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240 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

sejava que a s. exa. constasse, por via d'estas minhas reclamações, que eu insistia pela sua presença n'esta casa.

Sr. presidente, não está presente nenhum membro do governo, e v. exa. não vae de certo condemnar-me a usar da palavra na ausencia do ministerio. V. exa. não tem mais ninguem inscripto?

O sr. Presidente: - Os documentos a que o digno par sr. Hintze Ribeiro se referiu já foram requisitados ao ministerio da fazenda, mas ainda não deram entrada na secretaria da camara.

O sr. Hintze Ribeiro: - Agradeço a informação de v. exa.

O sr. Presidente: - Como não se acha mais ninguem inscripto antes da ordem do dia, e não está presente nenhum dos srs. ministros, suspendo a sessão até que o governo esteja representado.

Eram duas horas e meia.

ORDEM DO DIA

Proposta de lei que tem por fim fixar as receitas e despezas do estado na metropole para, o exercicio de 1897-1898

O sr. Presidente: - Está reaberta a sessão e vae entrar-se na ordem do dia.

Eram duas horas e quarenta minutos; tinha entrado o sr. ministro da fazenda.

O sr. Presidente: - Tem a palavra o digno par o sr. visconde de Chancelleiros.

O sr. Visconde de Chancelleiros: - Vem dizer tudo o que sente, não só perante a camara dos dignos pares mas, n'um ambito mais largo, perante o paiz inteiro, a quem o orador, embora contrariando os seus interesses pessoaes, está prompto a prestar o concurso da sua voz, porque assim o exige o cumprimento rigoroso de um dever, que o traz ao parlamento, roubando-o á tranquillidade do isolamento da sua vida.

É o orador que tem de abrir o debate na presente sessão; hontem, instigado pelo discurso do sr. relator, saberia melhor o que tinha a dizer; hoje, a camara está fria, o auditorio é diminuto, e até quasi todos os srs. ministros estão ausentes, o que aliás não obsta a que elles vivam nos documentos officiaes, que vae citar.

Apesar d'esta circumstancia, cede da sua palavra, e, usurpando as altas funcções da presidencia, só figuradamente, porque de outra fórma não o faria, pelo muito respeito e considerarão que tributa ao sr. presidente, de quem tem podido apreciar a alta generosidade e as provas de immerecidas attenções que tem dispensado ao orador, vae dar a palavra successivamente a alguns da srs. ministros, para que s. exas. fallem ao paiz, não das cadeiras aonde hoje estão, mas da tribuna parlamentar, que vale bem mais do que aquellas.

Não sabe se ha quem suspeite das suas intenções, quem o julgue, obtemperando, nos intuitos do seu proceder, a instigações da paixão partidaria ou a ambições do poder. Se é verdade que já se sentou n'uma cadeira de ministro foi porque circumstancias imprevistas, desgraçadas, imperiosas, lhe impunham o dever de acceitar um logar cuja recusa, em tal caso, seria a infracção de um dever politico; e assim pertenceu a uma situação que tem sido tão mal comprehendida, tão accusada e tão injuriada.

Não foi ministro porque appetecesse funcções d'esse cargo; não se sentou nunca á mesa do orçamento, em que pez e aos detractores do seu trabalho, da sua iniciativa ou da sua energia.

Tem estado apenas na posição que occupa diante dos lavradores, que conhecem melhor as suas intenções e que á sinceridade d'ellas prestam homenagem.

Póde dizer que tem subido o calvario das difficuldades com que lucta quem se interessa pela situação economica do paiz.

Houve um governo que quiz premiar esses intuitos e esses serviços, creando uma ordem de merito agricola. Foi-lhe offerecida a gran-cruz, recusou-a o orador.

Nunca fez politica de pessoas e por isso a sua voz, habituada a uma inspiração de sinceridade, tem direito de affirmar bem alto que, embora não desconheça nem deixe de prestar homenagem aos merecimentos dos que actualmente presidem aos destinos do paiz, dirigindo a acção d'elles ou subordinados ás aspirações e inspirações de quem os constitue; embora saiba que esses homens podem muito pela sua honestidade, pela sua probidade, pelo seu talento, e que muito merecem pelos seus serviços, em todo o caso não têem prestado ao paiz os largos serviços que havia a esperar da sua sciencia, do seu saber «de experiencia feito», do seu patriotismo, pelo modo por que estão organisados os partidos, que não são mais do que syndicatos politicos, obedecendo a influencias das localidades..

Esses homens que são os primeiros do paiz, desaffrontados da pressão partidaria, pediam prestar grandes serviços; mas sujeitos á grilheta dos partidos, não valem nada pelos seus principios, nem pelas suas idéas, porque ninguem é capaz de distinguir os principios do partido regenerador dos principios do partido progressista.

O intuito especial e unico do orador, patriotico e sobranceiro ás paixões partidarias, é ver se chega ao resultado de considerar esses partidos como dissolvidos, desafogando-nos d'elles por uma fórma tal que possamos ter o inicio de uma vida nova, inspirada de principios diversos d'aquelles que têem sido seguidos até aqui e que conduziram o paiz á desastrada situação em que está.

Começava por conceder a palavra ao sr. Mathias de Carvalho, que não vê presente.

Lendo palavras do sr. ministro, o orador diz que n'ellas combate s. exa. o seu actual collega da fazenda com mais energia e vigor do que poderia o orador fazel-o.

S. exa. acha-se agora accidentalmente posto ao lado do sr. ministro da fazenda; mas na verdade é triste, depois de uma longa pratica de systema representativo, ver que se forma um gabinete, não como quem organisa um verdadeiro ministerio, mas como quem arranja parceiros para uma partida de whist.

O sr. Mathias de Carvalho, com aquelle alto e profundo saber e com aquella experiencia, que só logra conquistar quem está em convivio com as mais altas summidades da Europa, e com certo desdem pela vida portugueza, fallava com emphase no seu discurso, porque viu que a Italia, a quem se referia, passou tambem grandes difficuldades quando, alhada com a Allemanha, se preparava para a guerra com a Austria.

S. exa. sabia que a Italia se encontrou nas mesmas condições em que hoje nós estamos e que o governo d'aquella nação tambem se viu obrigado a decretar o curso forçado. Então o sr. ministro dos negocios estrangeiros, philosophando sobre estes dados, faz considerações e apresenta idéas com respeito á nossa questão financeira, que nenhum dos mais distinctos economistas se atreveria a impugnar.

Foram supprimidas as mais pequenas despezas improductivas e póde dizer-se que foi feroz o rigor das economias.

O sr. Mathias de Carvalho, animado com os exemplos da historia de um paiz que não é o nosso; mas que com elle tem relações de affinidade, acrescenta que a Quintino Sella, então ministro, se lhe levantou depois uma estatua n'aquella Roma, que foi a cabeça do mundo.

Não póde chamar-se pequena ambição a de ter uma estatua em Roma, na capital do paiz, uma estatua para impor aos vindouros o respeito que mereceu, a importancia dos serviços prestados.

Poderá dizer-se que prestar esta homenagem a um homem é pequena gloria!?