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SESSÃO DE 31 DE MATO DE 1887 309

Então não foi lá a propaganda, mas sim um digno imitador de S. Francisco Xavier, um portuguez, o veneravel José Vaz; natural de Goa, que novamente a conquistou á heresia, para a jurisdicção do padroado.

O veneravel José Vaz vestindo-se como os chingalezes, porque nas missões é permittido usar os vestidos proprios da localidade, introduziu-se em Ceylão, formando a congregação de missionarios que lá estiveram até 183o em que um breve de Roma acabou com a missão portugueza.

Mas os chingalezes não perderam o amor a Portugal, e terceira vez voltaram á jurisdicção do padroado.

O cônsul então de Portugal em Ceylão, apesar de não ser portuguez, offereceu a sua casa para ahi se estabelecer uma capella, e terceira vez os missionarios portugueze voltaram a Ceylão.

Precisava dar esta explicação para se saber quaes os serviços que os nossos missionarios têem prestado no oriente.

O vigario apostolico de Verapoly, como eu já aqui referi, não póde ir visitar-me e já disse a rasão por que elle não foi.

Quando entendi que devia ir pagar a visita de cortezia e boa fraternidade ao vigario, apostolico de Verapoly, fui convidado para me dirigir á igreja de Vaipin e dar a benção aos christãos.

O vigario apostolico de Verapoly, á jurisdicção do qual pertencia a igreja de Vaipim, não procedeu como o vigario apostolico de Ceylão, cujo caso aqui mencionei outro dia permittiu que eu fosse áquella igreja, apesar d'ella pertencer á sua jurisdicção.

Acceitei, pois, o convite, usei da licença e dei a benção pastoral aos christãos. Porém no meio da ceremonia levantou-se grande tumulto entre o povo. Percebi que pretendiam passar a vias de facto e acabei com tudo e retirei-me. Porque seria isto? Porque haveria esta desordem? Quaes os motivos porque assim procediam aquelles christãos, tendo-me convidado para ir á sua igreja? Era por odio a mim?

Não era certamente.

Vou expor á camara o motivo d'aquelle tumulto.

Quando saiu de Goa monsenhor Sabba, com quem estive sempre nas melhores relações, porque elle não só era um homem intelligente, mas o seu coração era formado conforme ao coração de Deus; quando monsenhor Sabba saiude Goa, da minha residencia, onde se demorou por mais de quarenta dias; passou por Mangalor e foi hospedar-se em Verapoly, e então poude observar que os christãos de quasi todas as igrejas da propaganda queriam passar para a jurisdicção do prelado de Goa. Assentou que tinha auctoridade para o consentir, e deu um decreto ou provisão determinando que as igrejas que quizessem passar para a jurisdicção de Goa poderiam fazel-o no espaço de oito dias.

Tal foi o contentamento, o enthusiasmo, que quasi todas as igrejas da propaganda pediram transferencia para essa jurisdicção!!!

Vaipim tambem quiz passar, mas já não foi a tempo, porque, ao fim de dois dias, em vez de oito, monsenhor Sabba viu-se obrigado a revogar o seu decreto!!!!

A noticia d'este decreto foi levada a Roma e de lá veiu para monsenhor Sabba uma reprehensão tão áspera, que deu causa á sua morte.

Não morreu envenenado. Isso é uma calumnia que levantaram á propaganda é a propaganda não precisa ser caluniniada. Monsenhor Sabba morreu de desgosto por ter adoptado áquella medida, que elle, na sua intelligencia e na sua consciencia, entendia que devia dar bons resultados.

Faça se agora o mesmo. Proponha-se á Santa Sé que se deixem ir para a jurisdicção do nosso padroado aquelles que assina desejem, e que vão para a propaganda os que não quizerem estar sujeitos á nossa jurisdicção. (Apoiados.)

Faça-se esta proposta á Santa Sé, que ella não deve recusal-a, porque é uma proposta liberal e judiciosa, uma, proposta que, deixem-me assim dizer, póde levar a paz e a harmonia a todos os christãos do oriente. (Muitos apoiados.) E eu dou, não a minha cabeça porque como christao não a posso dar, mas pela minha honra affirmo, que se este alvitre fosse adoptado, haviam de melhorar, e muito, as circumstancias em que se encontra o nosso padroado. Ainda ha pouco, sr. presidente, lendo eu um trecho de um officio que o sr. Mártens Ferrão dirigiu ao sr. ministro dos negocios estrangeiros, fiz ver á camara que o nosso embaixador em Roma não só presumia, mas presentia que uma nação estrangeira queria metter-se neste negocio da concordata, e que portanto era necessario proceder com muita cautela para não perdermos aquillo que já tinhamos quasi ganho. Essa nação, porque o não havemos de dizer? Não póde ser outra senão a Inglaterra.

A Inglaterra não consentia já a nossa antiga gerarchia?!!

Pois Portugal não tinha na India uma gerarchia historica, completa, perfeita, e canonica?

Certamente. O arcebispo de Goa tinha os seus suffraganeos, que eram os bispos de Cochim, de Madrasta, de Malaca e de Macau. (Apoiados.)

Pois se já existia uma gerarchia para que era necessario estabelecer de novo uma outra? (Apoiados.}

Sr. presidente, a respeito do ponto a que me estou referindo, não valham só as minhas palavras, valham tambem os factos que vou apresentar, occorridos em diversas paragens que eu percorri.

Antes, porém, de proseguir devo dizer que o governo inglez tratou-me sempre não só bem mas com particular distincção.

O governador geral de Calcuttá deu-me duas audiencias, e offereceu-me um jantar que foi de cem talheres.

Ha em Calcuttá duas igrejas principaes, a de Mariatá que já foi nossa e hoje está em poder da propaganda, e a de Boitckanah que é nossa.

Nas proximidades da cidade havia um terreno que servia de cemiterio para os christãos da jurisdicção do padroado, e o governo inglez precisou de parte d'esse terreno para a passagem de um caminho de ferro.

Mandou-se avaliar o terreno, e depois de executada esta ordem, tratava-se de recebei o preço da avaliação.

A propaganda tendo noticia d'esta expropriação levantou contestação perante o governador de Calcuttá; allegando que os bens pertencentes ás igrejas são do Papa, e que achando-se a nossa igreja de Boitechanah separada da communhão do Papa pelo scisma, como elles diziam, o producto d'aquella expropriação devia pertencer á propaganda.

Em vista d'esta contestação, e para regular outros negocios da missão, que é riquissima, julguei indispensavel ir a Calcuttá, e deixem-me dizer, que nas minhas visitas ao padroado fiz todas as despezas á minha custa, e só tive um pequeno auxilio das missões porque do governo não recebi nem um só real.

E aproveitarei esta opportunidade para referir á camara o seguinte facto.

Quando fui a Calcuttá pedi ao governo uma subvenção porque não podia fazer unicamente a expensas minhas uma viagem tão grande e tão dispendiosa. O governo mandou que me fosse abonada uma certa quantia diaria, mas o governador quando lhe dei parte da minha partida para Calcuttá, tendo já conhecimento da ordem do governo, não me perguntou se eu precisava de dinheiro para as despezas da viagem.

Fiz a viagem, e depois quando regressei a Goa dei parte ao governador da minha chegada e tambem elle me não disse cousa alguma a tal respeito.

Mais tarde, quando um missionario que tinha sido mandado de Portugal se me queixou amargamente de que não recebia a sua congrua, eu escrevi ao governador e disse-