entrar na sala o sr. presidente do conselho, devo repetir em resumo a s. exa. o que já tive occasião de dizer, isto é, que o paiz tem os olhos fitos em s. exa., que o paiz espera muito de s. exa., que o paiz tem a sua ultima esperança n'esta experiencia que se está fazendo, e mal nos vae a todos se ella falha. A perda será grande, será enorme, póde até ser fatal, porque póde ser a da autonomia.

É pois grande, enorme tambem a responsabilidade da s. exa.; não lhe faltam porem todos os elementos, para a victoria pois entre os mais valiosos, está a grande força da opinião.

Use o governo da força que tem sem se importar nem com interesses feridos, nem com imposições, sejam ellas de quem forem, venham ellas d'onde vierem.

Governe s. exa. com o seu programma, programma que sustentámos ha tantos annos, que eu e os meus amigos o acompanharemos leal e desassombradamente. Se se afastar d'essas idéas e d'esses principios, o que eu não creio, não conte comnosco.

Eu e os meus amigos votámos este projecto, e votariamos outro ainda de maior gravame, porque as circumstancias o impõe e porque é urgente e indispensavel, não vi nem na outra casa do parlamento, nem n'esta, apresentar outra proposta melhor. Este projecto é um expediente de occasião, e vota-se porque não appareceu outro que melhor satisfizesse.

Votâmos este projecto apesar de nem eu, nem os meus amigos termos concorrido para este estado de cousas, que se têem aggravado até ao ponto que se vê.

Votâmos, sr. presidente, porque vemos representadas no poder as nossas idéas e os nossos principios, e porque vemos que o governo tem hasteada a bandeira da liberdade, da justiça, da ordem, da economia e da moralidade, que tem sido, é e ha de ser sempre o nosso programma, e por isso não podemos deixar de lhe dar toda a força emquanto proceder correcta e acertadamente.

Sr. presidente, vou concluir fazendo ainda mais uma vez votos para que o sr. presidente do conselho aproveite a força que o paiz lhe dá e que mostre que tem pulso e energia para affrontar as enormes difficuldades da situação, e afastar de si os falsos amigos, e sobretudo os industriosos e especuladores, que não se importam dos meios de que se servem e que só tratam de enredar os governos