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242 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

uma verdadeira montanha, um Golgotha onde os ministros querem erguer a cruz para crucificar o paiz.

Cita palavras do padre Antonio Vieira, cujo centenario passou ha pouco; á sua celebração se esquivou o governo, por certo com o lamentavel receio de que o acoimassem de reaccionario.

Refere-se ao governo de 1892, a cujos membros chamaram nephelibatas, incluindo o infatigavel trabalhador que era Oliveira Martins.

Esta situação não foi uma situação do protesto formada entre partidos constitucionaes para condemnar as praticas politicas de outro governo; todos os que então foram ministros acceitaram o poder como um encargo pesadissimo, que as circumstancias impunham e que o desejo de prestar ao paiz um serviço em circumstancias difficeis aconselhava.

Define a sua posição no seio d'esse gabinete, com cujo chefe não tinha ligação alguma partidaria.

Elle, orador, promettia a qualquer situação todo o apoio que resultasse da sua palavra e da sua influencia politica, mas, forçado a acceitar a pasta, não se associava ás responsabilidades do governo.

No conselho de ministros, o sr. Dias Ferreira leu a declaração que fazia no dia seguinte ao parlamento, e perguntou depois ao orador o que elle pensava. Em seu juizo a declaração deveria simplesmente dizer que, representando o gabinete, a que aquelle estadista presidia, uma situação liquidataria dos erros dos partidos politicos, a que elle não estava por fórma alguma ligado, o plano do governo seria apenas procurar reduzir o mais possivel as despezas publicas.

O sr. Dias Ferreira não acceitou o alvitre.

Mas a declaração foi feita com um tal tom e auctoridade moral, que ainda hoje é lembrada ao paiz como a maior demonstração de consciencia patriotica de todos que sacrificaram os seus proprios interesses para a salvação immediata das difficuldades com que se luctava.

Póde affirmar que nenhum governo teve a força, a auctoridade moral que teve o governo presidido pelo sr. Dias Ferreira.

O orador saíu d'esse governo, porque assim lh'o indicou a sua consciencia; não quiz transigir na questão do convenio.

Esse governo teve diante de si muitas dificuldades, e fez o que outros governos não têem feito; resolveu grande parte das difficuldades que opprimiam o paiz, e, graças aos seus esforços, produziu alguns elementos de riqueza.

A nação soube manter-se tambem á altura do patriotismo e acatou esse governo que lhe pediu os impostos de que necessitava para a salvação publica.

O orador lê em seguida a sua moção de ordem.

Entende que no paiz ha recursos suficientes para se pagar aos credores tudo quanto se lhes deve, mas é preciso que nas despezas publicas se façam as reducções que as circumstancias reclamam e que o systema tributario se reforme.

O orçamento tambem devia ser apresentado de fórma que se podesse estudar.

Salienta a riqueza que póde provir das nossas colonias, que tão mal administrâmos, não sabendo os estrangeiros explicar como é que Portugal, nação onde não tem havido abalos nem incidentes graves que determinassem qualquer modificação nas suas condições politicas ou financeiras, tem levado a situação da fazenda ao estado em que ella se acha.

Põe em relevo a especial posição geographica de Portugal relativamente ao commercio da America com a Europa; as grandes e preciosas vantagens dos nossos 750 kilometros de costa e o successivo augmento da nossa riqueza industrial.

Tudo isto p que pede é uma boa e rigorosa administração, um util aproveitamento das forças productoras do paiz e das colonias e uma vigilante economia nas despezas do estado.

(O discurso na integra será publicado quando s. exa. se dignar rever as notas respectivas.)

Foi lida na mesa, e admittida á discussão, a moção do digno par o sr. visconde de Chancelleiros, apresentada na sessão de 20 do corrente, que é do teor seguinte:

«A camara dos dignos pares do reino, convencida de que a primeira condição para regularisação da fazenda nacional e do restabelecimento do credito publico é a rigorosa e fiel descripção no orçamento do estado de todas as verbas de receita e de todas as despezas que n'elle figuram como encargos, já dos que resultam dos compromissos da nação para com os seus credores, e que o brio e pundonor nacional nos impõe o dever de considerar em primeiro logar, como d'aquelles que são dotação necessaria dos serviços publicos, convida o governo a rever e rectificar o orçamento ultimamente apresentado ao parlamento, subordinando essa revisão ao principio da mais severa economia e ao imperioso dever de, por uma exposição clara e verdadeira da nossa situação financeira, habilitar o parlamento a fiscalisar rigorosamente a applicação dos dinheiros publicos.

Sala da camara dos dignes pares, 20 de agosto de 1897. = Visconde de Chancelleiros.»

O sr. Pereira Dias: - Sr. presidente, mando para a mesa um parecer da commissão de fazenda.

Foi a imprimir.

O sr. Jeronymo Pimentel: - Mando tambem para a mesa um parecer da commissão de fazenda.

Foi a imprimir.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (José Luciano de Castro): - Sr. presidente, eu confesso que nunca, n'esta camara me levantei tão embaraçado para usar da palavra como n'esta occasião.

Pedi a v. exa. que me inscrevesse, unicamente por deferencia para com o digno par e meu distinctissimo amigo o sr. visconde de Chancelleiros, não porque s. exa. me chamasse á auctoria por modo que eu tivesse que dar por parte do governo quaesquer explicações, mas porque s. exa. por mais de uma vez partiu do principio que eu devia tomar a palavra para lhe responder.

O sr. Visconde de Chancelleiros: - É o que dizem os jornaes.

O Orador: - Eu não sou responsavel pelo que os jornaes escrevem, ouvi o digno par e pela sua insistencia entendi dever tomar a palavra, attendendo á muita consideração que lhe ligo.

O sr. Visconde de Chancelleiros: - É demasiada honra para mim.

O Orador: - A um parlamentar tão distincto como o digno par, homem de tanta auctoridade moral e de tanto valor intellectual, é sempre honroso ter ensejo para se replicar ou responder.

A camara, porém, me desculpará de eu prender a sua attenção por alguns momentos, mas faço-o, como disse, por simples deferencia para com o digno par e meu illustradissimo amigo o sr. visconde de Chancelleiros, e não porque s. exa. emittisse opiniões ou dirigisse accusações ao governo, ou fizesse recaír a sua critica sobre actos do ministerio.

S. exa., porém, divagou por tal maneira, forrageou por tantos campos, passeou por tal fórma a sua imaginação por tantos e tão variados assumptos, deleitou tanto a camara com os primores da sua original e distinctissima eloquencia, que todos nós o ouvimos absortos, admirados, diante de tão notavel facundia e da extraordinaria facilidade com que s. exa. versa ao mesmo tempo as mais intrincadas, e diversas questões; mas, francamente, ao cabo