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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 310

lhe: que não me admirava que eu não tivesse recebido o subsidio pecuniario que me tinha sido mandado abonar pelo governo de Sua Magestade, nem eu mesmo me queixara d'isso, porque as minhas circumstancias eram outras, mas que me parecia indispensavel que promptamente se pagasse ao missionario, porque elle não tinha outros recursos senão a sua pequena congrua, e se s. exa. o não fizesse, eu daria parte ao governo de Sua Magestade.

O governador então respondeu-me que mandaria immediatamente pagar ao missionario, e abonar-me a subvenção da minha viagem.

Respondi ao governador que quanto a mim já era tarde, porque eu já tinha offerecido ao estado toda a importancia d'essa subvenção.

O sr. ministro dos negocios estrangeiros que tambem a é da marinha ha de encontrar este meu officio na sua secretaria, assim como a portaria de acceitação d'essa quantia.

Eu dei essa quantia que era de 1:000$000 a 2:000$000 réis para as obras da capella do paço episcopal, que então se projectava edificar no Campal, proximo de Pangim, mas até hoje, nem obras, nem capella, nem dinheiro, nem cousa nenhuma!

Mas vamos á igreja de Boiteckanah.

O governador geral da India ingleza, em vista da exigencia da propaganda, mandou ouvir o nosso missionario que era o superior da missão.

Expoz, elle, as suas rasões perante o governador e escreveu pedindo-me muito encarecidamente que fosse eu a Calcuttá, porque se não fosse estava tudo perdido. E eu segui immediatamente para aquella cidade.

Tive, como já disse, duas audiencias do governador geral, e na segunda tratei este negocio e tão prompta e favoravelmente foi resolvido, que passados oito dias recebi todo o producto da expropriação d'aquelle terreno e tambem todos os juros prefazendo tudo 7:000 a 8:000 rupias. Assim é que o governo inglez sabe fazer justiça. Na audiencia que tive com o governador perguntou-mo elle porque ha estas dissenções entre os catholicos sendo o Papa o chefe de todos elles?

Respondi: Todos os prelados catholicos têem diocese ou territorio separado e distincto em que governam os bens da igreja e provêem independentemente ás necessidades d'ella. Mas o Papa governa sobre todos elles.

Darei a v. exa. este exemplo.

V. exa. não é o governador geral da India? É. Mas os governadores de Madrasta, de Bombaim e outros não governam tambem as suas provincias? Governam. Pois v. exa. governa sobre elles todos. Assim é o Papa.

Referirei á camara ainda um outro facto e que se deu em S. Miguel de Mahim, na ilha de Salsete.

Esta igreja tinha uma bella horta. Ora, nas igrejas do nosso padroado tem se estabelecido uma especie de juntas de parochia ou procuradores, e estes procuradores são os que zelam e administram os bens das igrejas.

Um d'estes procuradores (não quero dizer o nome porque talvez seja conhecido) fez com que a junta pozesse em venda a horta e mancommunou-se com outro individuo para este a comprar e depois trespassar-lh'a.

A junta auctorisou a venda, e a horta vendeu-se por um preço muito diminuto.

O procurador que primeiro tinha combinado o trespasse da propriedade exigiu-a do comprador, porém, este não lha quiz entregar, e então o mesmo procurador despeitado pelo logro que lhe tinha sido feito, requereu a nullidade da venda por ter sido feita por um preço muito baixo e com grande prejuizo da igreja. D'aqui seguiu-se um pleito.

Sabe v. exa. o que o governador fez?

Consultou o arcebispo.

Mandaram-me a consulta, e eu declarei que não sabia da venda nem tinha consentido n'ella.

De tudo isto resultou rescindir-se a venda e a propriedade voltar outra vez para a igreja.

Eu pergunto: não é isto reconhecer de um certo modo o padroado? (Apoiados.)

Pois quem reconhece as auctoridades do padroado, não reconhece o proprio padroado? Eu creio que sim. (Apoiados.)

Visitei tambem o governador inglez de Bombaim, elle recebeu-me e até me convidou para um jantar que eu acceitei.

Não visitei o governador de Madrasta porque elle não estava n'aquella cidade; visitei o governador de Ceylão, que me recebeu com todas as honras que elle entendeu me devia dar.

Visitei duas vezes o governador de Calcuttá e não só me recebeu, mas tambem me fez promptamente a justiça que eu lhe pedi, como já disse.

Sr. presidente, eu não sei que mais podesse fazer em meu obsequio o governo inglez, em Hogoly, onde está o melhor estabelecimento religioso portuguez, a ponto de que quando eu passava, a guarda e especialmente a de policia chamava ás armas e apresentava-as.

Recebi todas as manifestações de boa vontade do governo inglez.

Antes da guerra dos Cipais os inglezes davam pouca consideração aos christãos do padroado, mas depois d'aquella guerra terrivel em que se praticaram as maiores crueldades, e como os christãos, especialmente os do padroado, se uniram ao governo inglez e o auxiliaram, elle começou a admittil-os nas suas repartições com a maior boa vontade.

Ainda referirei á camara um outro facto, acontecido na igreja de Raiporão que geralmente não é sabido.

Esta igreja veio agora para a jurisdição do padroado, e não estava n'ella por causa do statu quo.

Quando cheguei a Madrasta vieram os christãos dizer-me que tomasse conta d'aquella igreja, porque era minha.

Indaguei o que havia com respeito á igreja de Raiporão e vi que parte dos christãos que pertenciam aquella localidade eram da propaganda.

Tinham elles chegado a um accordo e resolveram que se fizesse o mesmo que se fez com a igreja de S. Miguel de Mahim; procedendo-se a uma votação e aquelles que tivessem maior numero de votos é que ficariam com ella.

Assim se fez, e a votação foi a nosso favor. Mas que fez a propaganda?

Não entregou a igreja e disse que ia para os tribunaes, e depois ficaram as cousas assim, em virtude do statu que da concordata de 1857.

Tambem, sr. presidente, alguem tem dito que o padroado no oriente se devia abandonar, porque não tinha grande importancia nem nós tinhamos meios para o sustentar.

Sr. presidente, eu não sei qual a resposta que deva dar. E uma opinião isolada que não merece resposta alguma e o melhor é não responder.

Tem-se dito igualmente que era melhor que os nossos missionarios, se os tivéssemos, fossem para a Africa, em vez de irem para a Asia. Valha-me Deus! com esta lembrança.

Disse hontem um digno par que a Asia é o passado, e a Africa o futuro, e que, portanto, deixemos o passado. Eu penso o contrario.

Quando me transferiram, contra minha vontade do bispado de Cabo Verde, onde não cheguei a ir, para Goa, a unica consolação que eu tive foi a de achar ali materia prima para formar uma igreja. E na Africa haverá a materia prima? Na Ásia é verdade que encontramos uma civilisação atrazada, mas emfim uma civilisação, que não ha na Africa.

Eu tambem digo que mandem missionarios para a Africa, mas sem esperança de colherem um grande resultado.