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208 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

com o seu procedimento, não venha como que justificar o que por ahi se diz.

Que mais precisa e governo?

Eu não quero entrar em mais largas considerações, e, por. isso, restrinjo por agora ò muito que poderia dizer; mas pergunto ainda: não praticaram Galhardo e Mousinho, feitos distinctos, pelos quaes se julgou dever dar-lhes o maximo da pensão?! Pois se é o proprio projecto que o reconhece?!

Não se tornaram ambos distinctos em campanha?

Que mais provas são precisas?

Serão precisas ainda novas provas?

Quer p governo que o coronel Galhardo volte outra vez para a África?

Parece ser este o desejo do governo.

Pois eu entendo que era até um dever repatriar Mousinho de Albuquerque, não consentir que elle morra minado pelas febres ou atravessado por uma bala.

Póde ser que o valor e a coragem deste bravo militar o levem a esse triste estremo, mas o governo, por isso mesmo, devia repatria-lo quanto antes.

Chega a parecer que ha má vontade contra este brioso official! Naturalmente não ha, mas parece-o bem.

Pois não estava naturalmente indicado, visto que Mousinho de Albuquerque, alem de ser um valente militar, é um homem intelligente, o que se revela nas cartas que tem escripto para aqui, não estava naturalmente indicado, repito, dar-lhe o logar de secretario geral ou de governador de Moçambique?

Não estava este distincto official naturalmente indicado para este alto cargo, pelo seu valor, pelo seu prestigio, pela bravura de que deu uma tão indiscutivel prova?

Não nomearam governador de Moçambique o sr. Mousinho, e deixam lá um secretario geral, muito bom empregado, de certo, embora eu o não conheça, mas um secretario geral interino, que é um tenente, ás ordens do qual tem de servir o capitão Mousinho de Albuquerque!

E depois, sr. presidente, não se deve considerar apenas o valor desse homem, mas tambem a sua abnegação no meio do seu grande triumpho. (Apoiados.) É de uma virtude civica quasi superior ao valor que elle demonstrou. (Apoiados.)

Não é dos nossos tempos, não é dos nossos dias uma abnegação de tal magnitude.

Pratica o acto brilhantissimo que de todos é conhecido, e deixa-se lá ficar, e não quer vir receber as ovações espontaneas que elle sabia com certeza lhe seriam dispensadas logo que desembarcasse em Lisboa, ou em qualquer outro ponto do paiz.

Isto deve calar no animo da camara, deve calar no animo do governo, como tem calado no animo do paiz.

O sr. ministro da guerra nada tem que responder a isto.

Não é pela minha dialectica, que não vale absolutamente nada; mas é pela verdade dos factos, que se impõe tão claramente, tão evidentemente, que falla tanto ao entendimento de cada um, tanto ao coração de todos, que s. exa. não tem uma unica rasão plausivel para me responder; tudo o que disser serão frivolidades, cousas de nada que eu reduzirei certamente a pó, quando ouvir a sua replica.

Esta questão não póde ficar assim. A teima, a birra do governo, ou do ministro, que não dá uma rasão clara de não fazer aquillo que é do seu dever, aquillo que a nação exige terminantemente, não se póde tolerar nem admittir.

Fechem a camara, mandem-me embora, mas ao menos ei de protestar emquanto poder.

Então, porque o sr. ministro da guerra amua e diz "não quero", havemos nós de estar sujeitos á vontade e opinião do governo?!

Eu appello para os srs. ministros que, apesar dos seus erros politicos, são homens honrados e teem feito uma administração honesta; faça-se justiça a quem de direito

pertence. S. exas., são leaes. Têem errado, porque todos erram, mas teem coração, são patriotas. Por isso appello para os srs. ministros. Arranquem, muito embora, o voto da sua maioria nas questões politicas, mas neste assumpto, que é de interesse nacional, façam a questão aberta e verão a votação que teem. Fica mal a esta camara ser, neste ponto, chancella subserviente da birra e teima de um ministro.

Isto não póde ser assim.

Já noutro dia appellei para o illustre almirante José Baptista de Andrade, e fa-lo-hei novamente hoje. Nunca é de mais exaltar aquelles que bem serviram a patria.

S. exa. não precisa dos meus louvores, tão desauctorisados são. Não os quer para nada, mas apraz-me exaltar sempre quem, com tanto denodo, e por tantas vezes, arriscou a sua vida pela patria.

Por isso appello para s. exa. para que ponha, ao lado da causa que defendo, toda a sua auctoridade, que é muita, porque é sempre muita a auctoridade dos heroes.

Nós tambem somos patriotas, mas como simples dilletanti, ao passo que s. exa. assistiu aos perigos, as balas já lhe assobiaram aos ouvidos. Por isso teve s. exa. dois postos de accesso, e muito bem. (Apoiados.) No seu tempo não havia ministros que hesitassem em conceder-lhos. -

O sr. Conde de Thomar: - Pensava-se de outro modo nesse tempo.

O Orador: - Nesse tempo não havia ministros teimosos nem rabujentos. Olhava-se para a patria, para a bandeira portugueza, e via-se que ella tremulava altiva, pelos feitos gloriosos praticados.

Hoje, porem, não succede o mesmo.

A proposito, citarei á camara um acto deveras glorioso, praticado pelo illustre almirante José Baptista de Andrade. Que mo desculpe a sua modéstia.

Contou-me o facto um official de marinha.

Estando s. exa. fundeado no seu pobre navio - porque são sempre pobres, ainda que resistentes e honrados, os navios da nação portugueza- em um porto das nossas possessões, viu que de bordo de um navio inglez, tambem ali fundeado, se entretinham atirando ao alvo, a uma bandeira portugueza.

O sr. Baptista de Andrade: - Peço perdão a v. exa., mas não é exactamente assim. Era um alvo que tinha as duas cores, azul e branca, mas não era a nossa bandeira.

O Orador: - Em todo o caso, o animo do valente almirante, que nesse tempo era simples official, não soffreu que houvesse alguem que se lembrasse, sequer, de fazer de um trapo azul e branco, um alvo.

Eu creio que s. exa. declarou nessa occasião que, ou não fizessem alvo daquelle trapo azul e branco, só porque eram as nossas coôes nacionaes, ou então que iria com o seu pequeno navio antepor-se a esse alvo, e se quizessem lhe atirassem a elle.

Este é um facto que demonstra a tempera de s. exa. e o seu culto pela bandeira da patria.

Pois admira que o illustre almirante não visse agora na commissão de guerra, que não se galardoando condignamente o heróico Mousinho de Albuquerque, se praticava um acto similhante ao de atirar á bandeira portugueza, por elle tão nobremente defendida e exaltada.

O sr. almirante Baptista de Andrade, um bravo que pelo seu denodo teve dois postos de accesso por distincção em combate, - se nisto attentasse bem, - tinha auctoridade para se impor ao sr. ministro da guerra.

Então uma commissão que tem como membro um bravo que venceu dois postos por distincção em campanha, não ha de lavrar parecer favoravel a um projecto que conclue por dar postos de accesso a dois bravos, que tão brilhantemente acabam de honrar a patria e faze-la respeitar!

Uma voz: - Isso não está ainda em discussão.

O Orador: - Não está, bem sei, o meu projecto não está em discussão, nem me parece que venha a estar. Mas